Topes 2011
· 12 Dez 2011 · 22:00 ·

Top 2011 · Top Portugueses 2011 · Topes Individuais · Momentos 2011 · Topes Ilustres

© Sofia Miranda


 

20

Lykke Li
Wounded Rhymes
Atlantic


A tipa mais gira da Suécia voltou a dar que falar. Desta vez, já mais madura, musicalmente, e consistente, conceptualmente. Disposta a quase tudo, Lykke Li revela-se em Wounded Rhymes mais que nunca, reverberando-se ao ponto de vermos nas suas desafinações algo de extremamente sexy. Guilty pleasures à parte, recupere-se o lugar comum: o que fazer num segundo registo, sobretudo quando Youth Novels já se tinha revelado um belo achado de canções várias, sem muitos campos por explorar? Lykke Li não hesitou, arriscou (por vezes demais) e foi bem sucedida. Não fosse isso e Wounded Rhymes estaria agora nas bocas de ninguém. A verdade é que fomos apanhados desprevenidos pela força desta pequena sueca, que ao vivo é uma bomba, e em disco é capaz dos momentos mais antitéticos. A sequência “I Follow Rivers”, “Unrequited Love” e “Get Some” é exemplo disso mesmo. A aposta em percussões épicas, seguidas de momentos de uma intimidade desavergonhada, assumindo os defeitos, e logo voltando a temas pujantes com contornos rock, revelou-se positiva. Um disco de mais altos que baixos, que não mais é que um grande feito para uma Lykke Li, julgávamos precocemente, ainda com muito para dar. Simão Martins

Bodyspace Facebook


 

19

Peaking Lights
936
Not Not Fun


Um caldeirão psicotrópico de proporções épicas, é o que este duo norte-americano do frio Wisconsin nos ofereceu. Frio que não se revela na melodia, que por mais lo-fi cavernoso-industrial que soe, soa sempre a metal a derreter, vapor e forno. Ecos de loops de ritmos algures nas Caraíbas mentais de uns Pram perdidos no tempo e esquecidos na história. É Sargasso Sea a espaços mas numa lógica mais Flying Lizards, como se Cunningham e companhia se tivessem refrescado numa fonte da juventude e regressado aos vinte anos em 2011. A voz feminina de Indra Dunis acentua esse efeito de nostalgia para quem os conhece e reconhece e produz o efeito "em que tudo parece defeito mas soa bem" para quem não conhecia. É pois um disco de releituras, Old Marble Giants com o caldeirão sonoro a viajar por entre locais díspares, Jamaicas ricas de revolução industrial, América do Norte tropical, Inglaterra árida e deserta, viagens espaciais mexicanas, Spaguetti Eastern. Troca-nos as voltas e enquanto dura é um gosto, chega ao fim e é um desgosto. Nuno Leal

Bodyspace Facebook


 

18

Buraka Som Sistema
Komba
Enchufada


Sabes quando as pessoas são fixes e têm mérito e trabalham bem e ainda por cima depois são recompensadas por isso? É muito raro, sim, especialmente em Portugal, mas os Buraka Som Sistema são um desses casos únicos. Não é para dizer "eu estive lá", mas eu estive literalmente lá quando eles tocaram no Mini-Mercado, para aí no segundo ou terceiro concerto deles, e foi incrível. Ainda mais incrível, desta feita mesmo no sentido de "inacreditável", é eles terem chegado onde chegaram e terem um segundo álbum do caraças. É meio conceptual, o que se calhar ajuda à coesão e a que cada cantiga seja uma bomba (e juro que não queria rimar com "komba"). OK, há um ou outro momento que podia ser mais curto, e ainda hoje, e apesar de gostar dela, não sei se a Sara Tavares fica muito bem ali, mas fogo... E como se não bastasse, ao vivo continuam a ser uma cena indescritível de tão boa, tão dançável que põem qualquer pessoa, como foi o meu caso no Coliseu, a suar em bica quando está um frio de rachar lá fora. Não é para todos, é só para eles. Rodrigo Nogueira

Bodyspace Facebook


 

17

The Rapture
In The Grace Of Your Love
DFA


Já tínhamos saudades dos Rapture desde que explodiram em 2003 com o magnífico Echoes e, principalmente, com aquele malhão intitulado “House Of Jealous Lovers” (embora eu confesse, e isto é uma opinião impopular, que acho a “I Need Your Love” tão melhor). E eu digo 2003 porque ninguém se lembra de 2006 e do não tão bom Pieces Of The People We Love. Por isso vamos directos ao assunto: já tínhamos saudades dos Rapture. In The Grace Of Your Love quase - quase - esquece o rock n´roll e prefere, ao invés, focar-se na soul, no gospel e, principalmente, na qualidade fascinante que o house possui; a de ser o bater de um coração, ergo, a base do amor. Se “Sail Away” e “Come Back To Me” são belíssimas faixas em seu pleno direito, “How Deep Is Your Love?” parte a escala: é coisa para destruir pistas, juntar amantes, tornar bonitos gajos feios, espalhar em murais de Facebook como um enorme incêndio; se ainda não a ouviram (a sério que não?) o vosso 2011 foi uma merda e o 2012 vai ser tão mau. In The Grace Of Your Love é, num ano em que o house esteve em grande (Omar-S, Steffi, Fred Falke…) o melhor disco associado ao género, e “How Deep Is Your Love?” a melhor linha de piano de 1986 que iremos ouvir em 2011. Majestoso. Paulo Cecílio

Bodyspace Facebook



 

16

PAUS
PAUS
Arthouse / Valentim de Carvalho


Poderia voltar a descrever o entrosamento entre Hélio e Albergaria (os bateristas-siameses de serviço), que roça a perfeição; a grandeza diabólica do baixo manipulado por Makoto; as sensações transmitidas pelos teclados de “Shela”; as palavras, que permanecem um instrumento mas ganham um protagonismo maior e contornos mais nítidos; ou a forma como tudo isto se agiganta em palco, na troca de fluidos com o público. Mas já estamos fartos dessas conversas – dos trocadilhos com o nome da banda, então, nem vale a pena falar. É melhor, então, concentrarmo-nos na música: Música não linear / Música para dançar / Música para tripar / Música para malhar / Música para queimar / Música para saltar / Música para transpirar / Música para gritar / Música para contemplar / Música para escutar / Música para descruzar / Música para explorar / Música para tocar / Música para inspirar / Música para voar / Música para desmaiar / Música para hipnotizar / Música para iluminar / Música para viajar / Música para acordar / Música para mergulhar / Música para libertar / Música para vaguear / Música para Pausar… Upss! Hugo Rocha Pereira

Bodyspace Facebook


 

15

SBTRKT
SBTRKT
Young Turks / Popstock


Finalmente o momento de consagração de Aaron Jerome, que há uns anos procurava um espaço próprio para brilhar com alguma intensidade. Com Time To Rearrange – em 2007, e em nome próprio –, já ensaiava cruzamentos entre o brokenbeat, a pop, a soul, o funk ou o hip-hop, mas é com o advento do pós-dubstep que reforma e reforça a plataforma que sustenta o caldeirão onde a sua miscelânea r&b normalmente toma boa forma. Este novo projecto, SBTRKT, espelha bem como foi adquirindo uma nova confiança no seu renovado estilo de produção, nomeadamente como soube colher eclécticas reminiscências do drum n´bass, do 2-step, do techno ou do dubstep e as incorpou na sua visão idílica da pop contemporânea. SBTRKT não é um disco capaz de revelar ao mundo uma arrebatadora boa-nova, mas é um disco impecavelmente produzido, daqueles que provocam uma inveja de roer as unhas aos sujeitinhos que por aí andam a vigarizar-nos com merdas parecidas. O casting de colaboradores é igualmente digno de referência, sublinhando-se a excelente participação de Sampha em "Sanctuary", "Right Thing To Do", "Something Goes Righ" ou no brilhante "Hold On". SBTRKT é muito eficiente nos múltiplos rituais urbanos que sugere. Viciante? Absolutamente. Rafael Santos

Bodyspace Facebook


 

14

Ducktails
Arcade Dynamics
Woodsist


O álbum rock de Ducktails, se é que podemos falar em rock numa música que dispensa o poder sónico e prefere instalar-se como banda sonora/muzak benigno, evocativo de memórias difusas. É o disco "de guitarras" de Matt Mondanile, que expressa aqui o seu amor aos Felt, entre outras coisas boas. Há um estupendo instrumental de guitarra, "Porch Projector", dez minutos de beleza enevoada, canções com ar de inacabadas, cheias de erros e charme ("In the swing", por exemplo), uma delícia acústica ("Little Window"), regressos ao passado de sintetizadores dormentes, a fazer jus ao termo hypnagogic pop ("Arcade Shift") e um épico de boa onda, "Killin’ the Vibe", um milagrezinho pop. Tudo isto acontece num disco discreto, quase seco (Mondanile leva o lo-fi a sério, se bem que já tenha anunciado que Ducktails terá um álbum de estúdio), que pode demorar a afirmar-se. Mas, sem ondas, conquista. É um dos óptimos discos de pop de quarto, para juntar aos primeiros de Ariel Pink e a todos de R. Stevie Moore. Pedro Rios

Bodyspace Facebook


 

13

Oneohtrix Point Never
Replica
Software


Oneohtrix Point Never é uma cápsula projectada no cosmos em busca de um reflexo. O viajante solitário Daniel Lopatin muniu-se com gravações de anúncios comerciais dos anos 1980 e descolou rumo ao interior da electricidade estática de um canal não sintonizado, num televisor obsoleto. O reflexo de um reflexo de um reflexo, até ao ponto infinito da luz proveniente do exterior da caverna existencial. Máquina de sombras em movimento. Após o revisionismo de Rifts (No Fun Productions, 2009), duplo álbum subliminal, Lopatin voltou à carga com Returnal (Editions Mego, 2010), onde questionava: “Where does time go?” Siderados pela capacidade de superação sensorial dessas obras, não esperávamos, porém, que Lopatin tivesse ainda mais para dar. “Replica” expande-se muito para além da nossa imaginação. É um disco que não obedece a uma qualquer significação linguística ou estilística. Nem tão pouco segue uma lógica. Remete o ouvinte para o plano da abstracção, tornando cada audição uma experiência única e irrepetível. Gustavo Sampaio

Facebook


 

12

Radiohead
The King Of Limbs
XL Recordings / Popstock


Ponto prévio: este álbum não entrará no pote milionário onde cabem obras como Ok Computer, Kid A ou Amnesiac. Ainda assim, The King Of Limbs eleva-se acima da mediania do muito que se vai produzindo por aí, e é caso para dizer que se fosse da autoria de alguma banda emergente não seria difícil gerar estardalhaço em seu redor. E não sendo um disco imediato (o que nem é de estranhar em Radiohead), recheado de clássicos absolutos ou temas que entrem à primeira – “Lotus Flower” será a que mais se aproxima disso, com aquela linha de baixo e Thom Yorke em grande estilo –, apresenta um punhado de momentos inspirados. Do nervosismo que transpira de “Morning Mr. Magpie” à alucinante complexidade rítmica de “Feral”, passando por momentos mais densos (a perturbante “Codex”) ou a estranha beleza de “Give Up The Ghost”. Enfim, mesmo futebolistas geniais como “El Mago” Pablo Aimar nem sempre se exibem ao mais alto nível, mas guardam mais magia numa simples finta de corpo do que muitos jogadores esforçados em mil correrias pela linha lateral. Hugo Rocha Pereira

Bodyspace Facebook


 

11

Tyler the Creator
Goblin
XL


Quem és tu, Tyler? De onde vens? Para onde vais? Como conseguiste que o teu colectivo ficasse nas bocas do mundo num espaço tão curto de tempo? Foi o poder da internet? Foi a tua persona misantrópica, misógina, suicida? Foi o facto de te estares a divertir que nem um doido, que nem um puto, que nem um punk, como se tivesses plena consciência de que o Sid Vicious era um génio e um atrasado mental ao mesmo tempo? Ou será que é porque o teu Goblin é realmente um disco incrível e uma fuga à opulência do beat? Para lá da incredibilidade de “Yonkers”, “Sandwitches” e “Analog” e da puerilidade de “Transylvania” e “Bitch Suck Dick” o segundo tomo da saga Tyler, the Creator, mentor incontestável do colectivo Odd Future, é um disco para se ouvir no seu todo e repetidamente, sem escolher ou saltar faixas. Não só é uma lufada de ar fresco na pop e no hip-hop (ou, como ser lo-fi sem soar a merda) como irrita muita gente, Tegan e Sara que o digam. E é preciso primeiro irritar muita gente antes de se alcançar o panteão dos grandes. Não é, Kanye? Paulo Cecílio

Bodyspace Facebook


30-21 | 20-11 | 10-1


Parceiros