O Silêncio
· 07 Set 2002 · 08:00 ·
Num momento em que tudo à nossa volta retracta cada vez mais o som, nada melhor do que pensar um pouco no significado do silêncio. Não só para ser do contra, claro!, mas especialmente, para poder chegar à conclusão que todo o aparato que circunda os sons e as imagens só é perceptível porque o silêncio também existe.
O silêncio é hoje detestado por muitos por significar a tão temida solidão ou então, é visto como algo de inútil ou como sinónimo de tédio. Mas será que assim é?
O silêncio não é moda e não está na moda, mas existe no nosso dia-a-dia; é considerado como factor de insucesso, porque o que conta é não estar calado (mesmo que se diga uma quantidade de frases que são ocas de significado!). Pois eu digo que prefiro o silêncio ao vazio das ideias!
Isto faz-me lembrar os debates políticos a que assistimos na televisão, onde parece que quem “ganha” é quem consegue falar mais, ou melhor, quem consegue atropelar o que outro diz mais vezes...
São muitos os tempos de silêncio com os quais convivemos sem nos apercebermos disso: o da alegria, o do desânimo, o do amor, o da concordância ou discordância, o do medo, o da convicção, etc.
O silêncio está associado ao medo que a sociedade, muitas vezes vazia de sentimentos, em que vivemos actualmente tem da solidão. Não fujam do silêncio! O silêncio acompanha a beleza do pôr-do-sol, permite-nos a serenidade de que precisamos para adormecer, pode significar a pureza de um abraço...
Mas o maior dos problemas é que o silêncio não é comercial. Não se pode vender direitos televisivos de um programa em silêncio, o qual seria ainda mais ridículo na rádio, não enche as páginas dos jornais e, especialmente, não está associado ao sucesso.
Mas os momentos em que mais me apetecia poder optar pelo silêncio são aqueles em que o “som” nos é imposto... como é o caso da espera telefónica, durante a qual nos obrigam a ouvir uma qualquer música que detestamos, já para não falar nas músicas ou conversas ruidosas que temos que aturar durante uma aparentemente interminável conversa no táxi, ou a sonoridade que detestamos ter que aturar num elevador enquanto tentamos ter uma conversa com quem vai ao nosso lado, mas quase sem conseguirmos ouvir a pessoa...
É necessário perceber que o silêncio não se explica, ouve-se! Convida-nos à introspecção, e orienta-nos para o que vamos ouvir, permite-nos o reencontro connosco próprios e não acaba porque não tem medida nem fim, é eterno, existe para além de nós na imensidão do universo... Como tal, convido-vos a experimentar... primeiro escutem o silêncio de olhos fechados durante uns minutos e, depois, ponham um cd a tocar e apercebam-se então da imensidão da música e dos silêncios que ela própria contem.
Susana Enes

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