The Secret Society / Manta Ray
Sala Heineken, Madrid
20 Abr 2006
Ao olhar para o panorama musical independente espanhol, The Secret Society e Manta Ray (os últimos com mais currículo) parecem apresentar-se com dois dos seus maiores representantes – não fosse a Acuarela a actual casa-mãe de ambos os projectos. Foi então uma noite Acuarela – tanto The Secret Society como Manta Ray têm discos de 2006 com o carimbo da editora madrilena – numa bem composta Sala Heineken (antiga Arena) localizada junto da Praça de Espanha, porta de entrada para uma Gran Vía em dia de noite do livro. Portas abrem às 20 horas e concerto de Secret Society a começar perto das 9 – hora normal de início dos concertos por Espanha. The Secret Society é uma sociedade madrilena que não é assim tão secreta quanto isso; faz-se de um elemento, Pepo Marquez, que depois de três EPs editou o seu disco de estreia pela Acuarela, um disco intitulado Sad Boys Dance When No One Is Watching (é impossível ser mais indie que isto). Esteve no Porto no dia 4 de Março com Tara Jane O'Neil e em Lisboa, na Galeria ZDB, com a mesma Tara Jane O'Neil, mas as experiências live de Secret Society não se ficam por aqui. Nada disso. The Secret Society tocou já com nomes como Songs:Ohia, Magnolia Electric Co., Xiu Xiu, Stacey Earle, Last Days of April, Destroyer ou Mark Eitzel

Ao vivo, Pepo Marquez apresenta-se com um baterista que o ajuda a construir as canções que escolhe apresentar. São canções que vão beber ao country (com algumas reminiscências de Will Oldham), mas que se notam igualmente influenciadas pelo hardcore. À semelhança daquilo que acontece em alguns temas do disco de estreia, também ao vivo existe uma grande cumplicidade entre a guitarra de Pepo Marquez e a bateria; a comunicação entre ambos é imensa, e os resultados por vezes são os melhores – especialmente com aumenta a força da bateria e a guitarra a acompanha, e isso não aconteceu raras vezes. E apesar de Secret Society ser um projecto característico – no sentido de ter uma identidade mais ou menos delineada – nada impede Pepo Marquez de ziguezaguear nos ambientes. Tanto põe o menino triste a dançar em “Sad Boys Dance!!” – guiada por uma batida electrónica capaz da tarefa – como coloca praticamente toda a ênfase na guitarra, em “My Relationship with Above”. Pelas características referidas, estes dois temas foram dos que mais se destacaram durante a actuação de Secret Society. Ambos as canções podem ser conferidas em Sad Boys Dance When No One Is Watching.

Com uma casa ainda mais cheia, e depois de um pequeno intervalo para troca de material em palco, tornava-se óbvio que grande parte do público presente na Sala Heineken estava ali para presenciar a actuação dos Manta Ray, banda que começou em 1992 e que só em 2003 assinou pela Acuarela para lançar Estratexa. Três anos passaram e agora é Torres de electricidad que está na montra, e a Acuarela pinta os Manta Ray actuais como sendo uma mistura de Stooges, Fugazi, Joy Division e Trans Am, Don Caballero, Neurosis, krautrock, pós-rock e pós-punk, mas o que se pôde constatar ao vivo é que, provavelmente por tentarem ser todas estas coisas, o mais certo é que esteja tudo tão misturado que não seja possível encontrar o fio à meada. Os Manta Ray, com quatro elementos alinhados no palco numa disposição lado a lado, pareceram quase sempre desinspirados, inconsequentes, trapalhões, e a certa altura tornava-se legitimo perguntar se a contratação por parte da Acuarela não teria sido um erro de casting. Só por raras vezes os Manta Ray mostraram sinais de algum interesse (o que foi claramente insuficiente), numa actuação que fez lembrar que The Secret Society foi o melhor que se ouviu na noite.
· 20 Abr 2006 · 08:00 ·
André Gomes
andregomes@bodyspace.net
RELACIONADO / Manta Ray