JP SimÔes
Galeria ZĂ© dos Bois, Lisboa
24 Jun 2006
O sotaque brasileiro que usava em alguns temas dos Belle Chase Hotel jĂĄ se foi, tirando versĂ”es do que jĂĄ era brasileiro no original. Ficou a influĂȘncia toda desse paĂs, mas transposta para um contexto urbano, lisboeta e tipicamente portuguĂȘs. JP SimĂ”es estĂĄ em frente a uma sala que fica sempre bem composta quando lĂĄ vai tocar. Ă assim em quase todo o lado, tanto pelas suas cançÔes quanto pelo que diz entre elas. NĂŁo estĂĄ demasiado calor - ou nĂŁo houvesse um reforço da ventilação da sala - e, entre os dedilhados da guitarra acĂșstica e a voz de SimĂ”es, o piano, a melĂłdica e a flauta transversal de SĂ©rgio Costa, hĂĄ cançÔes inĂ©ditas, tanto do projecto falhado Ăpera do Falhado quanto do primeiro disco a solo, a editar em Setembro, do coimbrĂŁo mais lisboeta e brasileiro de sempre.
Tem dois sentidos de humor, o homem, o das cançÔes, que estĂŁo cada vez melhores, em portuguĂȘs de Portugal, histĂłrias cosmopolitas de personagens boĂ©mias Ă procura de qualquer coisa, e o das palavras, tudo aquilo que lhe sai da boca para fora. Este segundo sentido de humor inclui pĂ©rolas como "Este concerto reverte a nosso favor", no inĂcio do concerto, divagaçÔes sobre os tĂłpicos das cançÔes e o que quer que lhe esteja a atormentar em palco nessa altura. "JoĂŁo Paulo, fala mais alto", grita uma quarentona a meio da sala, quando SimĂ”es nĂŁo consegue fazer o pĂșblico ouvir aquilo que balbucia. Ele diz que vai tentar, mas nĂŁo chega mesmo a tentar.
A bossanova Ă© o ponto de partida, mas tambĂ©m hĂĄ sambas, valsas e cançÔes portuguesas. A cidade Ă© um elemento sempre presente. HĂĄ uma canção para uma criança que acabou de nascer, uma canção sobre uma violação dentro de uma famĂlia da alta sociedade, perpetrada pelos pais de uma jovem que canta, triste, "detesto o amor, detesto os seus enganos", uma canção sobre a noite que chama uma personagem para "sĂł mais um samba", uma canção sobre o futebol, uma sobre os trovadores que acabarĂŁo quando o amor acabar, uma canção que rima "planos" e "80 anos", outra que rima "filosofia" e "balde de ĂĄgua fria", quase tudo alternando Ă volta de combinaçÔes de guitarra, piano e voz, piano e voz, guitarra, flauta e voz, guitarra, melĂłdica e voz, etc. SĂ©rgio Costa, que estĂĄ ao seu lado hĂĄ anos, primeiro nos Belle Chase Hotel e depois no Quinteto Tati, Ă© o melhor acompanhamento que SimĂ”es poderia pedir. DĂĄ Ă s cançÔes aquilo de que elas precisam, seja a flauta colorida ou o piano meditativo, maioritariamente, nĂŁo se mete com demasiados rodeios, vai ao que interessa e faz o que faz muito bem.
Ambos tocam estas cançÔes que ninguĂ©m ouviu mais do que uma vez, a nĂŁo ser os amigos dos artistas, alguns jornalistas, e sĂŁo tĂŁo boas que se tornam instantaneamente memorĂĄveis, sejam as boas melodias ou as palavras marcantes. JP SimĂ”es toca dois temas do Quinteto Tati e uma versĂŁo que Ă© habitual nos concertos do grupo, "Gota D'Ăgua", de Chico Buarque, a sua maior influĂȘncia. Depois de um intervalo Ă© acompanhado em duas destas cançÔes acabadas de mencionar pelo guitarrista do grupo, Miguel Nogueira. Mesmo sendo muito melhor guitarrista do que SimĂ”es, nĂŁo hĂĄ grande necessidade para isto, jĂĄ que SimĂ”es se safa perfeitamente sem ajuda de outros, mas este trio funciona bem junto jĂĄ na outra banda, que parece estar parada por agora. Repete, no encore, "SĂł Mais um Samba", mas sĂł porque o pĂșblico pede (nĂŁo havia, tambĂ©m, qualquer necessidade disso).
Falta vir o disco, em Setembro, mas jĂĄ hĂĄ muito por que esperar. Seja a bossanova de quase todas as cançÔes ou o samba de uma canção soberba e quase Ă©pica (SimĂ”es faz a comparação com um estĂĄdio de futebol) com samples de elementos como percussĂŁo, guitarra elĂ©ctrica, coros femininos que vĂŁo sempre mudando e entrando, como se de um hino de Carnaval se tratasse (se bem que um hino algo melancĂłlico) serĂĄ um conjunto de cançÔes excepcionais de um dos melhores escritores de cançÔes portugueses, alguĂ©m que estĂĄ sempre a crescer como letrista, e uma das melhores vozes que por aĂ andam. Claro, ele trata este projecto como se fosse algo insignificante, meia dĂșzia de cançÔes que ninguĂ©m quer ouvir, mas nĂŁo confiem nele, confiem na mĂșsica dele.
Tem dois sentidos de humor, o homem, o das cançÔes, que estĂŁo cada vez melhores, em portuguĂȘs de Portugal, histĂłrias cosmopolitas de personagens boĂ©mias Ă procura de qualquer coisa, e o das palavras, tudo aquilo que lhe sai da boca para fora. Este segundo sentido de humor inclui pĂ©rolas como "Este concerto reverte a nosso favor", no inĂcio do concerto, divagaçÔes sobre os tĂłpicos das cançÔes e o que quer que lhe esteja a atormentar em palco nessa altura. "JoĂŁo Paulo, fala mais alto", grita uma quarentona a meio da sala, quando SimĂ”es nĂŁo consegue fazer o pĂșblico ouvir aquilo que balbucia. Ele diz que vai tentar, mas nĂŁo chega mesmo a tentar.
A bossanova Ă© o ponto de partida, mas tambĂ©m hĂĄ sambas, valsas e cançÔes portuguesas. A cidade Ă© um elemento sempre presente. HĂĄ uma canção para uma criança que acabou de nascer, uma canção sobre uma violação dentro de uma famĂlia da alta sociedade, perpetrada pelos pais de uma jovem que canta, triste, "detesto o amor, detesto os seus enganos", uma canção sobre a noite que chama uma personagem para "sĂł mais um samba", uma canção sobre o futebol, uma sobre os trovadores que acabarĂŁo quando o amor acabar, uma canção que rima "planos" e "80 anos", outra que rima "filosofia" e "balde de ĂĄgua fria", quase tudo alternando Ă volta de combinaçÔes de guitarra, piano e voz, piano e voz, guitarra, flauta e voz, guitarra, melĂłdica e voz, etc. SĂ©rgio Costa, que estĂĄ ao seu lado hĂĄ anos, primeiro nos Belle Chase Hotel e depois no Quinteto Tati, Ă© o melhor acompanhamento que SimĂ”es poderia pedir. DĂĄ Ă s cançÔes aquilo de que elas precisam, seja a flauta colorida ou o piano meditativo, maioritariamente, nĂŁo se mete com demasiados rodeios, vai ao que interessa e faz o que faz muito bem.
Ambos tocam estas cançÔes que ninguĂ©m ouviu mais do que uma vez, a nĂŁo ser os amigos dos artistas, alguns jornalistas, e sĂŁo tĂŁo boas que se tornam instantaneamente memorĂĄveis, sejam as boas melodias ou as palavras marcantes. JP SimĂ”es toca dois temas do Quinteto Tati e uma versĂŁo que Ă© habitual nos concertos do grupo, "Gota D'Ăgua", de Chico Buarque, a sua maior influĂȘncia. Depois de um intervalo Ă© acompanhado em duas destas cançÔes acabadas de mencionar pelo guitarrista do grupo, Miguel Nogueira. Mesmo sendo muito melhor guitarrista do que SimĂ”es, nĂŁo hĂĄ grande necessidade para isto, jĂĄ que SimĂ”es se safa perfeitamente sem ajuda de outros, mas este trio funciona bem junto jĂĄ na outra banda, que parece estar parada por agora. Repete, no encore, "SĂł Mais um Samba", mas sĂł porque o pĂșblico pede (nĂŁo havia, tambĂ©m, qualquer necessidade disso).
Falta vir o disco, em Setembro, mas jĂĄ hĂĄ muito por que esperar. Seja a bossanova de quase todas as cançÔes ou o samba de uma canção soberba e quase Ă©pica (SimĂ”es faz a comparação com um estĂĄdio de futebol) com samples de elementos como percussĂŁo, guitarra elĂ©ctrica, coros femininos que vĂŁo sempre mudando e entrando, como se de um hino de Carnaval se tratasse (se bem que um hino algo melancĂłlico) serĂĄ um conjunto de cançÔes excepcionais de um dos melhores escritores de cançÔes portugueses, alguĂ©m que estĂĄ sempre a crescer como letrista, e uma das melhores vozes que por aĂ andam. Claro, ele trata este projecto como se fosse algo insignificante, meia dĂșzia de cançÔes que ninguĂ©m quer ouvir, mas nĂŁo confiem nele, confiem na mĂșsica dele.
· 24 Jun 2006 · 08:00 ·
Rodrigo Nogueirarodrigo.nogueira@bodyspace.net
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