Canções do Ano 2007
· 13 Jan 2008 · 08:00 ·
© Angela Costa

Can��es. Todas elas t�m um significado particular. Todas elas estiveram presentes num determinado momento. Todas criaram instantes que marcaram a mem�ria individual. Sim, individual. Isto porque raramente a mesma m�sica � amada pela colectividade nas mesmas propor��es. S�o gostos e feitios que n�o podem ser pesados e equilibrados na mesma conformidade de uma balan�a.
Como ser� f�cil de deduzir, as escolhas dos membros desta redac��o s�o subjectivas, alvo de serem contestadas, mas tamb�m respeitadas. Minutos de can��es que tocaram a alma em situa��es de euforia, alegria, melancolia ou inquieta��o. Representam caras e cen�rios, amores e desilus�es, sucessos e frustra��es. Representam um pouco de cada uma das nossas vidas, da nossa ess�ncia, do nosso car�cter.
Minutos marcantes reduzidos a uma lista de 10 nada f�cil de elaborar. Se um �lbum se torna relativamente �bvio pelo conjunto de temas, uma can��o � simplesmente uma can��o. Podar� ficar no cora��o em busca da eternidade ou desaparecer para sempre no v�cuo da nossa indiferen�a. � uma quest�o de tempo; s� ele determinar� os cl�ssicos do amanh�. Eis as bandas-sonoras de 2007. As nossas pelo menos. Rafael Santos



  André Gomes  
   
1.
�Reckoner� � Radiohead Link
 
N�o existe em 2007 uma can��o assim. Perfeit�ssima do inicio ao fim, deslumbrante. Os Radiohead s�o ex�mios criadores de can��es assim, sem espa�o nem tempo, sem hip�tese de arrependimento. �Reckoner� Reconciliadora. Surpreenderam pela forma como lan�aram o novo disco (n�o � in�dito lan�ar m�sica na Internet, mas a este n�vel de reconhecimento n�o � habitual) mas n�o surpreendem na altura de escrever can��es (elogio). J� sabemos aquilo com que podemos contar � e isso �s vezes ainda � bom. E com �Reckoner� � excelente.
 
2.
�Stay Tuned� - Robert Wyatt Link
 
Ele que sempre nos guiou por entre as grandes can��es assina um dos momentos mais tocantes do ano. Aqui imaginamos Robert Wyatt a tocar trompete para um cavalo branco com o verde ao fundo, como na bel�ssima fotografia que se conhece. A ambi�ncia, a voz feminina que o acompanha, a liberdade, tudo � terrivelmente enternecedor. Arrepiante.
 
3.
�Heart of Hearts� - !!! Link
 
O sexo pode por vezes ser perigoso de uma forma atraente (ou atractiva). Os !!! (Chk Chk Chk para o Google e para os amigos) s�o a prova disso. �Heart of Hearts� transpira sexo e perigo e tudo e mais alguma coisa que n�o envolva roll on no fim. Sexy e asseado. Com estilo. Nic na frente. Imagin�mo-lo de cal��es a liderar a coisa. O mundo, a ter que ser perigoso e descontrolado, que seja governado por Nic Offer.
 
4.
�All My Friends� - LCD Soundsystem Link
 
�All my Friends� destaca-se no novo disco da banda de James Murphy de uma forma diferente do habitual: n�o � uma can��o directa como tantas outras mas fica durante muito mais tempo. Especialmente quando se diz a certa altura o seguinte: �You spent the first five years trying to get with the plan / and the next five years trying to be with your friends again�.
 
5.
�Fireworks� - Animal Collective Link
 
Eles que j� abanaram tremendamente o nosso mundo pop (mais ou menos ordenado, mais ou menos freak) voltaram a repetir a dose. N�o da forma que Sung Tongs ou Feels o fizeram, mas andaram pr�ximos. �Fireworks� � uma das can��es que faz Strawberry Jam valer a pena. Celebrat�ria, excitante e repleto de esperan�a.
 
6.
�D.A.N.C.E.� � Justice Link
 
�D.A.N.C.E.� n�o � s� um dos temas mais rodados deste ano. � tamb�m um dos mais funky e sexy. O destaque � especialmente gigante quando observamos que a can��o � infinitamente superior a tudo aquilo que os Justice assinam no que sobra do disco. Coisa do acaso ou h� mais singles assim para chegar num futuro pr�ximo? Entretanto troquem de t-shirt como se n�o houvesse amanh�.
 
7.
�Pogo� � Digitalism Link
 
Saltar � uma actividade desvalorizada hoje em dia. Os Digitalism que o digam, que com �Pogo� conseguiram um dos maiores incentivo ao exerc�cio f�sico de 2007 � mais do que, em termos pr�ticos, conseguiu o governo, j� em 2008, com a benesse dos gin�sios. �Pogo� � natural destaque de Idealism. � o ideal digital, imagin�rio, � surreal, irreal, social.
 
8.
�Plasticities� - Andrew Bird Link
 
� complicado resistir ao que Andrew Bird nos oferece: melodias de sonho entregues em guitarras e violinos, em vozes e em assobios. Fecha a coisa com um metalofone que � ouro sobre azul. A obra de Andrew Bird vale sobretudo neste �ltimos dois discos e �Plasticities� � um momento alto destes �ltimos anos.
 
9.
�Almost Ready� - Dinosaur Jr. Link
 
Dificilmente existir� em 2007 can��o que pe�a tanto uma sess�o de air guitar como esta. Imposs�vel n�o ter durante momentos J Mascis como guitar hero, muito dif�cil n�o recuar no tempo e correr para o arm�rio na procura dos jeans mais rasgados.
 
10.
�Fadunchinho� - Am�lia Muge
 
Num disco em que a metamorfose � linha condutora, �Fadunchinho� � mais uma prova que Am�lia Muge assina um dos discos do ano aqui e em todo o mundo. Da sofreguid�o do fado inicial at� � liberdade estil�stica expressa no final, �Fadunchinho� � imensa na arte e nas sensa��es.
 

  Bruno Silva  
   
1.
"Good Friday (Boards of Canada remix)" - Why? Link
 
Surpreendente ser� talvez o melhor adjectivo para definir a primeira audi��o a "Good Friday". N�o sendo aparentado a nenhum dos intervenientes, cujas �ltimas obras s�o pouco mais do que bocejos, a remistura pelos Boards of Canada, transporta-nos para dentro de um po�o deep funk negr�sssimo, sob os des�gnios do valium (sem que isso indicie torpor). A voz de Why? mostra-se em conson�ncia narc�tica, conduzindo pelo t�dio a lama drone que se arrasta at� ao final em toada ritualista. � segunda audi��o substitui-se o adjectivo surpreendente por brilhante e tudo faz sentido.
 
2.
"Heartbroken" - T2 Link
 
Com "Heartbroken", T2 materializa tudo o que de bom que a mixtape Tropical ou os �ltimos ep`s de Dexplicit insinuaram no seu apego dan��vel sexualizado. O 4/4 caloroso da funky house de bra�o dado com a obliquidade do grime, pode n�o espelhar a sujidade das ruas mas � uma das manobras mais estimulantes na transposi��o destas para as pistas de dan�a. "Dance 4 Now" de Tinchy Stryder ou "Sweet Mother" de Skepta podem ter estado perto da euforia, mas s�o as vozes sensuais fracturadas de "Heartbroken" que o elevam para um patamar superior.
 
3.
"License to Skill" - Durrty Goodz Link
 
S� pelo descaramento de se apropriar da eterna melodia de James Bond para o refr�o, "License to Skill" j� merecia ser ouvido por Deus, que o fa�a com esta desenvoltura e naturalidade, sem ro�ar o prentensiosismo aproxima-a mesmo do Pr�prio. Apropriando-se de marcas do grime como o uso das sirenes e dos ring tones, n�o tem pudor em submergi-los por entre arranjos de cordas devedores do filme em quest�o sem que o todo soe minimamente for�ado. Sobre tudo isto Durrty revela-se o melhor mc brit�nico desde Tinchy Stryder (o que por si s� j� � muito em 2007).
 
4.
"The Dance" - P.G. Six Link
 
Estivesse a viver um drama familiar tipicamente americano sobre conflitos matrimoniais aos 50 anos e "The Dance" seria o tema da reconcilia��o. A nostalgia do primeiro encontro trespassa tranquilamente a can��o de contornos folk-rock FM, enquanto por entre uma instrumenta��o eficazmente simples P.G. Six nos canta: "...Our eyes just crossed each other in romance" como se tal momento nunca pudesse ser revivido. Uma verdade docemente amarga.
 
5.
"Earth Intruders" � Bj�rk Link
 
Pela primeira vez desde Homogenic que se voltou a sentir uma certa excita��o colectiva em redor do regresso de Bj�rk. Inevitavelmente, Volta acabou por soar a desilus�o, muito por culpa de "Earth Intruders" ter deixado o Mundo a salivar por algo grandioso. A vertigem tel�rica dos sintetizadores e a propuls�o r�tmica cortesia de Konono N� 1, carregam a voz da islandesa pelas estrelas, enquanto se desprende da Terra e simula a dan�a como quem d� as boas vindas aos invasores.
 
6.
"You Never Came" � Grouper Link
 
Os ecos dos My Bloody Valentine parecem definitivamente ter-se instalado de corpo pleno no drone que consubst�ncia alguns projectos de natureza free e esp�rito folk. Liz Harris bem se pode esconder por detr�s de manobras lo-fi e do uso do ru�do enquanto mat�ria, mas aquilo que subsiste h�-de ser sempre a can��o. "You Never Came" � paradigm�tica neste sentido, plena de beleza no seu jeito son�mbulo (ou pr�-sono) � a mem�ria de melodias que nunca assobi�mos por n�o recordarmos como s�o, e t�o melhor por isso.
 
7.
"None Shall Pass" - Aesop Rock Link
 
Ao longo da Hist�ria j� foram in�meros os falsos(?) profetas que anunciaram que no Fim todos seremos julgados. Que a remiss�o pudesse ser assim t�o exultante � algo que apenas Aesop Rock parecia saber, e que deu a mostrar em "None Shall Pass". A batida metron�mica parece contar o tempo para o final ao mesmo tempo que faz palpitar os m�sculos do corpo, fantasmas soul passeiam-se pelos c�us pintados a funk sangue, e algu�m nosso lado dan�a porque nada mais tem a perder e o Apocalipse � afinal festivo.
 
8.
"Crazy Wonderful" � Amerie Link
 
"Umbrella" de Rihanna pode ter roubado para si todos os focos de aten��o num fraco ano de 2007 para o r`n`b, mas fosse "Crazy Wonderful" o single escolhido e seria injusto n�o ser Amerie a tomar o trono da can��o. Depois de uma primeira metade efusiva, acaba por ser na segunda metade mais contemplativa que se descobrem as verdaderias p�rolas de Because I Love it, a doce "Crazy Wonderful" na sua candura j-pop � a mais valiosa apenas porque n�o � todos os dias que se fala sobre a alegria de amar de uma maneira t�o genuinamente..."amorosa".
 
9.
"Ghosts" - Siobhan Donaghy Link
 
Os sonhos dos Cocteau Twins assombram a paisagem umbilical com que "Ghosts" se pinta. Tal n�o seria surpreendente vindo algum projecto adolescente de inspira��o shoegazer, mas feito com tal perfei��o por uma ex-Sugababes � digno de nota. A voz de Siobhan encharca-se em efeitos de aspira��o quase psicad�lica, e toda a instrumenta��o parece advir das sombras, atingindo a celestialidade et�rea em menos de 4 minutos. Algo que imensas bandas, supostamente mais dadas aos sonhos, passam a vida a tentar, sem nunca chegar sequer pr�ximo.
 
10.
"Emerald Snake on Ruby Velvet" - Pocahaunted ft. Bobb Bruno Link
 
Dada a impossibilidade de acompanhar a enchurrada de lan�amentos de caracter�sticas drone vindos das terras do Tio Sam, cabe-nos cingirmo-nos �queles que o fazem fervilhar. As meninas Pocahaunted j� deram diversas mostras da capacidade com que naturalmente evocam a imens�o dos cen�rios des�rticos americanos. Nesta parceria com Bobb Bruno, a n�voa do eco jamaicano, instala-se sobre a areia, enquanto as vozes invocam esp�ritos nativos passados, e assim se cria linhagem que une os rastafari aos apaches, por muito rid�culo que tudo isso pare�a.
 

  Eugénia Azevedo  
   
1.
"Rhythm & Soul" - Spoon Link
 
As estruturas das can��es s�o de uma import�ncia capital no processo de composi��o dos Spoon. A elas dedicam uma aten��o especial que � not�ria pela diversidade de constru��es que encontramos em Ga Ga Ga Ga Ga. A mais interessante parece ser a deste �Rhythm & Soul�, que avan�a, �s voltas, at� atingir o incisivo refr�o.
 
2.
"Impossible Germany" - Wilco Link
 
Jeff Tweedy apostou tudo em gravar neste �Impossible Germany� o que lhe ia na alma e foi o que lhe valeu para salvar parte da reputa��o que este disco amea�ava manchar. O resultado apresenta, para al�m da genuinidade do poema interpretado, solos de guitarra sem m�cula nem aborrecimento como j� n�o se ouvia h� muito.
 
3.
"Sleeping Lessons" - The Shins Link
 
Mesmo aqueles que nada devem �s ins�nias (o tema central deste tema), podem aprender com esta li��o de como desenvolver uma can��o em crescendo e faz�-la render. Serve de introdu��o ao �lbum Wincing the Night Away e � de bom agoiro para a audi��o do restante alinhamento, todo ele recomend�vel.
 
4.
"Killing the Blues" - Robert Plant & Alison Krauss Link
 
A jun��o de dois quadrantes distintos pode produzir assinal�veis surpresas. A mais not�vel, a ter lugar em 2007, foi Raising Sand, um �lbum certeiro, onde cintilam faixas como �Killing the Blues�. Algu�m julgaria poss�vel que a voz respons�vel por �Whole Lotta Love� fosse capaz de se render � atmosfera country? Tamb�m neste dom�nio, tudo se transforma.
 
5.
"Imitosis" - Andrew Bird Link
 
V�rios s�o os argumentos aqui encontrados que tornam �Imitosis� irresist�vel logo � primeira escuta, o que s� pode ser favor�vel a Bird, considerando que agarrar o ouvinte ao segundo tema �-lhe vantajoso. Os expedientes mais �bvios s�o o ritmo e a rima, que se conjugam para um resultado catchy, com a inclus�o de violinos a revelar-se um complemento acertado.
 
6.
"Two" - Ryan Adams Link
 
Ryan Adams procurou a catarse nos Whiskeytown e lirismo em alguns dos seus trabalhos a solo. Mas, � na can��o � flor da pele, de prosa simples e efeito imediato que o enfant terrible do alt-country desarma quem lhe desdenha a efic�cia de temas como este. Para qu� complicar o que � puro e simples?
 
7.
"Bodysnatchers" - Radiohead Link
 
Os Radiohead fazem m�sica para gostos muito diversificados. Da� que a prefer�ncia de cada um quanto ao tema mais forte de In Rainbows n�o seja minimamente un�nime. �Bodysnatchers� � a explos�o de energia contida em faixas com outras caracter�sticas e outros m�ritos. Aqui abra�am a visceralidade e inspiram a euforia.
 
8.
"Ada" - The National Link
 
Faz parte de um todo coeso que � Boxer, mas destaca-se por insistir no mesmo tom grave e desconcertante que a percorre ao longo da sua curta dura��o. De resto, parece inspirar uma certa austeridade emocional, que at� a�, pouco t�nhamos notado nos National, mas que lhes assenta que nem uma luva.
 
9.
"Little Cream Soda" - White Stripes Link
 
O faroeste nunca teve personagens t�o cool como Jack e Meg White, mas parece ter o interesse suficiente para inspirar cen�rios para a m�sica moderna. �Little Cream Soda� sugere uma mistura entre o conto infantil regado a rock e a banda sonora de um western do s�culo XXI. E �, no seguimento dos seus pares do mesmo disco, a boa-disposi��o encarnada.
 
10.
"My Rights Versus Yours" - The New Pornographers Link
 
A can��o matinal, pass�vel de ser cantarolada no duche, tem de ter o seu lugar num invent�rio de can��es predilectas. Relega para a quest�o do peso versus leveza que Kundera aflorou. Se seleccionarmos cria��es pelo seu �peso� relativo, tamb�m nos far� falta a leveza de outras tantas que simplificam o nosso dia-a-dia.
 

  João Pedro Barros  
   
1.
�Reckoner� � Radiohead Link
 
In Rainbows � um �lbum de can��es, e �Reckoner� o seu expoente m�ximo. O falsete de Thom Yorke e a delicadeza das harmonias vocais mostra uma banda sem medo de se expor � nunca os Radiohead soaram t�o deliciosamente fr�geis.
 
2.
�The Devil� � PJ Harvey Link
 
PJ Harvey mostra em White Chalk que nunca vai parar de se reinventar. Desta vez, adoptou o piano como principal meio de composi��o, acompanhado de um registo vocal muito mais agudo do que o habitual e de um negrume l�rico profundo. �The Devil� � a faixa de abertura do disco e representa o meu primeiro contacto com a �nova� Polly, pelo que fica gravada na minha hist�ria musical de 2007.
 
3.
�All My Friends� � LCD Soundsystem Link
 
Se tivesse de escolher uma m�sica para apresentar a um extraterrestre como exemplo da pop do s�culo XXI, escolheria possivelmente �All My Friends�. � uma can��o exemplar a todos os n�veis: ouve-se bem no carro, em casa, na discoteca, numa festa; � traute�vel; � liricamente relevante (James Murphy a olhar para tr�s na vida?). Incluir �All My Friends� nesta lista n�o � seguidismo da Pitchfork ou panelinha de cr�ticos, � uma evid�ncia.
 
4.
�Never Light� � Thurston Moore Link
 
Quem pensa apenas nos riffs demolidores de Thurston Moore � frente dos Sonic Youth ou nas suas divaga��es pelo noise ser� incapaz de imaginar a beleza de uma balada como �Never Light�. Auxiliado pelo violino de Samara Lubelski, o norte-americano consegue, dentro de um registo country-folk, uma textura muito superior ao comum.
 
5.
�Nagorny Karabach� � Einst�rzende Neubauten Link
 
�Weil Weil Weil� pode ser a m�sica de Alles Wieder Offen que mais facilmente fica no ouvido, mas �Nagorny Karabach� � a sua p�rola. Et�rea, sombria, quase completamente plana a n�vel r�tmico, a composi��o consegue brilhar atrav�s da inclus�o subtil de elementos como um vibrafone e um �rg�o de igreja, acompanhados de samples e de notas de guitarra sustidas com o aux�lio de um e-bow.
 
6.
�Conquest� � White Stripes Link
 
Mesmo com um v�deo filmado numa pra�a de touros, a mais orelhuda das can��es de Icky Thump n�o saiu at� agora de uma relativa obscuridade. O que � estranho, porque, em menos de tr�s minutos, a guitarra rasgada de Jack White mistura-se com metais mariachi e vocaliza��es quase ciganas, elevando a cover de Patti Page at� ao pante�o dos melhores momentos da banda.
 
7.
�Burguesinha� � Seu Jorge
 
Seu Jorge �, ao lado de nomes intoc�veis como Chico Buarque ou Caetano Veloso, um dos s�mbolos da m�sica popular brasileira dos nossos dias. Ao unir o som de instrumentos t�picos do pa�s (como o cavaquinho) a estruturas de raiz anglo-sax�nica, ele consegue provar que o samba n�o tem de ser apenas banda sonora para o Carnaval. A cr�tica social mordaz e bem-humorada de �Burguesinha� � disso o melhor exemplo.
 
8.
�After The Call� � Electrelane
 
Ainda que No Shouts, No Calls tenha sido para mim um exerc�cio semi-falhado, � ineg�vel que as quatro meninas de Brighton nunca deixaram de ter boas ideias em est�dio. �After The Call� � Electrelane vintage, incluindo a habitual montanha russa r�tmica e as vocaliza��es desafinadas q.b. (de que ningu�m se queixa).
 
9.
"Dashboard" � Modest Mouse Link
 
O desenvolvimento da m�sica torna-se, a certo ponto, algo mon�tono, mas o riff de Johnny Marr � genial e faz valer a sua inclus�o nesta lista. Na verdade, o ex-Smiths consegue em meia d�zia de acordes o que muitos guitarristas n�o alcan�am em toda uma carreira.
 
10.
�Mammoth� � Interpol Link
 
�Heinrich Maneuver� tornou-se v�tima de excesso de airplay, mas ainda � poss�vel descobrir algumas preciosidades em Our Love To Admire. Os altos e baixos de �Mammoth� provam que ainda h� Interpol no p�s-Turn on the Bright Lights.
 

  Miguel Arsénio  
   
1.
�The Zoo� � R. Kelly
 
Podia apontar mil motivos, mas, no conjunto, a predilec��o deve-se muito � combust�o que produzem, em contacto, todas aquelas alegorias sexuais do reino animal e o vicio de uma produ��o que, por si s�, podia triplicar a natalidade no Vaticano, se viessem � janela os salmos do Kells e n�o do Ratzinger.
 
2.
�Bros.� � Panda Bear Link
 
� extremamente dif�cil descobrir como algu�m pode ser t�o certeiro, cool e magn�fico na escrita de uma marcha triunfante a favor das inten��es de quem ande � procura da mais indolor forma de dizer a um amigo: �s uma pessoa extremamente porreira e eu adoro-te, mas, por agora, desampara-me a loja � estou entregue aos sons que mais estimo. Panda Bear consegui-o como muito poucos.
 
3.
�Red Horse� � Dennis Driscoll Link
 
O melhor tema verdadeiramente indie do ano ou, pelo menos, aquele que faz de Dennis Driscoll a maior amea�a face a Panda Bear na disputa pelo t�tulo de mais iluminado portador da heran�a mel�dica de Brian Wilson. Aquele refr�o parece-se muito com uma lua-de-mel vivida por dois pirilampos no fundo de um po�o.
 
4.
�Sucks Blood� � The Oh Sees Link
 
Porque aquela voz de Brigid Dawson, envolvida em todo aquele eco sem adjectivos � altura, viabiliza uma realidade virtual que junta o nosso ao rosto adormecido de River Phoenix no asfalto da estrada que, em My Own Private Idaho, d� a volta ao mundo. O realizador Gus Van Sant pode dar algum descanso a Elliott Smith e reparar no que anda a fazer John Dwyer."
 
5.
�Jah War� � The Bug (feat. Flowdan)
 
Podia ser �Skeng� ou �Poison Dart� no seu lugar, mas �Jah War� parece-me a mais incendi�ria forma de atear fogo ao circo dubstep que tem persistido em subestimar The Bug. A fric��o f�sica entre o ragga bomb�stico de Flowdan e os rudes graves de The Bug s� pode ter compara��o na colis�o entre duas balas que se encontraram a meio-caminho entre os rev�lveres de Tony Soprano e Phil Leotardo.
 
6.
�Same Girl� � R. Kelly (feat. Usher) Link
 
N�o deixa de ter imensa gra�a testemunhar o momento exacto em que os dois mais viris garanh�es do r & b descobrem simultaneamente que t�m sido atrai�oados pela mesma �tesuda� que trabalha na TBS. O feiti�o vira-se contra os feiticeiros no ponto crucial de um disco repleto de dualidades ad�lteras e de paix�o e dramatismo suficientes para preecher dois universos.
 
7.
�Colleen� � Joanna Newsom Link
 
Incrivelmente, chego a acreditar piamente que a harpa irrequieta daquele refr�o de corte medieval pode ajudar a que, em tr�s tempos, leve uma pandeireta ao p� esquerdo, cotovelo direito e nuca (embora nunca me tenha passado pela cabe�a fazer parte de uma tuna acad�mica). Se arriscar mais um par de escutas, o melhor � manter � m�o o n�mero do hospital mais pr�ximo. Perdoa-me, Joanna, tal era o meu engano quando os teus olhos ainda eram leitosos.
 
8.
�Fireworks� � Animal Collective
 
Porque tem compactados em si todos os estranhos e radiantes ingredientes pop que, ao longo dos tempos, conferiram aos Animal Collective a leg�tima autoridade de impelir algu�m a dan�ar com o corpo coberto apenas por uma pelugem imagin�ria (�We Tigers�) ou a mergulhar numa piscina convencido de que tal acto deduziria 20 anos aos acumulados (�Banshee Beat�). �Fireworks� promete a cura para todos os desgostos atrav�s do rosto coberto pelo colorido da pirotecnia que estala no ar.
 
9.
�The Money Will Roll Right In� � RTX Link
 
N�o existir� mais h�mida fantasia rock do que aquela que una algu�m a Jennifer Herrema no cometimento de todos os excessos que Los Angeles possa ter para oferecer. Reparar em como a ressurrei��o desta eterna malha dos Fang serve para tornar tal sonho mais palp�vel, � um milagre sem o qual o ano n�o seria o mesmo.
 
10.
�Conquest� � White Stripes
 
Apesar da tauromaquia ser um ritual jur�ssico que abomino em absoluto, descubro nesta soberba cover do tema da Patti Page a melhor banda-sonora para uma tourada que coloque na mesma arena todos os Pedritos de Portugal e cl�s de marialvas que ainda apoiam essa barb�rie com direito a transmiss�o televisiva.
 

  Nuno Catarino  
   
1.
"Bros" - Panda Bear Link
 
Treze minutos de pervertida perfei��o pop, tribal e hipn�tica, absolutamente viciante. Maravilha trauteada vezes sem conta pela Rua da Escola Polit�cnica, este reflexo da luz de Lisboa conseguiu alcan�ar um justo consenso universal.
 
2.
"A Postcard to Nina" - Jens Lekman Link
 
A simpatia do pai da falsa namorada l�sbica registada num mimo/hino ir�nico do sueco Lekman. Songwriting de arranjos requintados, nunca a utilidade dos �out of office auto replys� foi t�o bem demonstrada.
 
3.
"All My Friends" - LCD Soundsystem Link
 
Acompanhar com berros a voz de James Murphy nunca fez tanto sentido, principalmente quando estamos em Madrid, s�o quase tr�s da manh� e se canta: �Where are your friends tonight?... If I could see all my friends tonight��
 
4.
"Sycamore" - Bill Callahan Link
 
Passou quase despercebido, mas o �lbum que marca o arranque da nova vida art�stica do namorado de Joanna Newsom mereceria mais aten��o. A come�ar por este bel�ssimo refr�o, like Sycamore.
 
5.
"Tonight the Streets Are Ours" - Richard Hawley Link
 
�Lady�s Bridge� apontou os holofotes ao feio ex-guitarrista dos Pulp, num momento em que um maior reconhecimento pela carreira a solo j� era merecido. Retirada deste mais recente disco, esta � a musicola perfeita para se cantar �s duas da manh� numa avenida larga da cidade, bem acompanhado e b�bado de optimismo.
 
6.
"Isn't Life Strange?" - The Clientele Link
 
� apenas uma das muitas m�sicas quase-perfeitas que comp�em o �lbum �God Save the Clientele� - a escolha � dif�cil, j� que todas s�o belas. Nesta �Isn�t Life Strange� poder�amos at� evocar uma sombra de Big Star, mas o mais relevante nesta trabalhada melodia � que se trata de uma colheita rara, daquelas que j� quase n�o existem e que n�o se devem divulgar muito, murmuram-se baixinho ao ouvido.
 
7.
"D.A.N.C.E." - Justice Link
 
Magn�fico momento de 2007, era a banda sonora que faltava e serviu enquanto representa��o perfeita d��a cena�. Para dan�ar, ver o v�deo nas MTVs ou ouvir em casa enquanto se fazem limpezas, � sempre irresist�vel.
 
8.
"Coconut" - The Sea and Cake Link
 
A banda de Chicago regressou de mansinho e com o seu novo �lbum chegaram mais meia d�zia de grandes can��es de pop inteligente. Esta �Coconut�, de uma beleza quase cient�fica, foi s� uma delas.
 
9.
"Who the Fuck?" - Cato Salsa Experience & The Thing with Joe McPhee Link
 
Revis�o distorcida (sim, � elogio) do original de PJ Harvey, � rock em estado bruto com umas pinceladas de free jazz abrasivo, a abrir um disco que concilia de modo impec�vel dois universos, aparentemente d�spares, atrav�s da energia.
 
10.
"Are You Coming Over For Christmas?" - Belle & Sebastian Link
 
Lan�amento exclusivo para o Natal, com distribu���o gratuita atrav�s do MySpace e dispon�vel para download apenas durante 24 horas, este regresso dos B&S no seu formato choninhas vintage foi a prenda perfeita para acompanhar os Mon Cherris.
 

  Pedro Rios  
   
1.
"Paper planes" - M.I.A. Link
 
� um dos muitos momentos de g�nio de Kala. Devia tamb�m estar nesta lista o poder de "Bamboo Banga" ou a felicidade pirosa de "Jimmy". Em "Paper Planes", a perfei��o de "Straight to Hell" dos Clash � encapsulada em pop de primeira �gua, que reflecte e assume a sua pr�pria condi��o de descart�vel, mas que a suplanta totalmente. Os tiros no refr�o s�o o que de mais cool estes ouvidos v�o guardar de 2007.
 
2.
"Infinite March" - David Maranha Link
 
N�o � uma can��o: � uma marcha inexor�vel fixada num c�u psicad�lico. Nunca a m�sica experimental portuguesa soou t�o directa e envolvente, sem que isso signifique ced�ncias. "Infinite march" � o momento alto de um �lbum sem m�cula, que deve tanto aos minimalistas (uma liga��o antiga para Maranha, membro da institui��o Osso Ex�tico) como ao rock fragmentado e livre dos Faust com Tony Conrad ou dos Velvet Underground. Maravilhoso.
 
3.
"All My Friends" - LCD Soundsystem Link
 
Piano com mais n�vel de 2007. Com o punk funk morto e enterrado (deus o tenha), aquela que � talvez a banda rock mais representativa da d�cada faz pop que � capaz de desprezar a estrutura tradicional da can��o: "All my friends" n�o tem os altos e baixos do verso-refr�o-verso; em vez disso, � um cont�nuo crescendo, sempre com o piano a martelar (como � poss�vel que funcione t�o bem?) e a bateria em registo locomotiva.
 
4.
"I'm not" - Panda Bear Link
 
Poderia dizer "Bros", mas outros camaradas j� trataram do assunto. "I'm not" (can��o que, para dizer a verdade, saiu num single de 2005) � o lado menos festivo de Person Pitch, �lbum que cresce a cada audi��o e que se revela prop�cio para todas as ocasi�es. � uma esp�cie de dub pr�-sono, para se ouvir confortavelmente de pijama enquanto se beberica um copo de leite. Noah Lennox tem a capacidade de nos p�r a sorrir e de nos reconciliar com a calma depois do stress di�rio.
 
5.
"Taste" - Magik Markers Link
 
Puro n�vel rock'n'roll. Parece feita para ser ouvida num descapot�vel em poierenta estrada americana, com a garrafa de whisky por perto. A voz de Elisa Ambrogio � um gemido sexy, como uma Kim Gordon a esconder a pervers�o atr�s de uma do�ura que n�o esper�vamos dos Markers - at� 2007 um curioso trio de noise rock, a partir de 2007 uma banda como o rock independente actual tem poucas.
 
6.
"Reckoner" - Radiohead Link
 
Em "Reckoner", os Radiohead recuperam a genialidade de discos anteriores (o disco em que ela aparece, In Rainbows, � apenas superior a Hail to the Thief). Motivo de guitarra esquel�tico, bateria marcial, baixo que se vai insinuando, e, mais importante que tudo isso, a voz de Thom Yorke (aqui num falsete incr�vel) a relembrar que, sem Jeff Buckley ou Elliott Smith entre n�s, ele � talvez a voz mainstream que melhor expressa o mal de vivre.
 
7.
"Sycamore" - Bill Callahan Link
 
Imaginamos Bill, o senhor Smog, de botas texanas, cal�as de ganga apertadas e chap�u de cowboy a fazer a corte a uma cantora country. O rendilhado de guitarras � t�o doce que ouvir "Sycamore" vezes sem conta � um imperativo para quem tem bom cora��o.
 
8.
"Spring and by Summer Fall" - Blonde Redhead Link
 
Raras vezes o indie rock consegue ser t�o transparente: por tr�s da bateria hiperactiva, do riff de guitarra simples e afiado, h� sons em suspens�o que atiram o melhor momento do inspirado 23 para o Olimpo das can��es et�reas.
 
9.
"Archangel" - Burial Link
 
Foi bom entrar em Untrue e sentir o mesmo gr�o que ajudou a tornar a estreia de Burial um dos mais importantes acontecimentos discogr�ficos dos �ltimos anos. Mas "Archangel", tal como o resto do disco, demarca-se pela manipula��o inteligente das vozes. As mudan�as constantes no pitch dos samples vocais que Burial recolhe originam uma confus�o entre masculino e feminino e uma desmaterializa��o de quem canta, condizente com a aura misteriosa do m�sico brit�nico.
 
10.
"Sun & Ice" - The Field Link
 
A batida est� sempre l� (repetitiva, cont�nua), a fazer a cama para voos de sintetizador semi-escondidos em reverb . "Sun & ice" � do melhor que o tecno tem para oferecer a um ignorante na mat�ria como eu.
 

  Rafael Santos  
   
1.
�Saturn Strobe� - Pantha du Prince Link
 
No seu todo This Bliss pode n�o ser arrebatador, mas "Saturn Strobe" � um cl�ssico para a vida. A envolv�ncia mel�dica ou a cad�ncia techno constroem o sonho interplanet�rio que permite o planar estelar perfeito. Um mimo!
 
2.
�Don�t Rock My Boat� - Bob Marley & The Wailers (Stuhr Remix) Link 1 Link 2
 
Quem n�o conhece o original? Stuhr concretizou uma das mais fascinantes reconstru��es do ano 2007. Al�m de devolver a arte � remistura, ergue um bel�ssimo monumento de homenagem ao grande senhor do reggae.
 
3.
�Technologystolemyvinyle� - Moodymann Link 1 Link 2
 
N�o h� nada a fazer quando um dos grandes mestres do techno/ house produzido em Detroit se envolve instintivamente com o jazz. Vis�o beat�fica e soulful, simultaneamente argumentativa e dan��vel.
 
4.
�Little Steps� - Nostalgia 77 Link
 
�We watch little waves � throw up spray/ reach out little hands � give thanks and praise/ for little things � and the simple things for the wind � the sea � the sun/ And now we sit upon earth/ picking fruit from little trees/ See the birds spread little wings/ and Watch clouds dance around the sun.� Poesia no solo f�rtil do jazz et�reo.
 
5.
�To Build a Home� - The Cinematic Orchestra Link
 
Swinscoe descobre no Canad� a voz de Patrick Watson que n�o s� interpreta uma das mais belas can��es do ano, como atribui um delicado esp�rito pop a um projecto nascido nas malhas do nu-jazz.
 
6.
�Forever Begins� - Common Link
 
O rapper de Chicago apresenta o mais polido e apraz�vel tema r&b da temporada. Seja pela busca da eternidade ou pelo simples desejo de expressar na m�sica a sua alma adulta, Common serpenteia-se no hip-hop como um mestre, mesmo com a ajuda do conterr�neo Kanye West.
 
7.
�Black Skin Blue Eyed Boys� - Map Of Africa Link
 
Dois produtores abdicam das manipula��es electr�nicas para se dedicarem � causa rock. Obl�quo, no entanto um dos mais fascinantes e intrigantes temas do ano.
 
8.
�Back to Black� - Amy Winehouse Link
 
Agora pela m�o de Mark Ronson, Amy �Wine & Coca� mergulha fundo nas suas profundas amarguras com a vida, bem como no glorioso caldeir�o da soul de 60. Mais uma confirma��o do regresso saud�vel � explora��o do riqu�ssimo fil�o Motown.
 
9.
"Magnetic City" - Kode 9 Link
 
Num ano em que, ao contrario de 2006, nada de verdadeiramente de interessante se fez no dubstep, "Magnetic City" � um dos raros momentos de brilho. Exceptuando Burial que, na minha opini�o, se afasta cada vez mais das premissas elementares do dubstep, Kode 9 � o �nico com legitimas inten��es.
 
10.
�D.A.N.C.E.� - Justice Link
 
Os filhos bastardos dos Daft Punk erguem um dos hinos das pistas de dan�a de 2007. Fran�a regressa assim � primeira linha do house/ funk colorido e festivo - com um renovado esp�rito aventureiro. French-touch reciclado e dispon�vel para novas especula��es? Veremos.
 

  Rodrigo Nogueira  
   
1.
"Int�l Players Anthem (I Choose You)" - UGK featuring Outkast Link
 
Toda a gente parece ter imensas saudades do tempo em que o Andre 3000 era um rapper e n�o andava armado em Prince ou em bluesman ou entertainer negro dos anos 30 ou l� o que � que ele tem a mania de querer ser agora. �Int�l Players Anthem� mata quaisquer saudades. Pode ignorar totalmente o beat, mas a forma como corta as palavras, deixando s�labas para o verso seguinte, � de mestre. De mestre s�o tamb�m as rimas seguintes: o flow relaxado de Pimp C (uma das grandes perdas do ano, R.I.P.), a destreza de Bun B (a cita��o de �ABC� dos Jackson 5 � de mestre) e os joguinhos de Big Boi (pontos para a refer�ncia chopped & screwed ao div�rcio de Paul McCartney). O beat dos Three 6 Mafia, com um sample de Willie Hutch, adapta-se na perfei��o aos quatro rappers e aos quatro versos numa can��o perfeita. N�o h� necessidade de refr�o (para alem do facto de o sample ser de um refr�o) na melhor can��o (e v�deo, nunca � de mais dizer tudo o que h� para dizer de bom no mundo sobre o v�deo) de sempre sobre os pr�s e os contras do casamento.
 
2.
"Paper Planes" - M.I.A. Link
 
Era suposto o refr�o de �Paper Planes� passar apenas por uma cita��o de �Rump Shaker�, o cl�ssico new jack swing dos Wreckx-N-Effect. �All I wanna do is zoom zoom zoom and boom boom.� Provavelmente n�o deixaram que isso acontecesse e ainda bem. �All I wanna do is * bang bang bang bang * and * recarregar a arma * * caixa registadora *� � muito, muito melhor. Clash e Wreckx-N-Effect numa produ��o do Diplo para uma rapper do Sri Lanka? Incr�vel.
 
3.
"All My Friends" - LCD Soundsystem Link
 
Ele tem dois �ptimos discos � e como disco Sound of Silver � ainda melhor �, mas a obra-prima de James Murphy � que devia ser o prot�tipo da estrela pop dos anos 2000 � � �All My Friends�. � uma can��o sublime sobre crescer e ficar mais velho e sobre os amigos e o cara�as, e � t�o boa que o John Cale at� a versionou muito bem (a vers�o New Order dos Franz Ferdinand n�o rende).
 
4.
"Atlas" - Battles Link
 
Um dos singles mais gloriosamente estranhos de 2007 e uma can��o pop magn�fica. Todos pass�mos horas e horas a tentar perceber o que � que Tyondai Braxton cantava naquela voz alterada ao melhor modo esquilo � h� quem confunda isso com ser irritante, mas n�o lhes d�em aten��o � enquanto aban�vamos a cabe�a com a batida. A melhor banda de math-p�s-rock de 2007, quando todos julg�vamos que tudo isso j� tinha morrido.
 
5.
"Heart it Races" - Architecture in Helsinki Link
 
Ningu�m sabia que eles tinham isto dentro deles. O resto do disco lembra demasiado os B-52�s em vers�o nada de especial, mas �Heart it Races� � uma obra-prima pop. � como se um Timbaland artesanal tivesse pegado nos australianos dando-lhes li��es de dan�a tribais. Uma can��o magn�fica e divertida que mostra que uma banda indie em 2007 ganha muito mais se ouvir muito do que vem de fora do rock e da m�sica anglo-sax�nica do que se andar constantemente a pilhar os mesmos nomes can�nicos do rock das �ltimas d�cadas.
 
6.
"D.A.N.C.E." - Justice Link
 
N�o quero saber. At� a tua av� gosta disto. N�o h� volta a dar-lhe nem adianta neg�-lo. Jackson 5 via Fran�a, n�o h� absolutamente nada a dizer, quer sobre a can��o quer sobre o v�deo soberbo do So-Me.
 
7.
"Roc Boys (And the Winner Is)" - Jay-Z Link
 
A ascens�o e a queda. � a hist�ria de American Gangster, tanto do filme quanto do disco que o filme levou, entre l�grimas (da can��o, claro, que um hustler n�o chora), Jay-Z a gravar. Em �Roc Boys�, entre os samples de sopros, o Hov celebra o facto de ter chegado ao topo da cadeia do tr�fico de droga. O v�deo � uma festa � nada bate o momento em que a palavra �hustlers� � dita e a cara de Rick Ross aparece no ecr�, s� talvez a imagem antol�gica de Diddy, Jay-Z e Nas a fumar charutos �, cheia de gente, onde as bebidas s�o por conta da casa, mas onde se sabe perfeitamente como � que tudo vai acabar. �Roc Boys� � a subida, a descida vem depois, porque o crime n�o compensa a n�o ser nos curtos minutos que dura a can��o.
 
8.
"Stronger" - Kanye West Link
 
� compreens�vel que, depois de anos a pilhar discos de soul e a alterar vozes para ficarem mais r�pidas (ao ponto de ter, ao lado de Just Blaze, revitalizado o sampling no hip-hop, especialmente desses discos), Kanye West se tenha virado para outros lados. Um exemplo paradigm�tico � o sample dos Can em �Drunk and Hot Girls�, mas os Daft Punk em �Stronger� fizeram um �ptimo banger de 2007. West continua a ser um excelente motivador de pessoas � especialmente dele pr�prio � e a transformar da melhor forma os seus limites como rapper em frases memor�veis (�You can be my black Kate Moss tonight� ou �Go ahead, go nuts, go apeshit� s�o algumas das frases do ano). Depois de �Touch It� de Busta Rhymes em que Swizz Beats samplava �Technologic� todos t�nhamos perdido a f� que Daft Punk+rap funcionasse bem, mas West provou que era mentira.
 
9.
"Sensual Seduction" - Snoop Dogg Link
 
O mais importante desta can��o n�o � o v�deo, mas � ele que d� sentido a isto tudo. Foi feito para parecer um v�deo dos anos 80, cheio de refer�ncias ao Prince e todo o carisma do Doggfather, e est� t�o bom que muita gente pensou que era um v�deo com 20 anos. A can��o s� prova que o D-O-double-G s� devia cantar mais � apesar do seu flow incompar�vel. Nunca o engate soou t�o bem (mentira que passa a ser verdade durante a dura��o deste tema) e nunca uma vers�o censurada e editada foi melhor que a original ("sensual seduction" funciona muito melhor que "sexual eruption"). Cl�ssico moderno.
 
10.
"Doing it Right" - The Go! Team Link
 
�Kool Thing� juntava os Sonic Youth ao Chuck D, o rapper dos Public Enemy. Nos anos 2000, os Go! Team voltam a juntar as duas bandas (e muito, muito mais) sem as copiarem. Dos Sonic Youth tiraram as guitarras abrasivas e algumas baterias, enquanto dos Public Enemy tiraram o facto de n�o haver regras e de juntarem milhares e milhares de samples que podem vir de todos os lados em camadas, conseguindo ser bem mais pop que qualquer uma das duas bandas. �Doing it Right� � o segundo single de Proof of Youth � disco que at� tem o pr�prio Chuck D � e, por debaixo das melodias intemporais e de todo o barulho, est� aqui uma can��o dos cara�as.
 

  Samuel Pereira  
   
1.
�A.W.O.L.� - Robert Wyatt Link
 
Os dedos parecem cair sobre os instrumentos. Existe neles o cansa�o de quem acena a comboios que j� n�o passam; o peso de uma pessoa sentada numa cadeira de tampo arqueado com os olhos postos num mundo a que j� n�o pertence.
 
2.
�Someone Great� - LCD Soundsystem Link
 
Uma lengalenga; n�o � mais do que uma lengalenga que se repete �ad eternum�. Contudo, e porque se faz valer de uma melodia que tanto tem de simples como de eficaz (uma ideia sublimemente disparatada: dobrar a linha vocal com uma campainha natal�cia), somos bem capazes de carregar mais algumas vezes nesta coisa que diz �replay�.
 
3.
�Sete portas tenho em casa� - Am�lia Muge
 
Sabemos desde logo que estamos perante uma grande can��o quando ouvimos a primeira estrofe: �Sete portas tenho em casa / uma em cada direc��o / Norte, Sul, Oeste e Leste / outra p�r�s bichos do ch�o / e a de cima pr�a quem mora / l� por Marte ou em Plut�o / mais a que tu arrombaste / e era a do meu cora��o�. No entanto, � o in�cio da segunda estrofe (�Trago o mundo na algibeira��) que melhor parece descrever a ess�ncia do que estamos e iremos ouvir. Desenrolam-se ambientes que v�o da m�sica �rabe ao fado, passando ainda, imagine-se, pelo blues. A culpa � das �giestas de Singapura� e do �maracuj� do Alasca�.
 
4.
��O Inc�ndio� - Jo�o Paulo
 
Imaginem Keith Jarrett a tocar Gy�rgy Ligeti. J� est�? Ok. Jo�o Paulo serve-se dos mesmos ambientes criados por Ligeti nos seus livros de estudos, para depois, tal como Jarrett o fez nas suas sublimes improvisa��es a solo, se libertar dos v�cios de rotina que marcam algum do jazz actual.
 
5.
�Reformation!� - The Fall
 
Quando, em Maio de 2006, os Fall ficaram sem guitarrista, baixista e baterista (permaneceram apenas Mark E. Smith e a esposa, Eleni Poulou), devido ao �comportamento intoler�vel� de Smith, era de crer que o som do grupo ia mudar. �Reformation!� � o tema que melhor expressa essa mudan�a. Ficam as pistas: dois baixos p�s-motorika (escola Neu!/La D�sseldorf); uma guitarra com cio; um sintetizador agora mais ausente do que em �lbuns anteriores; e um Mark E. Smith a ferver em cada vez menos �gua.
 
6.
�Start a War� - The National Link
 
N�o � apenas por causa da guitarra que lentamente acolhe outros instrumentos para depois recuperar a simplicidade despida que antes envergava. N�o ser�, ainda, apenas por causa das letras xoninhas mas lixadas p� porrada. �Start a War� �, sim, uma grande can��o porque soma o tudo ao resto.
 
7.
�Rich Woman� - Robert Plant e Alison Krauss
 
�Sou demasiado branca�, disse Alison Krauss a Robert Plant quando se viu confrontada com a enorme tarefa que � cantar �Rich Woman�. Plant olhou-a nos olhos (conv�m esclarecer que Krauss � de cair para o lado) e disse: �Ouve, querida, tamb�m eu tenho sido branco e, at� agora, tudo o que fiz foi grunhir. Basta grunhires, querida.� Classe, muita classe.
 
8.
�Blue Wedding� - The Lionheart Brothers Link
 
Maravilhoso �pastiche� desagravado de �Surf�s Up� dos Beach Boys � porque grave, s� mesmo a vers�o que David Bowie fez de �God Only Knows�� N�o ou�am (est� no �lbum Tonight, de 1984).
 
9.
�Eu mato, eu construo, eu respiro (eu ca�o e deito fora)� - The Astroboy Link
 
N�o deixa de ser curioso o paradoxo que �Eu mato�� nos apresenta: se por um lado � fruto de uma reclus�o passada � frente de um computador, por outro, descreve paisagens abertas e ac��es em suspenso, ao mesmo tempo que tenta medir a imensid�o.
 
10.
�Red Turned White� - Architecture in Helsinki Link
 
�Red Turned White� � mais Purple Rain do que Purple Rain, mais Midnite Vultures do que Midnite Vultures e mais Places Like This do que Places Like This.
 

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