Creamfields Andalucia 06
Praia de Villaricos, Cuevas del Almanzora
12 Ago 2006
Nos marcadores de temperatura podia ver-se 40 graus. É o sul de Espanha em pleno Agosto. É a Praia de Villaricos em Cuevas de Almanzora (Almeria), local levemente paradisíaco onde se realizava o Creamfields Andalucia versão 2006, certame all night long que chamou a atenção de muita gente, pelo menos a julgar pela quantidade de pessoas que se encontravam nas imediações do recinto (e posteriormente pela quantidade de pessoas que se espalhavam pelos quatro palcos do festival). Apesar de se encontrar ao pé da água, no recinto sentiam-se os efeitos do calor que apenas podiam ser diminuídos na maravilhosa tenda do Microclima onde se podia desfrutar das ventoinhas de água que faziam de Cuevas de Almanzora um local melhor para se viver. A juntar à inconveniência do calor intenso havia uma baixa de peso a registar: os WhoMadeWho, um cancelamento que deixava muita gente a fazer contas à vida.

As actuações tinham início marcado para as 6 da tarde mas foi só por volta das 8 da noite que se começou a sentir a afluência do público que se viria a intensificar com o avançar da noite. E foi pouco depois das 8:30 que os !!! subiram ao palco principal do Creamfields Andalucia, para uma das mais esperadas actuações da noite e a primeira a registar verdadeiro alvoroço na plateia – e com razões plenamente justificadas. É que se a atitude dos autores de Louden Up Now é já de si explosiva em disco, ao vivo tudo ganha proporções gigantescas e geradoras de grande entusiasmo. E no capítulo catalizadores de energia o destaque terá de ir direitinho para Nic Offer, que com os já habituais calções azuis não pára de dançar, de saltar, de mexer-se compulsivamente. Verdadeiro furacão, Nic Offer chega mesmo a subir ao topo de umas colunas ou a misturar-se com o público para espanto de muitos.

!!! © Angela Costa

Como é óbvio Louden Up Now foi o centro das atenções (“Hello? Is this thing on?” e “Dear Can” foram majestosas), mas os !!! vinham preparados e com truques na manga. Do novo disco que se prevê cá fora em Janeiro de 2007 (desejo confirmado durante o concerto por Nic Offer) apresentaram algumas canções onde se parece adivinhar uns !!! menos directos e funky (nada que não se resolva com umas quantas audições), mas com a mesma porção de energia in your face. Um desses temas pareceu mesmo esquecer de todo a electrónica para se dedicar sem vergonha ao rock. Em concerto dividido entre a luz restante do dia e a primeira escuridão da noite, os !!!, mesmo com as aparentes dificuldades da voz de Nic Offer, algo de verdadeiramente entusiasmante, muito por culpa da destrutiva secção rítmica que se vai construindo em palco em equipa. Não se teria perdido nada se os !!! tivessem actuado umas horas mais tarde, como Nic Offer deixou patente em jeito de critica perto do final da actuação.

De Ricardo Villalobos, a actuar no palco Speed Open Air muito havia a dizer mas nada de muito positivo. Dos discos para as actuações ao vivo muito muda e pouco para melhor. O chileno ‘ofereceu’ uma actuação onde o facilitismo foi rei e senhor. Esperava-se muito mais de quem assinou um disco como Thé au Harem d'Archimède. Voltando ao palco principal, os nova-iorquinos Fischerspooner apresentavam-se para uma espécie de freak show com forte sentido estético e cénico, onde bailarinas se atravessavam em frente do palco em coreografias mais ou menos acertadas. Uma mistura de música, multimédia, dança, e arte performativa. Musicalmente, bem espremida, a actuação dos electro-popers Fischerspooner não dará para encher sequer metade de um copo de sumo de laranja ou para dar gosto a uma limonada – nem sequer os temas mais afamados. Não faltaram obviamente os elogios a Espanha e a manifestação da vontade de viver em território espanhol, nem louvores generalistas e óbvios ao público. O público, espanhol ou não, pareceu retribuir os elogios com alguma movimentação extra.

Fischerspooner © Angela Costa

Assumidamente ou não, a verdade é que os Pet Shop Boys eram os cabeças de cartaz do certame andaluz. Os britânicos responderam com um (para alguns) surpreendente espectáculo que aliou a música a cenários, bailarinos em coreografias e projecções, algo que cai bem na pop electrónica que reclamam até aos dias de hoje. Foi como se esperava uma actuação com cheiro forte a best of, que levou obrigatoriamente o Creamfields para outras décadas - a prova dessa viagem no tempo era a média de idades das filas da frente que saía visivelmente da casa dos 20. Marcaram presença temas como “West End girls”, “I’m with stupid” (com bandeiras americanas e britânicas a serem projectadas no palco), “Where the Streets have no name” dos U2 (misturada com outra canção), e, como não podia deixar de ser “Go West”, em jeito despedida.

Audio Bullys © Angela Costa

Ainda no mesmíssimo palco principal, os britânicos Audio Bullys (da dupla Tom Dinsdale e Simon Franks) foram um tanto ou quanto cinzentos e monocórdicos (os Streets ou Dizzee Rascal teriam feito melhor), Vitalic cumpriu e Miss Kittin igualmente, depois te ter começado a mostrar Radiohead. E depois disto já a madrugada ia longe e a manhã perto. A tarefa difícil e quase impossível era na verdade fugir de Carl Cox. Já com a luz do dia de novo, Tiga começava uma das últimas actuações do festival, e a última da tenda LO.LI.TA mas a quantidade de gente no interior da tenda impossibilitava uma visualização atenta. Ver de novo a luz do dia sem dedicar algumas horas ao sono é algo que não afastou o público do Creamfields Andalucia do seu propósito.

· 12 Ago 2006 · 08:00 ·
André Gomes
andregomes@bodyspace.net
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