2002: nem bom nem mau, antes pelo contrário.
· 31 Dez 2002 · 08:00 ·
Sou da opinião que é uma manobra demasiado perigosa, e até impertinente, classificar períodos na música como “fracos†ou “fortesâ€, quando não há uma margem temporal suficientemente segura para que possa ser feita uma análise pertinente e sustentada. Ainda para mais, quando o critério consiste no gosto pessoal. Sendo assim, não farei mais que partilhar experiências, sem preocupações exageradas no sentido de atingir conclusões que não dependerão apenas de mim, da minha opinião e sensibilidade.

2002 foi o ano em que me rendi definitivamente ao hip-hop, incapaz de não ceder a discos como o de DJ Shadow, The Herbaliser, DJ Krush e Jurassic 5, sem esquecer a excelente revelação Mike Skinner, vulgo The Streets. Mais que isso, foi um ano que demonstrou de forma cabal a pujança deste estilo, quer seja na sua forma mais tradicional, ou mesclada com sabores da espécie mais variada. Veja-se as listas de favoritos das mais variadas redacções da imprensa especializada, e procure-se uma em que alguns destes nomes, juntando também EL-P ou RJD2, não estejam representados.

Tom Waits lança dois álbuns em simultâneo, Tori Amos regressa e Beth Gibbons deita cá para fora tudo o que, com os Portishead, não havia arrancado da alma, num daqueles álbuns cuja beleza e melancolia despida de adornos chega a doer, de tão crua.

Num plano mais leve e descomprometido, DJ DSL foi “aquela pérola†que descobri este ano. Contagiosa, inteligente e por vezes hilariante, a melhor música de dança dos últimos tempos, num disco de remisturas para gente como Peter Kruder, editado pela... G-Stone, ora bem.

Cinematic Orchestra e DJ Spooky estão de parabéns pela capacidade de aglutinar e equilibrar esferas diversas na criação dos seus pequenos universos, os gigantes Sonic Youth merecem realce por uma nova (sempre esperada) manifestação de presença, Amon Tobin e Boards of Canada ultrapassaram a ciência e mostraram que o teleporte não é simples utopia.

Bulllet, Elastic Void, Coldfinger e Micro talvez tenham mostrado que não é só empunhando cartazes e gritando palavras de ordem que se salva a música portuguesa. A propósito, salvar QUAL música portuguesa? Não gostaria de assistir a futuras discussões acerca de um possível cenário em que 50% do que passa na rádio são clones nacionais de Christina Aguilera. Não acredito que as quotas resolvam o problema, ou pelo menos o meu problema. O eventual problema dos Delfins, do Axel e dos Polo Norte, talvez.
Porque se deixou de apostar nos programas de autor?...


Para todos os efeitos, os meus “10 mais†de 2002:

1. Amon Tobin - "Out, From Out Where"
2. DJ Shadow - "The Private Press"
3. Boards of Canada - "Geogaddi"
4. DJ DSL - "#1"
5. The Herbaliser - "Something Wicked This Way Comes"
6. The Streets - "Original Pirate Material"
7. DJ Krush - "Shinsou - The Message At The Depth"
8. Cinematic Orchestra - "Everyday"
9. Sonic Youth - "Murray Street"
10. Beth Gibbons - "Out Of Season"
Carlos Costa

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