Jeniferever
Sala Astoria, Madrid
04 Mai 2006

Visto de fora, o número 33 da calle San Vicente Ferrer (saída de Metro do Tribunal), parece uma casa de okupa. É o Nasti, o clube que às quintas-feiras se transforma na sala Astoria para receber as propostas de uma organização específica. E desta vez a proposta eram os Jeniferever, que apesar do nome terrível - e das reduzidas semelhanças musicais - ousaram já partilhar o mesmo palco e digressão com a senhora Isobel Campbell, que em tempos foi vocalista dos Belle & Sebastian. São suecos (mais concretamente de Uppsala), são visivelmente magros, são cinco. Um ocupa a bateria, outro a guitarra; dois dividem-se entre os baixos e os teclados e Kristofer Jönson assume-se como frontman na guitarra e na voz. Depois dos EPs estrearam-se em disco com Choose a Bright Morning (Drowned in Sound), e essa é a razão principal que os trouxe pela primeira vez à Espanha, onde para além do concerto em Madrid, tinham ainda datas marcadas em Bilbau e Barcelona.

Jeniferever @ Angela Costa

O som? O pós-rock de uns Explosions in the Sky com o sabe-se-lá-o-quê (pós-rock também se quiserem) dos Sigur Rós (em alguns momentos). As guitarras são sempre profundas e a puxar ao etéreo, o som é sempre cheio e espacial. Por vezes surgem teclados ou alguma electrónica, e até se chegam a ouvir cordas previamente gravadas no final de um tema. A voz de Kristofer Jönson, nem sempre audível no meio da mistura forte do som, é por vezes emo de tão melodramática, mas de certa maneira condizente com as paisagens criadas por todos. Bate tudo muito certo e há muito pouco espaço para experimentalismos (uma opção e não propriamente um defeito) ou desvios do caminho inicial – embora as guitarras tenham perdido em certos momentos o controlo. Apesar das referências óbvias ao pós-rock – na forma de construir os temas, nas paisagens – pode-se claramente afirmar que aquilo que os Jeniferever fazem são canções. Não de refrões, não feitas com a mesma estrutura e da mesma forma que as canções propriamente ditas. Até já há quem lhe tenha chamado pop-post-rock.

“The Sound of Beating Wings”, um dos singles do álbum de estreia dos Jeniferever é talvez o melhor exemplo para provar a influência pós-rockiana (versão pacifismo/catarse) que lhes caiu em cima: depois de alguns momentos de construção das guitarras (que não raras vezes se foram entrecruzando ao longo do concerto), atinge-se um clímax onde o ruído contrasta com a quietude inicial. Mas felizmente não abusam muito da fórmula “ora está em baixo/ora vai acima. Mas a fórmula geral conseguida pelos Jeniferever – quer ao vivo (ou directo como dizem os espanhóis), quer nas nove canções de Choose a Bright Morning - é muito bem capaz de lhes render algum sucesso no futuro. É provável que em breve venham a escrever algo do género Como passar do indie ao mainstream em dois anos. Podem estar a escrevê-lo neste preciso momento.

· 04 Mai 2006 · 08:00 ·
André Gomes
andregomes@bodyspace.net

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