Topes 2009
· 07 Dez 2009 · 22:13 ·

Top 2009 · Top Portugueses 2009 · Topes Individuais · Momentos 2009 · Topes Ilustres

© Teresa Ribeiro


André Gomes

Neil Young está vivo e recomenda-se
A reabertura do Bodyspace.net e, ao mesmo tempo, a festa resultante da escolha dos 50 melhores singles desta década que agora termina. Foi no Café au Lait, no Porto, e dizem que foi de arromba.
Ver, finalmente, o enorme Neil Young em cima de um palco pela primeira vez. Aconteceu tudo no Primavera Sound e foi exactamente como tinha de ser: ouvir aquela guitarra a rugir daquela forma nas mãos de Neil Young é uma das 100 coisas a fazer antes de morrer.
A repetida confirmação que os Animal Collective são uma das melhores coisas que aconteceram a esta década musical. Depois de Feels ou Sung Tongs, Merriweather Post Pavilion é mais um abanão profundo nas estruturas musicais desta década.
O CCB nem parecia o mesmo com o incrível concerto de Seun Kuti, que celebrou como tinha de ser o afrobeat que nasceu das mãos do seu pai, o saudoso Fela Kuti. As pessoas ainda aguentaram metade do tempo sentadas nos seus lugares mas a partir de certa altura a
Inevitavelmente, a morte de Michael Jackson que marcou o ano musical. A morte universal, digamos. Mais fresco ainda, a morte de um dos que era como nós, excepto no enorme talento na guitarra. Jack Rose tinha 38 anos e uma arte imensa nas mãos.
As tardes de sábado pelas ruas do Porto entre a Muzak e a Rua do Almada (Louie Louie, Lost Underground e Retroparadise) na procura de LPs. Algumas raridades e sobretudo muitas descobertas.
A “chegada” de uma data de “novos” nomes como os Girls, Ducktails, Universal Studios Florida, Health. Alguns deles estão no incrível documentário Live at the Smell que capta muito bem alguma da música mais entusiasmante dos nossos tempos.
Passados 15 anos desde o seu lançamento, Grace de Jeff Buckley continua a soar como um disco fundamental de uma voz que se calou muito cedo – demasiado. As suas palavras e as suas canções, essas, têm cada vez mais peso e importância na vida de milhares de pessoas.
Descobrir Zola Jesus e a belíssima “Clay Bodies” e sentir aquele nervoso miudinho pela excitação do que pode vir ainda daqui. The Spoils é um dos discos do ano e a certeza que o futuro só reserva coisas boas para Nika Roza Danilova.
Devorar com alguma intensidade a trilogia My Aim Is True, This Year's Model e Armed Forces, de Elvis Costello, ou três dos mais incríveis álbuns que o final dos anos 70 conheceu.


Bruno Silva

Ninjas!
Concertos Skaters related no Barreiro. Melhor noite de 2009. Amor puro em todas as frentes e um obrigado um pouco mais especial para a Filipa.
A vitalidade da UK Funky (House) ao longo de todo o ano. Prova indelével de que o género é a cena mais importante a acontecer em terras britânicas desde o advento do Grime. A escolher um lista das 50 canções essenciais em 2009, 30 delas dançariam nestas águas. A lacuna de lançamentos oficiais constituiu uma óptima desculpa para voltar a ouvir rádio.
Mudança da pacatez boémia de Coimbra para uma apatia aprazível em Lisboa. Ainda a perscrutar as dinâmicas e a amealhar pequenos momentos.
Pacific City Sound Visions na Radio Centraal. Spencer Clark a resgatar as memórias mais refundidas e os sonhos mais obtusos naquela que foi a banda sonora perfeita para um Verão estranhamente difuso. Adequadamente nostálgico. In the zone tornou-se parte do meu léxico.
O episódio 10 de The Office. The Wedding foi um especial de 40 minutos com espaço para albergar tudo o que de melhor a comédia americana tem feito nos últimos anos. Rédea livre às pequenas idiossincrassias das suas personagens enquanto referencia fenómenos Youtube, ternura e embaraço em igual medida. Absolutamente perfeito.
Refeições de entradas. Nota especial para o salmão fumado.
JCVD. Por tudo aquilo que Jean Claude Van Damme nunca foi. A persistência da memória.
Centro Comercial Imaviz aos sábados à tarde. Calças de fato de treino e “Eyes Without a Face” em fundo. Tudo que de bom poderá existir no infâme termo Hipnagógico habita nessas paredes verdes.
Porque 2009 também se fez de abismos necessários, os meses de Junho e Julho levaram o título de “Período mais deprimente da minha vida” enquanto se revelaram também os mais activos a nível de produção artítica. Expulsar demónios. 
Sam Merengui a deixar uma mão cheia de belíssimos discos sobre diferentes nomes. O ocultismo pós-black metal de Megafauna de Yoga, a new new age cósmica de Bermuda Telepathe de Explorers ou as ambiências de Miami Vice via lo-fi de fita de Flamingo Breeze constituem o cerne de um retrato multifacetado da personalidade mais secretamente essencial deste ano.


Eugénia Azevedo

A Grand Place de Bruxelas à mercê do jazz
A oportunidade de ver os Calexico ao vivo em Vigo, no Centro Cultural Caixanova – sala de espectáculos belíssima a fazer lembrar o nosso Theatro Circo. Um concerto soberbo integrado na digressão que promoveu Carried to Dust sem contemplar Portugal.
A surpresa que foi Zoetrope, o álbum, mas sobretudo a performance. A simbiose inesperada e feliz entre o coreógrafo Rui Horta e os Micro Audio Waves testemunhada no Teatro Carlos Alberto.
O regresso a Bruxelas e o sorver de tudo o que a capital belga proporciona, incluindo a possibilidade de comprar discos na Boîte à Musique e na Caroline, visitar o Bozar e aproveitar a Brussels Jazz Marathon apanhando concertos aqui e ali.
A deslocação a Coimbra para espreitar o Jazz ao Centro.
A arte inopinada de saber separar o trigo do joio na obra de Eric Clapton. O fascínio pelos Cream e Derek and the Dominos.
“Jesus, Etc” e “Impossible Germany”, dois momentos grandiosos em Braga, aquando do concerto dos Wilco.
A rendição a Charlie Parker e a constatação de que ele pode fazer tanto pela vida de um adulto como os Smiths pela vida de um adolescente.
O namoro aos anos 60 e 70 e as horas de companhia proporcionadas por Kinks, Byrds, Who, Beach Boys e outros saudosos protagonistas.
O filme ‘O Complexo de Baader-Meinhoff’ enquanto retrato de uma sociedade alemã em mudança, que viria a gerar no seu meio uma trupe de pessoas apostadas em criar um género musical único, embrião da música electrónica.
O tilintar das chaves da casa nova.


Miguel Arsénio

O diabo e Weatherman
Uma vez na vida: meter-me num carro com o Hélder rumo a Portimão para ir ver My Bloody Valentine num festival em que só podiam estar por lapso (ao lado de Linkin Park e Offspring). A verdade é que “Thorn” e “When You Sleep” aproximaram o céu do Autódromo Internacional de Portimão. Os MBV brindaram depois a rapaziada que esperava por Offspring com um muro de ruído de 10 minutos e receberam em troca manguitos e lenços brancos. O sorriso no meu rosto era igual ao do Cartman quando vê um ditador na televisão.
Namoro espanhol: alinhar no dream team (Catarino, Leal, Margarida e eu) que fez reportagem de fundo no Offf de Oeiras . Dar uma lição de PES ao Catarino, com a desvantagem de ter alguns botões trocados no meu comando.
Os mais fofinhos: verificar, no Teatro da Luz, que Kimya Dawson é o Taj-Mahal do carisma; fazer a viagem até Coimbra para um fim-de-semana de revelações: o magnífico karaoke de Jens Lekman, uma t-shirt de Steve Zissou, a nova Ásia com o Bruno, queijo parmesão e, mais tarde, o faro fotográfico da Cláudia Santos.
Muita droga: o rei Ariel Pink no Lux a mostrar quem dita a parada no campeonato das canções filtradas pela memória de putos que perderam muito tempo a ver televisão e a encher a cabeça.
A lenda: viver, em Sines, o sonho de estar perante o herói pessoal Lee “Scratch” Perry.
Mais droga: perceber que 200 Million Thousand não só é o grande disco rock do ano, como também pretexto perfeito para que os Black Lips deitassem a casa a baixo na Caixa Económica Operária.
A figura: B Fachada, pelos dois grandes discos, pelos bonitos concertos e por todos os diálogos proporcionados com as mais diversas pessoas.
Bonito de se ver: os questionários da Flur, com o pretexto de celebrarem o Dia da Loja de Discos, ofereceram tridimensionalidade ao gosto musical colectivo de gente que ainda compra discos.
E Deus criou a copywriter: o ano serviu também para descobrir, com indecente atraso, o génio em Catarina Matos, a incontestável rainha do trocadilho online.
Essencial: salmão fumado e abacaxi natural. Não podia ter passado sem eles este ano.


Nuno Catarino

Paz de la Huerta
A experiência religiosa de ver o genial Joe McPhee em solo absoluto de saxofone alto, no festival Jazz Ao Centro em Coimbra.
Compensando a semi-desilusão que foi o novo disco (Tarot Sport não é muito bom, é só bastante bom), os Fuck Buttons deram com um concerto brutal na ZDB, prenda inesquecível em dia de aniversário.
Após completar a discografia essencial mínima (Footloose!, Touching, Closer, Ramblin' e Open To Love), assistir na Culturgest a um emotivo concerto de Paul Bley que, apesar da debilidade física, ainda é capaz de criar música de extraordinário lirismo.
Cantarolar as cançonetas infantis de Kimya Dawson na quase-intimidade do Teatro da Luz – sejam dadas graças a Juno.
A actuação incrível de Peter Evans em solo de trompete no Jazz Em Agosto, conjugando uma técnica sobre-humana com a herança da fisicalidade extrema de Evan Parker.
O quarto aniversário da revista jazz.pt e a renovação da sua linha gráfica - um projecto no qual tenho o maior prazer em colaborar; a realização do festival jazz.pt, que celebra a longevidade da única revista de jazz em Portugal.
O magnífico regresso de Jim Jarmusch com The Limits of Control, revisitação de Madrid na coolness de Isaac de Bankolé, no doom da banda sonora e no olhar quase pornográfico de Paz de la Huerta - destacada vencedora do prémio actriz/musa do ano.
A brilhante encenação de The Sound and the Fury (April Seventh, 1928) pela companhia americana Elevator Repair Service na Culturgest, um excelente trabalho de reinterpretação do texto de Faulkner.
A descoberta - tardia - dos profusos labirintos de Pynchon; o prazer de vibrar com a violência de Mailer; fechar o ano com o épico de Bolaño.
Cervejas alemãs de trigo, Erdinger e Franziskaner.


Nuno Leal

António Sérgio
Não me lembrava de um ano começar logo com o melhor álbum do ano. Os Animal Colective estão cada vez maiores, são o grande nome desta década de 2000.
Um ano inteiro sem George W. Bush.
Os “nervous breakdown” de Nathan Williams dos Wavves que anulam concertos. Mas talvez ainda este ano, consiga um dos momentos do ano na ZDB (será desta?).
Ao ritmo do fantástico: Ariel Pink and the Haunted Graffitti com Deerhunter no Lux, qual dos dois, o melhor concerto. E ainda houve Bradford Cox com os Haunted Graffitti a encerrar a noite com Neil Young. E os Fuck Buttons na Zé Dos Bois, rendição absoluta, no dia de anos do Catarino.
O Festival Offf, grandes sons da Raster Noton em grande companhia Bodyspace, pena só não ter dado para um dedinho de PES na Playstation com “vocemecês” ilustres viciados. Mas deu para ver a palestra fabulosa de PES, o novo Norman McLaren da animação em “motion graphics”.
A pena de não ter podido ir ver a Kimya Dawson ou os Black Lips, ou pior, o super-hiper-desgosto de nem imaginar que os My Bloody Valentine iam tocar no Algarve num festival manhoso. Ainda hoje não acredito.
A surpreendente e claro, super-mediatizada morte de Michael Jackson e as mais esperadas e não tão mediatizadas idas de Raul Solnado e Sir Bobby Robson.
O FC Porto mais uma vez tetra-campeão e a magia e o sonho do Porto ao empatar em Manchester para depois a magia e o pesadelo do Cristiano Ronaldo a #####-nos no Dragão e a ida de Lucho, Licha e Cissokho.
A viagem de uma vida, California-Arizona-Nevada-Utah e a não ida ao The Smell em L.A. porque não deu.
A maior perda da rádio portuguesa: António Sérgio, descansa em paz, obrigado por tudo o que nos mostraste-ensinaste.


Nuno Proença

Rendido à Evidence
Experimentar pela primeira vez as convulsões provocadas pela audição de Echonoecho.
"Dancing Choose" no Alive. Tunde Adebimpe em papel de MC possuído, e refrão que nos parece estar só a hipnotizar-nos com parvoíces antes de recomeçar a loucura.
O golo de Carrick em Wigan a 4 minutos do fim do jogo, garantindo praticamente o almejado tricampeonato (AND THE REDS GO MARCHING ON! ON! ON!).
House Of Flying Daggers como melhor ariete sonoro de 2009, antecipando o regresso mais perfeito da história destas sequelas hip-hop.
Compensar semanas de espera paciente com uma viagem à Louie Louie para comprar, desembrulhar, examinar, converter, e finalmente ouvir, sorver, fruir e delirar com Monoliths & Dimensions.
Jurar junto dos contactos mais próximos a excelência de The Liberty Of Norton Folgate.
A perfeição em forma de música e carisma alcançada pelos Faith No More no Sudoeste.
Zu e Isis a demonstarem o que deve ser um concerto em que o ruído é suposto trazer megawatts de adrenalina à assistência.
RIP Raúl Solnado e Bobby Robson.
O fim da selecção portuguesa graças à dupla Queiroz-Liedson e o consequente estado de viuvez.


Pedro Rios

Sun Araw, ondas púrpuras, Verão eterno
Confirmação do génio dos Animal Collective, banda da década.
A descoberta da música de Ducktails, perfeito para o regresso às ondas e à praia. Tudo num Verão que só quis acabar quando o clima já parecia troçar da ordem natural das coisas - ou seja, já em Novembro.
"Horse Steppin'", canção de 2008, mas dona da vibe mais positiva neste ano de "Verão eterno". Oportunidade para fazer spam benigno constante junto dos amigos ("Já conheces a melhor canção de sempre?")
A possibilidade de falar com Richard Youngs, um dos músicos mais interessantes do mundo, e descobrir do outro lado uma pessoa normal, habituada a rotinas, à família. Imagem que casa bem com os tratados sobre a passagem do tempo que tem feito, sobretudo a solo (e este ano teve mais dois: Beyond The Valley Of Ultrahits e Under Stellar Stream).
A possibilidade de entrevistar Jello Biafra, ídolo punk da juventude, pensador radicalmente livre. Vê-lo tocar em Santiago de Compostela também promete ser um dos momentos do ano.
O rigor auto-imposto na espera por Monoliths & Dimensions, a grande obra dos Sunn 0))). Ainda não tinha sido editado e algo parecia já o indicar. Mereceu, por isso, que esperasse que chegasse à Lost Underground para o trazer para casa.
Os dois Emeralds e Stellar OM Source numa casa do Porto com couscous na mesa comunal, cassetes de jazz e boa e hospitaleira gente.
O concerto de Tropa Macaca no Passos Manuel, duo que foram a excepção à regra num ano muito mortiço para a música experimental filha do rock que no triénio 2005-2007 nos entusiasmou (falamos dos CAVEIRA, Frango, Loosers e outros - onde andam, malta?).
A descoberta de novos amigos, cinco/seis anos mais novos do que o velho Rios. Gente especial.
A descoberta do Gerês e de Londres com a Ana.


Rafael Santos

Foda-se, quem são vocês?
JJ Abrams recicla Star Trek sem desprezar os elementos que fizeram da serie original de Gene Roddenberry uma referência incontornável da ficção cientifica.
DJ Sprinkles renovou-me o gosto pela house-music com o inteligente, genuíno e aveludado Midtown 120 Blues.
Viagem propositadamente solitária de Lisboa a Mangualde e volta (com passagem pela belíssima Vila de Góis) numa curta, descontraída e sã semana de férias.
Dr Boondigga And The Big BW, dos neozelandeses Fat Freddy`s Drop, é de longe uma das banda-sonora mais eclécticas do Verão 09.
Falty DL é dubstep sem o ser, demonstrando, tal como Burial, que o género não se consome a si mesmo no pragmatismo.
Cacique 97 é a revelação da qualidade que tínhamos guardada e não sabíamos.
Moritz Von Oswald Trio explora nova caverna sonora provando que há mais vida para além do dub techno.
Can You Dig It ? — The Music and Politics of Black Action Films 1968 - 75 da Soul Jazz Records. A colectânea do ano que nos leva, vezes sem conta, a perguntar: "Is it black enough, mother fucker?"
Os Sa-Ra Creative Partners criaram um dos mais positivos e conceptuais discos hip-hop (ou lá o que seja) com o impressionante e surreal Nuclear Evolution: The Age Of Love.
Shackleton abre em definitivo, e de forma coerente, o livro de estilos que une o dubstep ao techno.



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