As dez melhores canções de sempre neste preciso momento #17 - Orla Wren
· 18 Jan 2010 · 14:47 ·

Discretamente, Orla Wren tem vindo a reinterpretar o terreno batido da electro-acústica dedicando uma atenção obsessiva aos aspectos minúsculos das suas canções de orvalho. Assim tinha sido em Butterfly Wings Make, onde os instrumentos micro tinham uma utilidade macro, e assim volta a acontecer na novidade The One Two Bird and the Half Horse, álbum de tonalidades cândidas lançado pela casa japonesa Flau. Desta vez, o eremita britânico reúne um belo elenco de vozes femininas num mesmo filme projectado num fundo de field recordings e programações de laptop caracteristicamente pacíficas. A convite do Bodyspace, Orla Wren, também conhecido por Tui, apresentou uma lista de dez músicas favoritas, e aproveitou ainda o tempo de antena para considerações sobre Cocteau Twins e Can. O amor estendeu-se à psych-folk e à música do Tibete.



1. "Winter", Carol Batton: Do álbum Folk Is Not A Four Letter Word 2, compilado por Andy Votel (Twisted Nerve) e lançado na Delay 68. A Carol tem 52 anos e vive em Manchester. Distribui gratuitamente a sua poesia, em pequenos papéis amarrotados, pelas pessoas que encontra. A sua poesia é única - vai de três a vinte versos com observações subtis sobre as grandes coisas na vida: natureza, miséria, alegria, guerra, paz. E, é claro, psiquiatria e saúde mental. Esta faixa conta com música de Andy Votel a acompanhar um lindo poema.

2. "Of Broken Links", These Trails: Faz parte de um disco homónimo muito raro e difícil de encontrar, que foi o único que fizeram. Lançado em 1973 na Sinergia. Esta banda havaiana exerceu uma grande influência no estilo vocal de Liz Fraser dos Cocteau Twins, que, por sua vez, tiveram uma grande influência sobre mim. Só recentemente “descobri” esta banda. O círculo completou-se.

3. "Martin and Me", Emma Tricca: Incluída numa compilação intitulada Bearded Ladies. Lançada na Finders Keepers e compilada por Jane Weaver, é um conjunto de folk feminina, acompanhado por finger picking sinuoso e melódico, harmonias etéreas e nuances psicadélicas com um sentimento de carência. Esta faixa é um exclusivo que não surge no seu primeiro álbum Minor White, que foi agora lançado na Bird.

4. "The Eft", Sam And The Plants: Não sei muito acerca desta banda, mas adoro todas as partículas que formam o seu universo sonoro. Soa a um grupo de pequenos ratos a tocar acordeão através de um dictafone distorcido.

5. "Seed", Brael and Tokyo Bloodworm: Faz parte do disco conjunto intitulado Living Language, que foi lançado o ano passado na sempre adorável Moteer. É uma faixa maravilha que soa muito bem nos auscultadores ao pedalar livremente por umas estradas do campo numa bicicleta de três velocidades.

6. "Rocky Mountain Raga", Robbie Basho: Incluído numa gravação ao vivo na Alemanha em 1980 e só o ano passado lançada como Bonn ist Supreme, na Bo' Weavil, uma das minhas labels britânicas favoritas. É uma peça com uma beleza crua.

7. "Vitamin C" , Big Blood: Excepcionais "sketches" de psych-folk gravada em casa pelo casal Caleb Mulkerin e Colleen Kinsella, que fazem parte de Cerberus Shoal e Fire on Fire. Faz parte de Sew Your Wild Days Tour Volume 1, uma compilação limitadíssima vendida em alguns concertos. Esta é uma versão de "Vitamin C" dos Can, uma das minhas bandas favoritas.

8. "Dud Tsan part 2", Alexey Tegin: É uma das faixas de Gyer - Sacred Tibetan Music Of Bon Tradition, lançado na Monotone. O russo Alexey Tegin reproduz o ritual sagrado de Bon, tradição Tibetana pré-Budista, mas o resultado é muito mais negro do que qualquer coisa que possas encontrar na divisão étnica / tradicional de uma loja de música. Repara nos assustadores cânticos guturais e na vibração dos sinos tibetanos. Fabuloso.

9. "Puja Conch", Buddhist Nuns at Chuchikjall Tibetan Pujas: Está num disco de música de oração tibetana. É uma peça inteiramente tocada numa trompa de uma só concha. Muito bonita.

10. "All Things Change" Greg Davis: É uma das faixas da compilação Musique Pour Statues Menhirs, que foi lançada na francesa Arbouse. O projecto é baseado nos menires situados no museu arqueológico Fenaille, em Rodez, na França. Greg Davis, Fennesz e Mira Calix são alguns dos contribuidores. Também participei como Orla Wren com o meu amigo Keiron Phelan da banda Phelan Sheppard. A nossa faixa chama-se "The Climbing Rope".

Miguel Arsénio
migarsenio@yahoo.com

Parceiros