O Porto aqui tão perto
· 06 Jun 2013 · 00:14 ·
Ao contrário daquilo que alguns possam cegamente afirmar, nem tudo é melhor no Porto. Mas há algumas coisas que confirmam a desbocada afirmação, sim. E nem sequer vamos falar das francesinhas do Bufete Fase, das sandes de pernil da Casa Guedes, das sandes de presunto da Badalhoca, etc.
Ao longo da última década a cena jazz portuense tem vindo a afirmar-se, especialmente através de um conjunto de músicos ligados à licenciatura de jazz da ESMAE e/ou da Orquestra Jazz de Matosinhos. Estes dois pólos culturais terão sido, cada um à sua medida, fundamentais para a florescimento de um grupo de músicos que, além de muitas ideias musicais, mostram um raro poder de iniciativa.
Alguns desses músicos resolveram juntar-se e fundaram a Associação Porta-Jazz. Primeiro revelada através de um festival, que funcionou como apresentação ao grande público; e depois organizando concertos, criando um circuito alternativo, promovendo a criação de públicos. Agora a Porta-Jazz, auto-intitulada Associação de Músicos de Jazz no Porto, criou uma vertente discográfica, o “Carimbo Porta-Jazz”, que se dedica à edição.
Tendo a Associação nascido em 2010, o “Carimbo” surgiu em meados do ano passado. Apesar de estar ainda em início de actividade, contando até ao momento com apenas quatro álbuns editados, esta label já se conseguiu demarcar da concorrência pela diferença.
Essa diferença é assinalada desde logo pela qualidade das edições, nomeadamente ao nível do “packaging” – apesar de se tratar de cds, estes são encaixotados em embalagens cartonadas de dimensão aproximada às de singles de vinil. O tratamento gráfico das edições é também de realce e, apesar de não se perceber para já uma linha gráfica comum, cada edição merece um tratamento especial.
A primeira edição, Aljamia, foi dedicada ao Coreto Porta-Jazz, ensemble representativo da Associação e da própria cena local, que reúne 11 músicos radicados no Porto. Seguiu-se Clepsydra de José Pedro Coelho, um dos mais promissores saxofonistas nacionais; a terceira edição pertence a Miguel Moreira, guitarrista, com Câmbio; Rui Teixeira, saxofonista da OJM, lançou o último Tu Não Danças; e o “Carimbo” prepara-se para lançar o registo de estreia dos Baba Mongol (que junta vários dos participantes dos discos anteriores).
Essa primeira edição, Aljamia do Coreto Porta-Jazz, revela um colectivo disciplinado, numa interpretação polida dos seis temas originais - todos saídos da pena de João Pedro Brandão. Os arranjos, têm em conta a integração de todos os instrumentistas (onze!), uma tarefa com elevado grau de complexidade, mas a música acaba por fluir com naturalidade.
Já o álbum de José Pedro Coelho reúne um grupo mais compacto, um quinteto. Para este seu álbum de estreia na condição de líder o saxofonista escolheu uma secção rítmica potente: Demian Cabaud no contrabaixo, Marcos Cavaleiro na bateria. Junta-se o piano de Hugo Raro, a guitarra de Miguel Moreira e o saxofone tenor do líder da formação, Coelho (que além do sax tenor ainda se serve também do clarinete baixo). Também aqui há muita atenção às composições (de Coelho), mas estas acabam por se revelar mais directas e abrem mais espaço para as intervenções individuais dos instrumentistas. O saxofone acaba por ser quem mais se destaca, com solos de grande fulgor e fraseados de delicada imaginação.
Também o saxofonista Rui Teixeira se faz acompanhar no seu disco de estreia por um quinteto. Com o disco anterior, partilha Marcos Cavaleiro na bateria e Hugo Raro no piano. Já a guitarra vai para Vasco Agostinho e o contrabaixo é alternado entre António Aguiar (em 7 músicas do disco) e José Carlos Barbosa (em 3 temas). A composição é da responsabilidade de Teixeira, que aposta em soluções que fomentam a intervenção dos companheiros. Tal como alguns dos integrantes do grupo, este álbum partilha com o anterior a qualidade dos solos. Este disco conta ainda com um momento atípico, um tema cantado, em inglês, lá pelo meio do alinhamento – surpreende, mas que acaba por funcionar agradavelmente.
Estes três discos são exemplos do óptimo trabalho que o Carimbo Porta-Jazz vem desenvolvendo e promete continuar durante os próximos tempos. Neste tempo de permantentes cortes, austeridade e desilusão, é bom ver que ainda há quem tenha capacidade de sonhar. E realizar esses sonhos continua a ser possível, seja no Porto ou noutro lado qualquer.
Nuno CatarinoAo longo da última década a cena jazz portuense tem vindo a afirmar-se, especialmente através de um conjunto de músicos ligados à licenciatura de jazz da ESMAE e/ou da Orquestra Jazz de Matosinhos. Estes dois pólos culturais terão sido, cada um à sua medida, fundamentais para a florescimento de um grupo de músicos que, além de muitas ideias musicais, mostram um raro poder de iniciativa.
Alguns desses músicos resolveram juntar-se e fundaram a Associação Porta-Jazz. Primeiro revelada através de um festival, que funcionou como apresentação ao grande público; e depois organizando concertos, criando um circuito alternativo, promovendo a criação de públicos. Agora a Porta-Jazz, auto-intitulada Associação de Músicos de Jazz no Porto, criou uma vertente discográfica, o “Carimbo Porta-Jazz”, que se dedica à edição.
Tendo a Associação nascido em 2010, o “Carimbo” surgiu em meados do ano passado. Apesar de estar ainda em início de actividade, contando até ao momento com apenas quatro álbuns editados, esta label já se conseguiu demarcar da concorrência pela diferença.
Essa diferença é assinalada desde logo pela qualidade das edições, nomeadamente ao nível do “packaging” – apesar de se tratar de cds, estes são encaixotados em embalagens cartonadas de dimensão aproximada às de singles de vinil. O tratamento gráfico das edições é também de realce e, apesar de não se perceber para já uma linha gráfica comum, cada edição merece um tratamento especial.
A primeira edição, Aljamia, foi dedicada ao Coreto Porta-Jazz, ensemble representativo da Associação e da própria cena local, que reúne 11 músicos radicados no Porto. Seguiu-se Clepsydra de José Pedro Coelho, um dos mais promissores saxofonistas nacionais; a terceira edição pertence a Miguel Moreira, guitarrista, com Câmbio; Rui Teixeira, saxofonista da OJM, lançou o último Tu Não Danças; e o “Carimbo” prepara-se para lançar o registo de estreia dos Baba Mongol (que junta vários dos participantes dos discos anteriores).
Essa primeira edição, Aljamia do Coreto Porta-Jazz, revela um colectivo disciplinado, numa interpretação polida dos seis temas originais - todos saídos da pena de João Pedro Brandão. Os arranjos, têm em conta a integração de todos os instrumentistas (onze!), uma tarefa com elevado grau de complexidade, mas a música acaba por fluir com naturalidade.
Já o álbum de José Pedro Coelho reúne um grupo mais compacto, um quinteto. Para este seu álbum de estreia na condição de líder o saxofonista escolheu uma secção rítmica potente: Demian Cabaud no contrabaixo, Marcos Cavaleiro na bateria. Junta-se o piano de Hugo Raro, a guitarra de Miguel Moreira e o saxofone tenor do líder da formação, Coelho (que além do sax tenor ainda se serve também do clarinete baixo). Também aqui há muita atenção às composições (de Coelho), mas estas acabam por se revelar mais directas e abrem mais espaço para as intervenções individuais dos instrumentistas. O saxofone acaba por ser quem mais se destaca, com solos de grande fulgor e fraseados de delicada imaginação.
Também o saxofonista Rui Teixeira se faz acompanhar no seu disco de estreia por um quinteto. Com o disco anterior, partilha Marcos Cavaleiro na bateria e Hugo Raro no piano. Já a guitarra vai para Vasco Agostinho e o contrabaixo é alternado entre António Aguiar (em 7 músicas do disco) e José Carlos Barbosa (em 3 temas). A composição é da responsabilidade de Teixeira, que aposta em soluções que fomentam a intervenção dos companheiros. Tal como alguns dos integrantes do grupo, este álbum partilha com o anterior a qualidade dos solos. Este disco conta ainda com um momento atípico, um tema cantado, em inglês, lá pelo meio do alinhamento – surpreende, mas que acaba por funcionar agradavelmente.
Estes três discos são exemplos do óptimo trabalho que o Carimbo Porta-Jazz vem desenvolvendo e promete continuar durante os próximos tempos. Neste tempo de permantentes cortes, austeridade e desilusão, é bom ver que ainda há quem tenha capacidade de sonhar. E realizar esses sonhos continua a ser possível, seja no Porto ou noutro lado qualquer.
nunocatarino@gmail.com