Der Gelbe Klang #7
Museu do Chiado, Lisboa
21 Jun 2006
O ciclo “Der Gelbe Klang (O Som Amarelo)” prosseguiu na passada quarta-feira, juntando um improvável quarteto de músicos nacionais. Denominada “Impressões: Luz e Sombra”, esta sétima sessão promovida pela associação Granular juntou, aos clarinetes de Paulo Galão, a guitarra portuguesa de João Bengala, a guitarra eléctrica de Dídio Pestana (colaborador dos Lupanar) e laptop e flauta de Luís Miguel Girão.

O nome da sessão não poderia ser mais acertado, ao apostar na visualização antecipada da proposta sonora. E a verdade é que cedo se percebeu facilmente o contraste entre luz e sombras: a guitarra portuguesa de João Bengala, com toda a natural estridência, roubou o foco de luz, encarregando-se um protagonismo exacerbado; aos restantes músicos ficou o papel de ficar na sombra. E foi das várias combinações surgidas no lado menos expansivo desta dualidade que mais entusiasmaram.

Paulo Galão, no clarinete e clarinete baixo, mostrou um discurso articulado, recheado de apontamentos classicistas e particularmente expressivo no desenvolvimento dos temas. Luís Miguel Girão usou a flauta transversal como meio de puxar a música do grupo para terrenos mais próximos do free incendiário, mas apesar da boa iniciativa teve pouco sucesso – as sugestões no laptop funcionaram com mais eficácia. Dídio Pestana teve a prestação mais discreta, mas ainda assim interessante, uma actuação marcada por pequenos mas sugestivos apontamentos no aproveitamento dos sons ínfimos da guitarra eléctrica e pedais de efeitos, próxima das actuais tendências lowercase/near silence.

A guitarra portuguesa, com toda a sua expressividade marcante, está associada no imaginário colectivo ao fado e ao som imortal de Carlos Paredes e não é fácil fazer a sua transposição para um contexto improvisacional não-estruturado. As experiências de Nuno Rebelo com as suas “guitarras mutantes” são um bom exemplo de adaptação de universos distanciados. A abordagem excessivamente idiomática de Bengala foi o calcanhar de Aquiles de uma proposta que, com uma outra aproximação, poderia ter resultado em menos luz individual em favor de um maior brilhantismo colectivo.
· 21 Jun 2006 · 08:00 ·
Nuno Catarino
nunocatarino@gmail.com
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