The Rolling Stones / The Dandy Warhols
Estádio do Dragão, Porto
12 Ago 2006
“More than just a concert”, podia ler-se nos cartazes a anunciar a passagem dos Rolling Stones pelo Porto. No fundo, é um resumo perfeito: quem vai ver a banda britânica ao vivo espera ver fogo de artificio (literalmente e em sentido figurado) e uma sessão de história de rock & roll, para além do risco (sempre desmentido com mais uma digressão) de ser a última oportunidade de ver a banda ao vivo, o que ajuda sempre a vender mais uns bilhetes. A digressão actual tem ainda uma vantagem: serve de promoção a A Bigger Bang, um muito bom álbum, cheio de agressividade e intencionalidade. Nesse aspecto, há uma certa desilusão no alinhamento: do último registo apenas se ouviram “Oh No, Not you Again”, a baladona “Streets of Love” e a pungente “Rough Justice”. Mas já lá vamos.

Primeiro, falemos da logística. Já se sabia que se tratava do maior espectáculo até hoje realizado na cidade e que o palco era o maior alguma vez montado em território nacional (com 62 metros de largura, 30 de profundidade e 28 de altura, quase chegando à cobertura do estádio). E o que se pode dizer é que a dimensão da estrutura impressiona: parecemos estar perante um edifício de vários andares (200 pessoas assistem mesmo ao concerto numa espécie de varandas sobre o palco), os ecrãs gigantescos permitem acompanhar na perfeição o que é impossível ver à distância, e no meio do relvado havia ainda duas gigantescas torres de iluminação. Ao longo das duas horas de concerto houve fogo de artifício, fogo de verdade a sair do topo do palco (aquecendo literalmente os espectadores) e bom som, pelo menos de onde o Bodyspace assistiu. Depois, há que dizer que a máquina organizativa (apesar do atraso de meia hora na entrada dos Stones) é perfeita e que tudo é um negócio, desde as barracas de merchandising, aos mais que muitos stands de cerveja, até aos aguadeiros (e cervejeiros) que andaram pelo meio do público para vender mais uns litros de bebidas.

Passemos à música, que é o mais importante: “Jumpin' Jack Flash” abriu as hostilidades, seguido das guitarras gémeas de “It's Only Rock 'n' Roll”. O público, verdadeiramente transgeracional, quase a encher por completo os lugares disponíveis no Dragão, ficou desde logo preso nos movimentos do frenético Mick Jagger, que deve ter feito uns bons quilómetros a correr de um lado ao outro do palco. O preço dos blihetes é alto, mas o que se recebe em troca é a maior banda do mundo ao serviço de cada uma das 50 mil pessoas presentes, durante duas horas. O vocalista tudo faz para agradar: “Boa noite Porto” e “È muito bom estar nesta linda cidade pela primeira vez” são os piropos dirigidos ao público, num português meio abrasileirado (talvez fruto da relação com a modelo brasileira Luciana Gimenez). Em “Lets Spend The Night Together” surgem as vozes de um coro blues/gospel, a que se segue o primeiro momento de isqueiros no ar, com “Ruby Tuesday”. A banda de suporte aos quatro Stones é, como não podia deixar de ser, imaculada, contendo, para além de um coro de três vozes negras, uma secção de metais, o teclista Chuck Leavell e um extraordinário baixista, Darryl Jones.

O alinhamento da digressão é quase exclusivamente composto por clássicos (e ainda ficaram de fora “Angie” ou “Wild Horses”). “Midnight Rambler” traz a harmónica de Jagger, um prolongamento blues e interacção vocal com o público. “Night Time (Is The Right Time)”, original de Ray Charles, é acompanhado de imagens do “inventor” da soul nos ecrãs gigantes, e dá-nos um dueto entre a potentíssima voz de Lisa Fisher, parte do coro, e Jagger. depois fica Keith Richards no comando, emprestando a voz a “Slipping Away” e “Before They Make Me Run”, nos momentos mais desinteressantes da noite, apesar das muitas palmas que o guitarrista recebeu. “Miss You” iniciou o auge cénico do concerto, com parte central do palco a mover-se, numa passadeira rolante (com os músicos lá em cima, claro), cerca de 60 metros, para o chamado “B Stage”. No regresso ao palco principal, começou a chuva de grandes êxitos que marcará a maior parte das recordações do público: “Sympathy For The Devil”, “Start Me Up” e “Brown Sugar”, antes do encore com “You Can't Always Get What You Want” e a inevitável “Satisfaction”, apoteose das apoteoses, com os metais a juntaram-se às guitarras no sublinhar de um dos riffs mais famosos de todos os tempos. Que o público ficou a entoar, já o palco estava vazio e as luzes acesas. No final, fica a conclusão óbvia: o género concerto de estádio não pode ser melhor do que isto.

Na primeira parte do concerto, os Dandy Warhols mostraram-se peixe fora de água. No meio de um palco gigantesco, a banda bem que tentou juntar-se o mais possível, mas até o pormenor de terem uma fita nas suas costas a delimitar o espaço do equipamento dos Stones mostrou que a festa não é deles. A voz abrasiva de Courtney Taylor-Taylor e as canções de travo indie rock dos Warhols foram recebidas com manifesta indiferença. “All the Money or The Simple Life Honey”, com um registo mais próximo do rock & roll e com um manifesto travo blues, melhorou o ambiente, ao que se seguiu o sucesso “Bohemian Like You”. Mas já era demasiado tarde e menos de 45 minutos não dão para muito. Pondo de parte a valia artística da banda e pensando no papel de uma banda de suporte numa digressão desta dimensão, não parece que esteja encontrada a solução certa.
· 12 Ago 2006 · 08:00 ·
João Pedro Barros
joaopedrobarros@bodyspace.net

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