A Revolução Vai Ser Amplificada
· 25 Abr 2011 · 19:55 ·
© Teresa Ribeiro

O dia 12 de Março foi palco da maior manifestação da minha geração. Abril e Maio são meses com datas marcantes, no panorama nacional (hoje comemora-se a Revolução dos Cravos, embora este ano não haja as habituais comemorações oficiais na Assembleia da República, porque o Parlamento está dissolvido…) e internacional: o 1º de Maio é sinónimo de Dia do Trabalhador desde finais do Século XIX.

O que é que isto tem a ver com música, perguntarão alguns. Bastante, até. A música não serve apenas para bater o pé, entreter e engatar – embora estas facetas já lhe conferissem um papel mais importante do que todos aqueles que Tozé Martinho desempenhou na carreira de actor, com ou sem pullover amarelo pelas costas. A música também alimenta a alma de inquietações e atira constantemente achas para a fogueira das transformações sociais e políticas dos povos e nações. Dos Clash a Gil Scott-Heron, do Hip Hop ao Reggae, passando pelo Jazz, sempre houve músicos que não se limitaram a romper com cânones estéticos e partilharam princípios éticos, mesmo que com isso arriscassem pagar a factura do activismo desalinhado, sendo por vezes detidos pelo sistema que ousaram afrontar. O livro 33 Revolutions Per Minute – A History of Protest Songs, de Dorian Lynskey, está aí para o atestar.

Por isso é que ao "nosso" 25 de Abril se associam as composições de Zeca Afonso ou José Mário Branco; e que a manifestação de 12 de Março foi bastante inspirada (custe a quem custar…) por uma música. A mani-festa acabou por ter uma banda-sonora transversal, à imagem do povo que tomou a rua por um dia: as presenças de Blasted Mechanism, Vitorino, Homens da Luta, Fernando Tordo, Kumpania Algazarra e Rui Veloso cruzaram estilos e fizeram a ponte entre gerações descontentes com o status quo. Entre os dias 25 de Abril e 1 de Maio, a Casa da Música, no Porto, programa o Festival Música & Revolução, onde se inclui a actuação de Ursula Oppens, que tocará ao piano uma peça composta a partir de "O Povo Unido Jamais Será Vencido!", criada pelo chileno Sergio Ortega para o tempo de Salvador Allende e que viria a transformar-se num hino de revoluções um pouco por todo o globo, incluindo no nosso cantinho à beira-mar plantado.

Afinal de contas, isto anda tudo ligado por harmonias destinadas a causar sobressaltos nas consciências mais ou menos adormecidas. O Bodyspace foi saber o que oito ilustres (músicos ou ligados à nossa paixão a esta arte) pensam sobre o papel da música nas transformações sociais e políticas, onde é que estavam no dia 12 de Março e que opinião têm sobre esse dia que acabou por ser replicado, ainda que em menor escala, na vizinha Espanha.

In the end I think of music as saving grace for all humanity — Henry Miller.






Manifestação Geração à Rasca © Tiago Pereira
Hugo Rocha Pereira
hrochapereira@bodyspace.net

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