Topes 2009
· 07 Dez 2009 · 22:13 ·

Top 2009 · Top Portugueses 2009 · Topes Individuais · Momentos 2009 · Topes Ilustres

© Teresa Ribeiro


 

20

Atlas Sound
Logos
4AD / Popstock

O carismático Bradford Cox é um sobredotado prodígio pele e osso, embebido em boa música, da ponta dos cabelos à unha do mindinho dos pés. E já provou que caminha para ser um dos grandes da música mundial. Um egocêntrico criador ávido de aplausos e de sentir o maior do mundo, compreensível porque realmente não há muitos assim. É a luz que guia e ofusca os Deerhunter, cada vez mais ele próprio, enquanto os discos estão cada vez melhores. Pela segunda vez a solo chegou o momento de rendição: a nossa, claro. Bradford faz um “ai é?” e prova que ele realmente é os Deerhunter, tanto que este Logos podia muito bem ser um grande disco deles. Ou seja, qual período Midas, Bradford parece que tudo onde toca neste momento, torna ouro. E então quando por si só já é ouro, como no caso de Laeticia Sadier ou Panda Bear, oh pá, fica platina-diamante-rubi-kryptonite, arquitetando rivais das melhores canções de sempre dos Stereolab ou de Panda Bear, tesouros do disco do convencido insatisfeito que mandou a própria banda à fava no Lux para chamar os virtuosos Haunted Graffitti de Ariel Pink para tocar dez minutos de Neil Young. NL

MySpace


 

19

Ben Frost
By the Throat
Bedroom Community /Flur

Um dos lugares comuns da crítica musical é falar em ambientes “cinematográficos”. O termo poderia ser aplicado a By the Throat, mas o sucessor de Theory of Machines é um exercício magnífico de sonoplastia, porventura mais próximo dos videojogos do que do cinema (de terror). A capa diz ao que vamos: lobos, carros ao fundo, neve, o cenário que remete para uma tragédia acabada de acontecer ou prestes a dar-se. E o disco explora essa tensão contida, cruzando electrónica, camadas de guitarras à Wolf Eyes e cordas. Concordamos em absoluto com o que o próprio Frost disse ao Bodyspace: este é um disco "extremamente vermelho, como se estivesse envolvido por uma névoa brilhante". Entrar nessa névoa é uma experiência, um assalto aos sentido. Sobretudo, com o volume no máximo. PR

Bodyspace MySpace


 

18

Norberto Lobo
Pata Lenta
Mbari

Mudar de Bina, a estreia de Norberto Lobo, em 2007, foi a confirmação do que já ouvíramos em MP3 passados entre mãos amigas, como se de um segredo bem guardado se tratasse. E assim era. Esse tempo, felizmente, já passou e Pata Lenta confirma Norberto como um dos maiores músicos portugueses. Os fantasmas de Paredes e Fahey ainda cá estão (totalmente integrados num discurso próprio), mas há tantos mais pontos de partida e fuga que falar neles já parece redutor. A forma como Norberto saca lampejos de beleza a partir da guitarra põe-no entre os maiores do instrumento, aqui e em todo o mundo. Ouça-se "Brisa Biónica", insinuantemente faheyiana, com aquelas curvas e silêncios em que o americano era mestre. Ou a correria de "Vento em polpa", a languidez quase-jazz de "Marquise Quântica", os harmónicos antes da filigrana soldada nas 12 cordas na hipnótica "Samantra". Grande, grande música. PR

Bodyspace MySpace


 

17

Blues Control
Local Flavor
Siltbreeze / Flur

Num ano em que ambiências pós-new age, psicadelismo tropical e o tão em voga termo Hypnagogic Pop fizeram o grosso da cultura subterrânea norte-americana mais visível, bastou ao duo de Ruff Waterhouse e Lea Cho invocarem aos teclados e batidas rafeiras e solos em pentatónica estelar, as feitiçarias musculadas/amorosas que fazem de Local Flavor o disco rock oblíquo de 2009. Em apenas quatro faixas de aparente pobreza técnica, os Blues Control atiram-se aos mais diversos planos que fazem do rock (esse filho dos blues) enquanto matéria moldável algo de tão expansivo e alienado como forçosamente memorável. 35 minutos de melancolia nocturna inequívocamente perfeitos, com “Tangiers” a elevar-se ligeiramente por via de um pulso rítmico kraut lo-res e pianos doo-wop em luta com arabescos de sintetizador a atirarem tiros certeiros para o infinito. BS

MySpace


 

16

Dirty Projectors
Bitte Orca
Domino /Edel

Um disco longamente antecipado por uma música a meias com o quase-mumificado David Byrne, que depois até nem acaba no alinhamento, só pode ser uma de duas coisas: um grande disco ou um rato parido por uma montanha. Bitte Orca provou ser a primeira dessas possibilidades e provou também que o ex-Talking Heads está longe de apontar os pés para a cova – artisticamente falando, claro está. Os Dirty Projectors são o sonho-molhado-tornado-realidade de qualquer puto indie que secretamente alimenta o anseio de cair no goto da imprensa especializada. Desta vez, a imensa faladura justifica-se: o disco tem aquela tensão arejada que aprendemos a amar nos melhores discos pop ("Stillness Is the Move"), tem aquela África no coração que insistimos em aglutinar ("Cannibal Resource") e tem até uma ligeira citação de Nico em "Two Doves". É por álbuns assim que a Brooklyn de hoje continuará a ser lembrada durante uma porrada de anos. HG

MySpace


 

15

Mos Def
The Ecstatic
Downtown / Nuevos Medios

Sem que muito boa gente desse por isso, The Ecstatic foi-se segurando, ao longo dos meses, como um dos mais consistentes discos de hip-hop em 2009. Olhando para a obra anterior de Mos Def, é fácil concluir que o rapper vai alternando edições menores com álbuns maiores de sampling e rimas políticas. Apoiado na produção por peixe grande como Madlib, Chad Hugo e J Dilla (com beat oferecido antes de fazer tijolo), Mos Def abre com um discurso decisivo de Malcolm X e, mais à frente, sampla o digníssimo pai do afrobeat, Fela Kuti. Este é, pois, um disco de reverência e de referências, como a referência à guerra no Iraque do ponto de vista do puto que leva com bombas em cima ("Auditorium") ou o gangsta rap sabidão de "Pistola". Para o final, há a participação de Talib Kweli e leves pinceladas samba e funk. Um assombro! HG

MySpace


 

14

Morrissey
Years of Refusal
Universal

Morrissey tem alternado entre a excelência e a mediania. A mediania até lhe fica bem, diga-se, já que a sua persona valoriza essa qualidade face à suposta transcendência e rebelião da pop (“Now this might surprise you, but I find I'm OK by myself”, canta ele em “I'm OK by myself”). Mas isso é uma conversa teórica que não cabe aqui. Years of Refusal não é um disco mediano. Não atinge o génio dos Smiths, mas esse ponto de comparação é ingrato. Morrissey foi ao punk buscar as guitarras e a produção (do saudoso Jerry Finn, conhecido pelos trabalhos com bandas pop-punk como os Green Day e os Offspring) e o resultado foi uma fabulosa bizarria. “Something is squeezing my skull”, por exemplo, inventa uns Ramones existencialistas – o mal-estar do punk casa bem com Morrissey. Este novo Moz, mais eufórico e musculado, convive bem com o classicismo pop de canções como “That's how people grow up”. Ingredientes mais do que suficientes para um dos melhores discos a solo do inglês. PR

MySpace


 

13

Major Lazer
Guns Don't Kill People... Lazers Do
Downtown / Nuevos Medios

O dancehall é uma criatura estranha, disforme, nem sempre agradável segundo os padrões do bom gosto (uma ditadura que de pouco serve a não ser afagar mentes inseguras). Os Major Lazer, dupla de Switch e Diplo, perceberam-no, foram à Jamaica e vieram com um disco que leva o género para novas contaminações. Guns Don't Kill People... Lazers Do confirma é a elasticidade enorme do dancehall, mas, sobretudo, o enorme talento de Switch e Diplo na mistura de fontes sonoras numa música ímpia, suja e despudorada. “Hold the Line”, com Santigold, é um dos mísseis rítmicos do ano, “Keep It Goin' Louder” é uma maravilha de auto-tune, com Nina Sky super doce-picante, e, no meio da festa, há pérolas roots como “Can’t Stop Now”. PR

MySpace


 

12

Jim O'Rourke
The Visitor
Drag City / Flur

Em consonância com a sua excentricidade arrogantemente humilde, The Visitor poderá ser encarado como um disco de pop pomposo. Viesse de nenhures e seria um fracasso, vindo de Jim O'Rourke trata-se de um álbum cujo apelo universal não cede a facilitismos em crescendo emocional, nem desvios avant-garde só pelo choque. Um gajo que tem o descaramento de não cantar uma única vez ao longo destes 38 minutos, e consegue ainda assim englobar todos os trejeitos que fizeram de obras passadas como Eureka ou Bad Timing monumentos à glorificação da música norte-americana popular, só pode ser desculpado por ser efectivamente brilhante. Que se permita a arrogância a quem tem direito. The Visitor é mais uma peça essencial de uma das mentes mais fascinantes dos últimos 15 anos. A sua obra é reflexo disso mesmo. E é inquestionável. BS

Bodyspace MySpace


 

11

Lindstrøm & Prins Thomas
II
Eskimo / Ultima

Iguais a si mesmos, os noruegueses Lindstrøm & Prins Thomas criam alguma da mais ecléctica música contemporânea - sobre os desígnios da pop -, sem inventarem nada. Lá estão as habituais referências ao space-disco, ao funk, ao rock progressivo, à pop, a Giorgio Moroder e sabe-se mais o quê, tudo embrulhado numa elegante manta de retalhos constantemente iluminada por uma criatividade que tanto define a personalidade da dupla como o seu eloquente estilo de escrita sonora. Mais que produtores, Lindstrøm & Prins Thomas são estetas com um desígnio definido. Juntos compõem num ápice tudo o que de essencial se deve ouvir quando o objectivo é uma banda-sonora para uma longa viagem pelo espaço sideral. Apesar do ponto de partida ser desconhecido, II traça um longo e coerente azimute em direcção ao infinito, suspeitando-se que a viagem comece em Ibiza com uma indumentária latejante e repleta do mais glamoroso charme. RS

Bodyspace MySpace


30-21 | 20-11 | 10-1


Parceiros