1.º DIA
De Glasgow, com amor
A quarta edição do Metro Rock realizava-se pela segunda vez no Parque Juan Carlos I, uma gigantesca zona verde bastante retirada do centro da cidade. Começou em 2003 por ser precisamente um festival com lugar na estação de Príncipe Pio (com apêndice na estação de Nuevos Ministerios), mas com o tempo tornou-se num festival cada vez maior (o ano passado contou com a presença de Beck, no primeiro ano a contar com dois dias de festival e com nomes internacionais). Dois dias de um festival com dois palcos, com bandas e projectos vindos de vários países, e com alguns motivos de interesse. O primeiro deles seria a actuação dos escoceses Sons & Daughters de Adele Bethel, David Gow, Scott Paterson, and Ailidh Lennon, com The Repulsion Box (editado em 2005, na Domino) como motivo superior e mais perto das guitarras fortes do que do indie pop que lhe poderiam querer atirar para cima. Não terão conquistado muito o público espanhol porque estava já tudo visivelmente com a cabeça nos Franz Ferdinand (que vieram logo a seguir). Ainda assim os destaques vão para “Medicine” do último disco, “Blood” do primeiro álbum (Love The Cup), e para a acção em palco entre os dois homens e as duas meninas.
Pouco depois entravam em palco os Franz Ferdinand, também de Glasgow, também com dois discos editados mas com um sucesso incomparavelmente superior ao dos seus antecessores. Quer se queira quer não, os Franz Ferdinand do primeiro disco eram uma máquina imparável de fazer singles, e foi precisamente por aí que alcançaram o reconhecimento de que ainda gozam hoje. Na Espanha, os Franz Ferdinand são uns queridos do público. Os primeiros momentos de concertos, apesar do público estar satisfeitíssimo, foram bem ilustradores de como o segundo disco dos escoceses, You Could Have it So Much Better é muito inferior ao seu sucessor, menos peganhento, menos divertido, e a prova que a barreira do segundo disco é, mais do que real, um obstáculo sério. Em Nova Iorque ainda deve estar Julian Casablancas a pensar como foi possível que os Strokes tenham deixado tão má imagem com o segundo disco. Alex Kapranos deve estar prestes a ir pelo mesmo caminho.
Franz Ferdinand © Angela Costa |
Foi com a entrada em cena do disco de estreia que as coisas, em piloto automático, ganharam alguma emoção: “Darts of Pleasure”, “Matinee”, “Michael”, “Jacqueline”, “This Fire” e “Take me out”, todas elas suficientemente capazes de fazer alguns indies abanarem a anca ou trautearem o refrão com mais ou menos sentido. São inofensivos, não queiram fazer deles a melor banda dos últimos anos, nem a pior banda da última década (não lhes atirem para cima o titulo de assassinos do rock tal como ele é, eles apenas são culpados de escrever canções como quem está numa linha de montagem e de alguns momentos de trolha rock).
2.º DIA
Pós-rock-jazz em terreno alheio, o indie espanhol e os dinossauros
No segundo dia do Metro Rock testava-se o indie espanhol no palco principal com dois projectos apontados como duas das grandes esperanças do dito. E é sem grandes rodeios que se pode afirmar que não existem muitas razões para sorrir, pelo menos no que toca aos Sexy Sadie e aos Lori Meyers. Entre aproximações ao rock xoninhas dos Keane e do rock xoninhas de autor, os momentos positivos de ambas as actuações escassearam. Dos 12twelve, que lançaram recentemente um belo disco pela indie madrilena Acuarela, já não se pode dizer o mesmo. O projecto de Barcelona, apesar de ser musicalmente bastante deslocado do resto do festival, carimbou uma das melhores actuações do festival e, imagino, do palco secundário, que não primou propriamente pela qualidade das propostas. A mistura de pós-rock ora atmosférico ora agressivo com o jazz livremente ou programadamente corrosivo resulta bem em qualquer lado e a transição disco/concerto não perde pontos em nenhuma ocasião. Esta sim é uma das grandes certezas da música independente espanhola.
12twelve © Angela Costa |
E se neste segundo dia do Metro Rock tivemos os novos e aspirantes, tivemos igualmente os experientes e consagrados. Por um lado os Charlatans, que cumpriram o exigível mas sem grande distinção, pelo outro Paul Weller, o senhor dos The Jam, teve uma noite positiva, a percorrer a sua carreira a solo com bastante sucesso - tinha ainda recente o disco As is Now, editado em Outubro de 2005 na Yep Roc, e Catch Flame! a sair do forno. Manifestava uma aparente fã a certa altura que Paul Weller seria o dinossauro mais sexy do pop/rock. E pelos vistos não seria a única a pensar assim. Sem grandes surpresas, a plateia do segundo dia, em comparação com o primeiro, registava um aumento significativo em termos de idade, reflexo claro do duo de bandas britânicas a pisarem o palco no Metro Rock.
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