RMA é sinónimo de música. Jornalista do Blitz e da Antena 3 (Rimas e Batidas), rosto da editora Rockit e da loja T-Rox, DJ... Se não vos chegar, podem acompanhá-lo também em 33-45.
Que papel consideras que a música desempenha nas transformações sociais e políticas?
Penso que representa um papel semelhante ao das outras artes, do cinema, da literatura. Eventualmente, tratando-se de música pop, pode ter um impacto maior que o da literatura ou das artes plásticas. Mas a arte tende sempre a comentar o pano de fundo social. A História da arte é feita desses momentos, tem essa capacidade e é por isso que nos transporta de olhar para o que se vai passando à nossa volta. A música tem tido um papel particularmente activo de documentar, comentar e instigar esse tipo de mudanças. É curiosa a explosão musical na África pós-colonial e na América dos direitos civis e até antes, na América do movimento sindicalista, etc. A música acaba por ser uma maneira bastante eficaz de comunicar ideias e ideais. É um veículo que rapidamente chega às pessoas e se adapta à própria visão que as pessoas têm dessas transformações da sociedade. Mesmo quando se fala em código, como acontecia no Portugal pré-25 de Abril, a música tem essa capacidade de transmitir as mensagens porque quando existe o mesmo comprimento de onda, quando quem canta e quem está a ouvir partilham duma mesma sintonia, essa mensagem vai ser naturalmente descodificada. Resumindo: se calhar, mais do que outras artes, a música tem essa capacidade de chegar a mais pessoas e por isso tocá-la de uma forma muito mais rápida.
Qual é a tua opinião sobre a manifestação de 12 de Março em Portugal e o seu impacto?
Penso que as consequências políticas da manifestação foram zero. Penso que um dos problemas da manifestação foi não se perceber contra quem se estavam a manifestar, não haver um propósito único.
O que achaste ao ver músicos de diversas gerações (Vitorino; Fernando Tordo; Blasted Mechanism; Kumpania Algazarra...) unidos numa mesma manifestação?
Não sei bem o que hei-de pensar sobre isso. De certeza que houve quem estivesse na manifestação porque concordava com os motivos da manifestação e quem tenha estado na manifestação porque o manager sugeriu que fossem, porque poderia ser um gesto interessante para a carreira. Não sei, não faço ideia. Acho que se sentiu ali um fervor que há muito tempo não se sentia. Isto é o país dos brandos costumes, do deixa andar, onde ninguém se agita, ninguém se manifesta. E ao sentir-se esse empenho global, que afinal não foi só duma geração ao que parece, foi de várias, houve quem queira ter marcado presença.
Qual é a tua opinião sobre o facto de cidadãos de vários países, não só na Europa como em África, Médio Oriente, etc, estarem a vir para a rua gritar contra os respectivos regimes políticos?
Ainda não percebemos bem qual será o dia seguinte nesses países. Mas gostaria que se evoluísse em todos os casos para sistemas democráticos e um pouco menos da Idade Média do que os que parecem existir nessas zonas do globo. Nestes países viveu-se demasiado tempo isolado do mundo, e agora as novas tecnologias, o facebook, acabam por ser janelas para outros tipos de vivência, e isso se calhar isso também instiga as novas gerações a quererem mudar alguma coisa. Gostava que as coisas nessas partes do mundo se resolvam. Eu adorava visitar as pirâmides do Egipto, mas toda a minha vida achei que era um destino turístico onde nunca ia investir porque todos os anos se ouvia falar de fundamentalistas a meterem bombas e a matarem turistas. Já chega deste tipo de comportamento no mundo e era bom que estas agitações conduzissem a uma coisa mais pacífica e civilizada.