Axolotl / Tomutonttu / The Skaters
Casa da Música, Porto
22 Mai 2006

Não estariam mais do que 25 pessoas no corredor nascente, no topo da Casa da Música, para assistir a três pequenos concertos que passaram também pelo festival Where is The Love, na Galeria Zé dos Bois, em Lisboa. Nada a que estes três grupos não estejam habituados, onde quer que apresentem as suas singulares visões e trabalhos sobre o som e as formas mais livres de fazer música.

O maior relevo vai para o duo californiano The Skaters, a melhor coisa a sair do campo do drone eixo Double Leopards/Sunroof! de que há memória. Sobre eles, Matthew Bower (Sunroof!, Skullflower, Hototogisu) fez o maior dos elogios, na descrição de um concerto: “eles estavam totalmente possuídos pelo som, focados nele, extasiados por ele como se estivessem debaixo de uma cascata”.

The Skaters © Ana Sofia Marques

A imagem de autoria alheia serve que nem uma luva para descrever os 15 minutos da actuação dos Skaters. De luzes apagadas, voltados de costas para o público, de joelhos no chão, criaram, a partir de duas vozes, um órgão, um tambor e vários pedais, um universo de som em rodopio sobre si mesmo mas em constante crescendo, caminhando em direcção a um buraco negro. O memorável concerto dos Hototogisu no Porto, no ano passado, veio à memória: foi a mesma sensação de submissão do corpo e da mente a um som indefinível.

No início da noite, Karl Bauer, ou Axolotl, começou por percutir dois zithers com os quais gerou uma rede de sons metálicos, enredados em si mesmo, repetindo-se sem fim. Andou pelas nuvens ao sabor de um drone lúdico, mas desceria à terra com a participação de Inca Ore (Jackie-O Motherfucker). Ambos partiram para uma peça vocal densa a querer emular o vento, que desiludiu face à beleza do primeiro tema.

Axolotl © Ana Sofia Marques

O concerto de Tomutonttu (projecto solitário Jan Andrezen, líder dos Kemialiset Ystävät) foi igualmente baseado nos loops, mas o drone deu lugar a ritmos debitados por um órgão foleiro, cassetes com sons de animais e gravações de campo (um sino, a chuva a cair). O resultado pareceu extremamente composto, mesmo que pressintamos que isso seja consequência do à vontade demonstrado por Andrezen na construção do seu puzzle de sons.

· 22 Mai 2006 · 08:00 ·
Pedro Rios
pedrosantosrios@gmail.com
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