Soda Káustica / Renegados de Boliqueime
Porto Rio, Porto
22 Jan 2005
Há concertos e há acontecimentos. O regresso da banda mais mítica do punk rock portuense - e, porventura, a única com lugar na história – preencheu todos os requisitos para se enquadrar mais na segunda categoria de eventos. É óbvio que houve música, mas todos sabemos que nestas coisas do punk rock os melhores momentos derivam de outros factores. O Porto Rio encheu-se de punks e membros de outras faunas, da velha e da nova escola. Diga-se que estava lá “toda a gente†e não tenho memória de ver aquele espaço tão cheio.

Antes da banda de Frágil e Giró, tocaram os Soda Káustica, mais oleados do que o habitual e com boa recepção do público que subiu ao palco algumas vezes para mimar a banda. Pelo meio há canções como “Eu Não Pago†e outras insubmissões a preceito, num blend entre o punk da velha guarda a la Mata-Ratos e Censurados, com uma dose extra de agressividade. Bom material para o pogo, portanto.

Se a confusão no concerto dos Soda Káustica era algo que já não se via em terras nortenhas há algum tempo, que dizer sobre o concerto dos Renegados de Boliqueime? Tentativa de descrição: o exíguo palco foi invadido dezenas de vezes; o microfone de Frágil foi “ocupado†por alguns oradores de serviço a pedir a redução do preço da cerveja para valores menos obscenos, aos quais o vocalista dedicava cínicos "Estás proibido de falar!"; o povo sedento “roubava†cerveja à banda; vários temas tiveram que ser recomeçados tal a confusão em cima de palco; um fotógrafo mais corajoso teve dificuldades em tirar fotografias, tal a quantidade de empurrões e pessoas a cair em cima dele; Frágil andou todo o concerto com a testa semi-aberta e em sangue e assim ficou, orgulhosamente niilista. Hilariante e antológico.

Música? Ah, pois: entre as dezenas (?) de temas, pouco distintos entre si (o que importa é a velocidade da tarola), destaque para “Straight-Edge†(com o clássico refrão "não fodas, não bebas, não faças nada"), “Estrada Perdida†(anunciada com um muito “no future†â€divirtam-se com as drogasâ€), o antológico “Troco Deus por uma Cerveja†ou “Punk, União e Forçaâ€, entoado a plenos pulmões por todos os presentes.

Os Renegados não devem regressar tão cedo a um palco. Os membros têm outras bandas (Freedoom, Speedtrack…) e o concerto do Porto Rio foi um benefit para a associação eco-libertária Terra Viva. Quem esteve lá, não esquecerá tão cedo e qualquer concerto punk futuro parecerá coisa de “meninosâ€.
· 22 Jan 2005 · 08:00 ·
Pedro Rios
pedrosantosrios@gmail.com

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