Colabora com os Real Combo Lisbonense, grupo liderado por João Paulo Feliciano, e pisou o palco ao lado de Samuel Úria, mas é a solo que se tem destacado. Através da label Optimus Discos editou um pequeno EP homónimo, disco de cinco canções que revelam uma voz única, belÃssima. Da mesma forma que um vestido bonito assenta sobre um corpo elegante, aquela voz doce encaixa nas composições melancólicas na perfeição. A música, uma espécie de folk delicada, conquista e embala, com um acompanhamento instrumental simples - apenas uma guitarra acústica, lÃmpida. E chega. Chama-se Márcia e, apostamos, vai ser grande. Num instante escolheu as suas "dez melhores canções de sempre neste preciso momento".
"Comin' Back to Me", Rickie Lee Jones c/ Pat Matheney (original de Jefferson Airplane): Começo com esta porque é uma das mais evidentes para mim. Acho que num qualquer momento daqui a muitos anos esta continuará a ser uma das canções que mais gosto e que cumprem um papel de companhia. Já cá canta há uns anos. É só intensamente bonita.
"Going to California", Led Zeppelin: Sempre que ouvi esta canção imaginei-me a menina de que ele fala... "she plays guitar and cries and sings... lalala..." Querem razão mais evidente? Os Led Zeppelin são um apego antigo mas que, não só resistiu ao tempo, como se intensificou. Ao contrário de outras coisas que ouvia que se tornaram desinteressantes, estes continuam a fazer-me vibrar. É amor.
"My Funny Valentine", Chet Baker: A voz do Chet Baker com o contrabaixo e o piano, exactamente assim. É a versão que eu mais gosto e adoro a voz do Chet Baker porque ele dança à volta das notas, quase parece que cai, e sussurra até lá chegar. É lindo e delicioso.
"Respect", Aretha Franklin: Não há outra canção, que me lembre, que me obrigue assim a dançar. Só por isso, e pelas várias maneiras de cantar "Respect", esta é sem duvida uma das melhores canções de sempre.
"Ain't Got No... I've Got Life", Nina Simone: A Nina Simone é a mulher que sabemos e acho que esta música diz isso mesmo dela. Há outras músicas que ouço, que adoro, que decoro porque não me saem da cabeça... Esta é uma inspiração para todos os dias.
"Then the Letting Go", Bonnie 'Prince' Billy: Este disco esteve uns meses comigo a sós longe deste paÃs, foi aà que nos conhecemos. Esta é a faixa 10. A que repeti várias vezes. A que me dava mais conforto. Estava muito frio e para mim esta música tinha neve, mas lá fora.
"Mysteries", Beth Gibbons & Rustin Man: "God knows how I adore life. When the wind turns on the shore lies another day. I cannot ask for more." Acho que é suficiente citar.
"Eid Ma Clack Shaw", Bill Callahan: Tanta coisa nesta música, não é? Os ambientes, a voz dele, tudo vai de acordo com a lógica onÃrica, com humor e gravidade ao mesmo tempo. É tudo confuso, meio febril, como num sonho numa noite difÃcil. Identifico-me com aquela esperança de ter descoberto a solução impossÃvel num sonho, o ridÃculo desespero de escrever as palavras... uma coisa rebuscada, grande canção.
"Nothing But You and Me", Yo La Tengo: Hipnótica, viciante, linda, simples, irónica, obsessiva.
"The Party", St. Vincent: Talvez desta lista esta seja a mais actual neste preciso momento. Apaixonei-me por todo o álbum, que me foi praticamente impingido por um amigo, e estou-lhe genuinamente grata por me ter dado a conhecer uma figura tão inspiradora, fresca, e com tanto talento e gosto pelo que faz.
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