A Revolução Vai Ser Amplificada
· 25 Abr 2011 · 19:55 ·


Guitshu

O actual vocalista dos Blasted Mechanism improvisou, em plena manifesta��o na Avenida da Liberdade, em Lisboa, um refr�o que seria repetido como um mantra durante o trajecto at� ao Rossio.

Que papel consideras que a m�sica desempenha nas transforma��es sociais e pol�ticas?

Se a m�sica reflecte o que acontece na sociedade no dia-a-dia e as coisas que nos afectam, � muito normal que seja uma voz muito forte tanto das coisas boas como do descontentamento que sentimos. Acaba por ser um canal para extravasar essa insatisfa��o. E a m�sica � algo muito directo, est� sempre presente, � um motor quase subliminar.

Qual � a tua opini�o sobre a manifesta��o de 12 de Mar�o em Portugal e o seu impacto?

� partida foi a concentra��o de muita gente que saiu � rua, e isso s� por si � muita energia concentrada no objectivo de mostrar o descontentamento pela situa��o que estamos a viver; e, ligado a isso, uma vontade de mudan�a para uma coisa mais justa, sem partidos, sem cores pol�ticas. Um patamar se calhar n�o t�o ligado ao plano material, que � o que nos tem pregado a rasteira constantemente. Cada vez precisamos mais de coisas que n�o est�o ligadas ao material, como amigos reais. Enquanto impacto, no dia a seguir o IVA do golfe baixou para os 4% (risos). Senti um bocado que foi um tiro de vaporizador. Tirando a no��o de que podemos mobilizar as pessoas para causas sociais que n�o s�o o futebol, n�o foi um tiro certeiro, porque n�o houve um target espec�fico. Vejo um bocado como um primeiro passo, mas precisamos de outro tipo de iniciativas mais dirigidas.

Como � que surgiu a ideia do �Puxa Pra Cima!�? Primeiro veio o refr�o e s� depois o resto da letra?

Aquilo foi um chav�o que ficou dum processo de est�dio, durante uma jam session em que entrei num mega-buraco e a �nica forma de sair dali para fora era essa frase. Normalmente, durante o processo criativo fazemos mini-rituais de entrega a coisas maiores, e nesse processo abriu-se um v�rtex duma energia mais esquisita que me sugou. E essa foi a �nica coisa que me conseguia fazer sair desse buraco. Na manifesta��o a coisa colou automaticamente porque foi exactamente esse o esp�rito. Temos que sair daqui, e s� podemos fazer isso se puxarmos a nossa energia para outro n�vel mais elevado. Cantei isso quando est�vamos a tocar o �Athom Bride Theme�, n�o tinha propriamente uma m�sica. E o pessoal agarrou naquilo. No dia seguinte fomos para o est�dio, escrevi uma letra � que n�o precisou de ser muito extensa porque a frase do refr�o j� diz muito � e fizemos aquilo a t�tulo de descarga da manifesta��o dia anterior.

O que achaste de ver m�sicos de diversas gera��es (Homens da Luta; Vitorino; Fernando Tordo; Kumpania Algazarra...) unidos numa mesma manifesta��o?

� uma coisa que n�o costuma acontecer muitas vezes, os m�sicos abra�arem uma causa, sem cachet. Mas os m�sicos s�o respons�veis por ajuntamentos de pessoas. E por que n�o t�-los numa quest�o social, juntando m�sicos de diversas gera��es? Foi com muita felicidade que vi isso. Foi um dia muito especial, tamb�m por isso.

Tiveste conhecimento do que o m�sico Ikonoklasta fez em Angola, convocando durante um concerto uma manifesta��o contra o regime de Eduardo dos Santos, tendo sido detido nessa mesma manifesta��o? Qual a sua opini�o sobre esses factos?

Vi as not�cias e soube que ele depois foi detido, nessa manifesta��o. Acho que se pagam determinados pre�os por determinadas posi��es que tomamos. Mas isso � que d� pica � coisa. Se n�o tomarmos esses partidos, a nossa vida e a nossa carreira v�o ficar mais pobres� se n�o formos capazes de vestir a camisola da mudan�a. O punk foi uma das coisas que me fez tocar e est� l� essa energia. � por a� o caminho, n�o vejo o artista desligado desse papel. � nessas lutas de transforma��o que a nossa consci�ncia muda.

Qual � a tua opini�o sobre o facto de cidad�os de v�rios pa�ses, n�o s� na Europa como em �frica, M�dio Oriente, etc, estarem a vir para a rua gritar contra os respectivos regimes pol�ticos? E o que pensa de algumas dessas manifesta��es estarem a ser inspiradas ou convocadas por m�sicos?

Acho que estamos a ser varridos. Alguma coisa maior nos est� a fazer acordar, e rebenta com padr�es e dogmas. E n�s n�o vamos ficar � margem disso. Nem as sociedades nem os regimes que est�o estagnados. Vamos ter que evoluir. Os artistas, pelo tempo livre que lhes � disponibilizado para reflectir sobre as coisas que os rodeiam, t�m uma certa responsabilidade em devolver as conclus�es e pensamentos a que v�o chegando. Boa parte do meu conhecimento foi-se abrindo atrav�s da m�sica, que me fez levantar determinadas quest�es e rasgar horizontes.






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Hugo Rocha Pereira
hrochapereira@bodyspace.net

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