Os 10 lançamentos mais esperados até ao fim de 2011
· 09 Out 2011 · 01:30 ·
Ainda agora o Verão se prepara para terminar e já 2011 se aproxima vertiginosa e rapidamente do seu final, obrigando aos primeiros exercícios de balanços e contas. Até porque, não tarda, arranca a febre das listas e dos topes e convém ter todos os argumentos em cima da mesa antes de se tomar grandes decisões. Mas porque ainda há três meses pela frente, e o mundo discográfico é coisa que não pára nem um segundo, achamos por bem deixar o mundo saber quais são os nossos 10 discos mais esperados até ao final deste ano e, na medida do possível, antecipar o que se poderá ouvir em cada um deles, dependendo, claro está, do grau de acesso disponível para cada um deles. Sem quer saber demasiado. Afinal de contas a incerteza e a curiosidade são coisas que alimentam o Homem. Uma coisa é certa: até ao final de 2011, há uma porrada de discos prometedores pelo caminho. Se um destes discos acabar nas vossas listagens de melhores discos do ano, digam a toda a gente que vieram daqui. AG

© Angela Costa


 

 

Atlas Sound
Parallax
4AD


O magnífico Logos vai ter um sucessor oficial. Chega em pleno Outono mas algumas das suas melodias já correm neste verão como vento sobre as folhas da imaginação. Anunciado a 24 de Agosto, Parallax aponta uma Terra Incognita canção trunfo que nos baralha a mente, partida a meio entre dois tipos de beleza, uma mais lo-fi, suave e sensualmente acústica para depois saltar "pa-pa-pa" etérea do resto do fim da canção que nos leva imersos a mares antes navegados, sim, a terra já conhecida e pisada por nós antes em sua companhia, ou não fosse Bradford um mestre da redenção etérea. Mas este éter não soa directamente a Atlas Sound, há aqui incenso aroma de Deerhunter, no fundo há aqui Bradfordéter. Outra pista para resolver o mistério de um possível melhor disco de 2011 é "Te Amo", antes "Untitled" no seu Bedroom Databank, generosamente oferecido no seu blogue oficial. É uma canção espectro, espelho de uma condição que no reflexo é nossa, porque ao ouvir esta canção quem a ama somos nós. A capa, se acabar por ser mesmo escolhida a que já se difunde por aí, é uma foto de Brad pelo "The Man Who Shot the Seventies" Mick Rock, artista por detrás das fotos, entre outros, de Iggy Pop na capa do Raw Power, de Lou Reed em Transformer e do malogrado Syd Barrett em The Madcap Laughs. Iggy, Lou, Syd, Bradford. Se este disco estiver à altura de tanta promessa, é caso para dizer que cada vez soa menos estranho um novo gigante entre gigantes incontornáveis. Nuno Leal


 

 

Bardo Pond + Tom Carter
Three Lobed Recordings


Sete anos depois, esta é uma reedição pela qual vale a pena esperar. Um disco duplo acrescido de um cd ao vivo, dos quais consta uma colaboração dos músicos mais exímios no engonhanço psicadélico. A Three Lobed Recordings pretende assim mostrar outtakes (anunciados como “novas gravações nunca editadasâ€, pois... ) de uma gravação a que Tom Carter ( Charalambides ) se acresce aos Bardo Pond – e correr o risco: ou vai chover no molhado, e entediar o ouvinte ( lembremo-nos da seca que foi LSD Pond, que colou com cuspo os March aos Bardo ). Na verdade, se pudermos ouvir mais uma gravação em que os solos estapafúrdios de Carter se sobrepõem aos e-bows siameses da banda, em que o thump pedrado do costume dá lugar a plananços de slide e onomatopeias kosmische, e em que descansamos da voz de Isobel Sollenberger para ter tempo para pensar no Som – isso é bom. Esperamos nós, até ao fim deste ano. Filipe Felizardo


 

 

Buraka Som Sistema
Komba
Enchufada


Quando eu era jovem, a música era muito melhor. Os filmes também. E o mundo já agora. Tudo tinha mais importância. Não é como agora. Hoje tudo é mau e fraco e, sinceramente, não tem o mesmo valor de antes. Os miúdos não querem saber de nada. Na altura ficávamos anos à espera de um gajo e, logo que saísse, íamos comprá-lo. Éramos superiores aos miúdos que hoje entram no Facebook e põem a máscara da identidade virtual deles e nem sequer chegam a saborear bem a música. Os concertos também eram vividos mais intensamente. O passado é que era bom, o presente não. Estou a gozar. Odeio esse pensamento. O passado não era melhor nem pior, era diferente. A maior parte das pessoas que escreve textos sobre isso não terá qualquer capacidade para apreciar Komba. É provável que nem todas as malhas valham, mas tenho a certeza absoluta de que quase uma mão cheia delas valerão como o caraças e serão incríveis. Dançar é preciso, foda-se, ontem, hoje e amanhã. Rodrigo Nogueira


 

 

Matthew Herbert
One Pig
Accidental Records


O nosso bom Herbert, especialista maior do sampling (de cognome), aguardou e fez-nos aguardar, mas enfim, sempre se deve ter dado a matança do porco. Tudo isto porque está para chegar One Pig, o último disco integrado numa trilogia que nos trouxe, além das habituais danças esquizofréncias e ritmicamente quebradas em One Club (2010), um Herbert substancialmente diferente dos registos anteriores, tendo dado a própria voz em One One, sublime obra viajante em torno de várias cidades deste mundo – o nosso bom Porto incluído. A ideia nasceu em 2008, quando o músico anunciou que um belo porco, escolhido a dedo, estava para nascer, crescer, morrer, ser cortado em pedaços e vendido ao público, em que todos os sons da famigerada vida do suíno seriam convertidos num disco. 24 semanas de captação e, imaginamos, ainda um bom período de dissecação. Porcaria de disco, pensam vocês, mas nós grunhimos de desejo. Simão Martins


 

 

PAUS
Paus
Enchufada


O longa-duração de estreia de PAUS é uma das edições mais aguardadas desta rentrée por várias razões. Desde logo porque o EP É Uma Ãgua deixou muita gente de saliva na boca, pela originalidade de temas como “Lupiter Deacon†e pela forma como as composições foram crescendo ao vivo. Quem já viu actuações de PAUS (a sessão “Só Desta Vez†em que convidaram os DJs Riot – de Buraka Som Sistema – e Ride terá sido um dos grandes concertos de 2010) pode comprová-lo. E um dos factores que aguçam a curiosidade para este álbum prende-se com o que ficou escrito atrás: em que medida a rodagem de palco influenciou o som da banda da bateria siamesa, do baixo maior que o défice da Grécia e dos teclados que nos fazem sentir coisas? Pelas pistas lançadas – em temas como “Salsa Galáctica†ou “Deixa-me Ser†–, continuarão a aprofundar os pilares que fortificam o seu som, rara alquimia de ritmo, rock e electrónica; mas haverá lugar a novidades, tanto ao nível instrumental como das vocalizações. Hugo Rocha Pereira


 

 

Side A
A New Margin
Clean Feed


Este é o novo projecto do imparável saxofonista Ken Vandermark. Com este projecto editado através da label lusa Clean Feed o músico mais trabalhador de Chicago vai acrescentar mais um volume à sua incrivelmente longa (e diversa) discografia. Reunindo Vandermark (saxofone tenor), Håvard Wiik (piano) e Chad Taylor (bateria), este trio Side A promete um jazz enérgico, que bebe na tradição (raíz hardbop) e tem vontade de se dirigir para caminhos livres. Este disco foi gravado ao vivo em Portugal há cerca de um ano atrás, numa pequena tour nacional que passou pelo SeixalJazz e por Portalegre, e logo na altura tivemos a oportunidade de sentir a força imensa daquela música: composições sólidas transformadas com o engenho e vigor de Vandermark, com a criativa exploração de Wiik e a estabilidade rítmica de Taylor. Se o disco reproduzir com fidelidade aquilo que vimos nos Antigos Refeitórios da Mundet no Seixal, em Outubro de 2010, teremos aqui uma bomba. Nuno Catarino


 

 

The Stepkids
The Stepkids
Stones Throw


Há meses que Gilles Peterson se enamorou por eles. E não é de estranhar porque existe algo de intrínseco e genuíno na forma como se apresentam. São um trio discreto e desconhecido (Tim Walsh, Jeff Gitelman, Dan Edinberg) que apenas este ano ganhou coragem para investir todas as suas energias no seu próprio projecto; até agora têm apenas editado dois EPs (Legend In My Own Mind e Shadows On Behalf) através dá sempre disponível e atenta Stones Throw. Ambos os trabalhos datam de 2011 e ambos passaram incrivelmente despercebidos a muito boa gente. Nada estranhos entre si, The Stepkids conhecem-se desde a adolescência, tendo, como grupo de bons amigos interessados em música, crescido para a maturidade influenciados pelo mais ecléctico jazz e o r&b da east coast americana. O colectivo permite-se neste momento ter alguns créditos válidos pela experiência que foram adquirindo; no curriculum contam-se colaborações em espectáculos ao vivo com grandes figuras da pop como Alicia Keys, 50 Cent, Lauryn Hill ou os Zox. Com o álbum homónimo debutante pronto a ser editado (brevemente, com o óbvio selo da Stones Throw), aposta-se que não ficarão no anonimato durante muito mais tempo. "Shadows On Behalf" e especialmente o belíssimo e intrigante "La La" já deixaram claro o que se prepara para ser revelado ao mundo: uma invulgar mistura psicadélica de pop vintage, rock, jazz, soul, funk e electrónica. Outras entusiasmantes amostras de The Stepkids têm surgido por aí, tudo levando a crer que a surpresa será bem agradável. É no que acreditamos convictamente. Rafael Santos


 

 

Oneohtrix Point Never
Replica
Software


Com James Ferraro, Daniel Lopatin (Oneohtrix Point Never) pôs a agenda pós-noise na ordem do dia. Como Ferraro, Lopatin sai de um contexto noise para se instalar no centro da vaga de reenquadramento de materiais malditos, como a pop mais oleosa dos anos 80 (é o que faz nos Ford & Lopatin) e a new age, redescoberta como matéria de sonho. Impressionou com Rifts (2009), compilação de lançamentos anteriores, e abriu novos caminhos para o seu trabalho em Returnal (disco de 2010 que o levaria a trabalhar com Antony num 7'' posterior). Em Novembro, chega Replica, que promete ser um "ciclo de canções baseadas em áudio lo-fi encontrado em compilações de anúncios de televisão". "Sleep Dealer", a amostra já disponível, antevê um Lopatin em cirurgias microscópicas em torno deste manancial sonoro, criando utopias a partir de detritos do capitalismo. Diz Lopatin, citado em Retromania, o último livro de Simon Reynolds: "se a música está num período arquivista, não penso que tal seja mau. É apenas natural". Haja alguém que possa fazer do lixo que nos rodeia luxo e Lopatin fá-lo melhor do que todos os outros. Pedro Rios


 

 

Mungolian Jet Set
Schlungs
XXXXXX


E ao terceiro álbum os noruegueses lançam o seu álbum de estreia. Confusos? É a normalidade enviesada dos Mungolian Jet Set. Depois de dois épicos onde as malhas originais coabitavam com as remisturas que os tornaram reconhecidos sem que se desse muito pela diferença, dada a idiossincrasia do duo, Schlungs será o seu primeiro trabalho composto exclusivamente por criações próprias. No site da banda podem-se já ouvir snippets das oito canções, e pela amostra não restam grandes dúvidas de que será, muito provavelmente e como lhes é habitual, um objecto de definição difusa. Com todos os desvios possíveis a uma norma algures entre o frenesim de Rooty, o psicadelismo de Adventures Beyond the Ultraworld e o balanço disco característico da Smalltown Supersound, Schlungs tem o dom de açambarcar tudo isso sobre uma manta de excentricidade tão pop quanto prog, sem soar tentativo ou insuflado. Dia 12 de Outubro saberemos se a ambição não terá sido demasiado grande. Bruno Silva


 

 

Justice
Audio, Video, Disco
Ed Banger

Existem duas razões para se aguardar o disco da dupla francesa com alguma expectativa. A primeira é o interesse mórbido em saber se vão sucumbir perante a “síndrome do segundo disco†e transformar em desilusão os quatro anos de espera pelo sucessor de Cross; a segunda é, naturalmente, o facto de serem uma das melhores duplas da vaga electro house da década passada e criadores de malhas tão infecciosas quanto dançáveis – casos de “D.A.N.C.E†ou “DVNOâ€. Aqueles a quem um dia chamaram legítimos sucessores dos Daft Punk (como se estes tivessem desaparecido) lançarão Audio, Video, Disco no final de Outubro, já por aí rodando dois singles de avanço, “Civilization†e o tema homónimo que encerrará o LP. Eles podem ter-se referido ao disco como “música diurnaâ€, ao contrário de Cross, mas a julgar pelo que se ouviu já temos a certeza de que só numa pista de dança se comprovará se têm ou não razão. Prognóstico: não deverão ter.Paulo Cecílio



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