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Da música electrónica pode-se sempre dizer que há dimensões incalculáveis tal a diversidade de idéias constantemente propostas ao mundo. Mesmo tendo revelado em determinadas ocasiões algum desgaste, a carburação da grande máquina não tem deixado grandes dúvidas quanto à sua robustez funcional na moldagem do panorama da música contemporânea.
Depois da fase inicial (anos 1960) onde se teceram os princípios elementares da música concreta e eletroacústica, é nos anos de 1970 que se dá o verdadeiro boom revolucionário com visionários como Kraftwerk, os Tangerine Deam ou Can, projectos algures entre a robótica idílica, a pop e o krautrock (na época uma designação mais pejorativa para um determinado tipo de música produzida na Alemanha do que um reconhecido género musical) ou Herbie Hancock ou Weather Report, em deambulações fusionistas jazz, que se abriram portas a uma geração pronta a conquistar o mundo com uma inesperada naturalidade. Uma geração disposta a levar os conceitos básicos para novas dimensões, sem receio da aventura, da experimentação, fusão e criação de novos paradigmas. A geração em perfeita comunhão com a corrente elétrica que começou a alimentar os bits e os bytes da programação.
Da electro-pop ao electro-funk, do reggae ao dub, do krautrock ao punk, da house ao techno, não é imperceptível a forma como a programação electrónica (com sintetizadores ou computadores) alterou a paisagem da música popular em pouco mais de 30 anos. Uma incumbência para o futuro que tem movido massas.
Actualmente a determinação geral poderá não ser a mesma, mas por entre o nevoeiro devorador da indústria que engoliu a virilidade inicial do espírito underground – que alimentou, por exemplo, a revolução do acid-house –, o que não faltam por aí são almas dispostas a desbravar o desconhecido em busca do novo som, em busca de novas possibilidades rítmicas e melódicas mesmo que para isso se leve a promiscuidade a extremos, mutilando o mutilado, esquartejando dogmas, truncando e sincopando ritmos, suprimindo partes desgastadas. Gente mais talentosa ou (pouco) menos que genial de régua e esquadro virtual na mão a criar novas geometrias sonoras.
O Bodyspace dedica esta semana um pequeno espaço a alguns dos astutos engenheiros do presente que recentemente deslustraram a matéria hip-hop e techno com uma eficiente lixa electrónica. Não serão lições perfeitas ou arrebatadoras, mas não deixam de ser testemunhos impossíveis de ignorar dos tempos em que vivemos. Porque o futuro também passa por aqui, ficam para já três propostas que entusiasmam os melómanos mais atentos.
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Nosaj Thing Drift 2009 - Alpha Pup http://www.myspace.com/nosajthing |
Há quem lhe chame glitch-hop (ou seja, lá o que for), certo é que não se chega a perceber muito bem do que se trata tal é a promiscuidade com que se movimenta entre a electrónica mais cerebral e o hip-hop transversal de meninos como Flying Lotus, Madlib e mesmo o falecido Dilla. Certa é também a determinação do jovem norte-americano Jason Chung na elaboração de um punhado de temas de estranha e obscura matemática como se estivesse a preparar a equação sonora para a próxima década. |
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Harmonic 313 When Machines Exceed Human Intelligence 2009 - Warp http://www.harmonic313.com |
É o regresso de Mark Pritchard e da sua renovada visão do amanhã. O título When Machines Exceed Human Intelligence, sendo editado pela Warp não poderá deixar de remeter a memória colectiva para a galeria da Artificial Intelligence que na primeira metade da década passada tanto catapultou a editora Sheffield para a primeira divisão da cena electrónica pós-acid house, como promoveu a reorganização da matéria-prima do techno de Detroit. |
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Moritz Von Oswald Trio Vertical Ascent 2009 - Honest Jon's/ Flur http://www.honestjons.com |
Sim, mais um regresso em peso de outro vulto enigmático. Longe vão os dias da Basic Channel e as incursões utópicas pelo techno minimal imerso na espuma do dub digital. Volvidos estes anos o que sobra? O espírito inconformado de um esteta que não parou um segundo para petiscar e se lançou na proeza do acaso a indagar vida para além do arqitectónico esqueleto sonoro que concebeu há mais de 10 anos apartir do techno de Detroit – e que ainda hoje é um filão em exploração. |
r_b_santos_world@hotmail.com