Por dar a cara a uma canção tão perfeita como “33 1/3” nos Mighty Tiger (devidamente videotecados algures nestas páginas), não resistimos a ir ao encontro de Andy Vaughan para descobrir alguém profundamente apaixonado pela música pop e carregado de bom humor. Batoteiro quanto baste, tratou de escolher um menu que é um misto de canções de sempre (maioritariamente) e outras que resgatou a um quase anonimato (minoritariamente), admitindo para si mesmo alguns prazeres levemente culpados. O alinhamento – já o testamos por aqui – é uma perfeita viagem por alguns dos melhores tiques de escrita de canções da pop, da folk, e de outras maravilhas do século XX. Experimentem saltar de Youtube em Youtube, de LP em LP, de CD em CD, de MP3 em MP3 e não se vão certamente arrepender.
"Die", Carissa’s Wierd: Atravessei um perĂodo de tempo na altura em que estava na universidade na Universidade do Nebraska em que estava totalmente apaixonado por esta banda de Seattle. “Die” Ă© uma das Ăşltimas canções que eles gravaram, do disco ao vivo e de Lados B I before E. O Mat Brooke e a Jenn Ghetto, as figuras principais, cantam sobrepondo linhas durante o verso que converge numa belĂssima harmonia de “die, right now”. É definitivamente uma das minhas justaposições musicais favoritas. Um bĂłnus: ouvir a Ghetto cantar “Promise I’ll make it in that hip-hop video”.
"Only Love Can Break Your Heart", Neil Young: Esta canção Ă© tĂpica do estilo de escrita de canções do Neil Young numa canção que Ă© relativamente simples na sua essĂŞncia, no entanto há muita coisa a acontecer. Adoro a forma como o Neil Young harmoniza com ele prĂłprio naquela voz alta e chilreada que ele tem. A mistura stereo na parte em que ele canta “but only love can break your heart” Ă© simplesmente perfeita. A natureza Ăłbvia mas no entanto elusiva do tema das letras funciona comigo tambĂ©m; certamente ninguĂ©m pode viver o quebrar do coração a nĂŁo ser que já tenha estado apaixonado.
"Satellite of Love", The Velvet Underground / Lou Reed: Adoro ambas as versões dos Velvet e do Transformer desta canção. O Bowie a fazer vozes na versão do Transformer também é um verdadeiro ovo da Páscoa também.
"Feeling Yourself Disintegrate", The Flaming Lips: O Wayne Coyne Ă©, para mim, um dos primeiros praticantes do existencialismo positivo (se Ă© que existe tal coisa) por aĂ, hoje em dia. A sua Ăşltima visĂŁo do universo Ă© ateia, gelada e de certa forma vazia. Mas será que este tipo fica todo sombrio e emo e depressivo? NĂŁo. Em vez disso adverte o ouvinte a valorizar o amor e a vida sob todas as outras coisas. As canções do Wayne lembram-me sempre uma das minhas citações favoritas do Kurt Vonnegut: “There's only one rule that I know of, babies—God damn it, you've got to be kind”.
"And You and I
", Yes: Já Ă© fixe gostar dos Yes de novo? Sou um enorme fĂŁ dos Yes desde que aprendi a tocar baixo nos tempos da escola secundária. Lembro-me de gostar muito dos Primus naquela altura e tinha lido uma entrevista com o Les Claypool em que ele falava do facto do Chris Squire ser uma das suas influĂŞncias principais como baixista por isso achei que devida descobri-los. Fui ouvir o Fragile e nunca mais olhei para trás. Aqueles gajos sĂŁo mesmo mĂşsicos incrĂveis, de fazer explodir a tua cabeça. Na boa, na boa, a melhor banda de rock progressivo de sempre. AlguĂ©m que pensa que os Rush sĂŁo melhores precisa urgentemente de confrontar-se com a realidade. Já agora, façam a vocĂŞs um favor e vĂŁo ouvir a versĂŁo dos Grizzly Bear para a “Owner of a Lonely Heart.”
"Paranoid Android",
Radiohead: Esta canção é tão estranha tanto musicalmente como nas letras. Tem, entre tantas outras grandes canções dos Radiohead, uma forma de automaticamente fazer-me sentir estranho, desconfortável até. Há algo de mesmo muito estranho e especial dentro da cabeça do Thom Yorke. Quero dizer, como é que alguém escreve uma canção como a “Paranoid Android”? Como é que começas sequer? Aparentemente ele disse um dia: "if you can have sex to this one, you’re fucking weird”.
"Abbey Road medley", The Beatles: Vou fazer batota para conseguir enfiar tantas canções dos Beatles quanto possĂvel. O medley no Lado B do Abbey Road vai desde “You Never Give Me Your Money” atĂ© “The End”. As secções mais incrĂveis para mim sĂŁo a “Mean Mr. Mustard” e a “Polythene Pam”. Para vosso conhecimento, tentei mesmo muito nĂŁo incluir os Beatles nesta lista mas nĂŁo podia mesmo permitir a mim mesmo deixá-los de fora.
"Don’t Worry About the Government", Talking Heads: Tive o prazer de ver o David Byrne em Seattle recentemente na fila da frente. Deixem-me que vos diga, este homem é uma entidade singular no universo. Os álbuns dos Talking Heads produzidos pelo Brian Eno são os meus favoritos, mas esta canção do ’77 é fantástica. As canções são bastante o protótipo daquilo que eu penso acerca do David Byrne. Ele parece encontrar alguma coisa profunda nos peões.
"Gotta Get Up", Harry Nilsson: A canção perfeita a abrir o melhor álbum do Nilsson, Nilsson Schmilsson. A voz do Nilsson Ă© muito possivelmente a melhor voz de todo o rock and roll. Já ouviram o alcance dele na versĂŁo dele da “Without You”? Selvagem. De qualquer das formas, os arranjos Ă volta do piano triturado nesta faixa Ă© incrĂvel; ouçam o acordeĂŁo no segundo verso. As letras sĂŁo muito subversivas tambĂ©m: “He’d come to town and then he’d pound her for a couple of days”? Sheesh!
"God Only Knows", Beach Boys: O Paul McCartney está sempre a dizer que esta Ă© a canção favorita dele de todos os tempos e eu estou totalmente com ele nesta. É definitivamente uma daquelas coisas em que a soma Ă© maior do que a totalidade das partes. “God Only Knows” Ă© quase uma propriedade emergente como a consciĂŞncia: há algo de muito real e tangĂvel no seu impacto emocional em muitas pessoas que nĂŁo pode ser explicado pela progressĂŁo de acordes, pelas letras, pelo timbre vocal, etc., mesmo que todas sejam incrĂveis. Continua a ser o protĂłtipo de escrita de canções na minha vida.
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