Enquanto barómetro cultural, Londres parece ter reavivado o seu interesse nas movimentações grime enquanto reflexo das manifestações artÃsticas urbanas mais marginais (em todos os sentidos da palavra). Com a crescente descredibilização que o dubstep tem vindo a sofrer nos agentes culturais da cidade, e consequente afastamento do epicentro da "diversão" nocturna (ou vice-versa), devido ao seu próprio esvaziamento (precoce?) de ideias estimulantes, e subtil implementação, mas notório crescimento da funky house (cuja afinidade com o grime é bem maior do que aquilo que se poderia pensar = uk garage) enquanto género autónomo e revitalizante, o género tem vindo a chamar para si uma atenção que se tinha vindo a dissipar nas movimentadas noites londrinas. Para isso, em muito contribuiu a profissionalização necessária, depois de esgotado o filão aberto por Boy in the Corner e regresso ao mundo das moribundas rádios piratas e programas de um muito pouco credÃvel Tim Westwood ou (principalmente) de Logan Sama. Em consonância com a maturidade atingida, através mixtapes e álbuns cada vez mais exigentes consigo mesmos, "Wearing my Rolex" espalha grime meets electro pelo éter, e oferece a Wiley o primeiro lugar no top britânico. O regresso à s pistas de dança.
Pouco depois, uma horrÃvel "Dance Wiv Me" serve de chapada de Dizzee Rascal ao seu antigo "padrinho", embora em nada o género se possa rever (a produção é de Calvin Harris) para além da voz do ex-"puto-maravilha". A conclusão óbvia é que os beefs entre MCs serão sempre estÃmulo para o género. E, embora aproximações a formatos mais pop sejam bem-vindas, a via a seguir muito dificilmente passará pelo escusado enxerto de jogos de palavras de sotaque acentuadamente cerrado sobre instrumentais de nostalgia 80`s inócuos, sem descortinar qualquer sentido. Noutras latitudes, dá-se o encontro improvável entre a Brooklyn arty dos Gang Gang Dance e Tinchy Stryder, para resultado similar (justaposição algo forçada, isto é). As coordenadas nunca serão suficientes para mapear um género cujo maior interesse parece estar ainda muito abafado no smog londrino, mas demonstrativas que o sonambulismo a que o género foi tão precocemente remetido foi precipitado, e que o seu crescimento é exequÃvel. Na senda de um 2007 muito satisfatório, 2008 tem cumprido um saudável equilÃbrio entre qualidade e quantidade, num género, que em simetria, com a cidade que o pariu, vive da hiper-actividade. Com os lançamentos de Born Blessed, Microphone Champion e do eternamente adiado álbum dos Newham Generals, e com memórias felizes de Famous, Soulfood Vol. 3 ou Cloud 9, a corrida adensa-se e leva à precipitação. Espera-se fôlego para a recta final.
© Teresa |
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Aproveitando a euforia em redor de "Wearing my Rolex", Wiley, em timing com as expectativas criadas para Grimewave, decide colocar o seu auto-proclamado grande regresso em prè-venda na UKRecordshop cerca de dois meses antes de ser lançado. Paradigma da hiper-actividade do género, o godfather of grime dá assim lugar ao especialista de marketing que sempre revelou ser (basta relembrar o seu pseudo-profético abandono do microfone no ano transacto), deslocando a atenção do público para Grimewave em detrimento das inúmeras (e maioritariamente inúteis) mixtapes que lança. As altas expectativas saem defraudadas, porque apesar de demonstrar maior cuidado e detalhe na composição e produção do que as suas criações menores (i.e. Umbrella vol. 1 ou a interminável saga da série Tunnel Vision) ou mesmo do sub-produzido Playtime is Over, faltam a este seu terceiro álbum momentos memoráveis que lhe valeriam uma posição de destaque num meio algo saturado de edições. Esses, resumem-se à fabulosa "If You`re Going Out, I`m Going Out Too", tangencialmente dançável na sua respiração 4/4 suavizada por uma das melhores melodias do Eskiboi. A presença de Flowdan na tensa "Badman Talking" e a melodia infecciosa de "It`s a Par" ainda se elevam para lá da mediania, mas pouco mais de assinalável há a apontar em Grimewave além da sua eficácia. Escorreito, até agradável, mas longe de ser porta estandarte do que de mais essencial se tem feito.
Acarinhado pelo público e pela crÃtica aquando da invasão do grime aos media, Kano definhou lentamente para a irrelevância. As tentativas para chegar a meios mais mediáticos sucessivamente repetidamente sabotadas por álbuns medÃocres e algumas escolhas duvidosas. "Nite Nite" é prova de que uma via mais "comercial" poderia ser sinónimo de óptimos resultados, mas London Town não foi mais do que a confirmação que o seu estado de graça havia desvanecido. Ignorado pelo mainstream e descredibilizado no underground mais conservador, Kano remete-se ao discurso blasé do regresso ao verdadeiro grime. MC Nr. 1 foi desastroso na intenção. 140 Grime St. reserva ainda algumas expectativas pelas presenças de Wiley, Skepta e Davinche na produção, maioritariamente assinada por Mikey J. Incidindo em atmosferas sorumbáticas e a almejar uma emotividade épica, de refrões melosos que levam ao embaraço e óbvias mas inúteis aproximações ao hip hop, falta ao produtor a capacidade de estimular Kano a abandonar o modo piloto-automático em que estancou. A linha melódica viciosa de "Anywhere We Go" (assinada por Wiley), o grime circa 2005 de "I Like It" (Davinche) e o fervor de "These Mc`s" (Skepta) são, de restos os momentos que existem a reter de 140 Grime St.. Para resgatar à memória quando se finge acreditar num regresso sebastianesco de Kano.
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