Merz
Costello Club, Madrid
07 Abr 2006

O Costello (versão abreviada de Costello Café & Nite Club) é um clube (que fica na calle Caballero de Gracia, junto da grandiosa Gran Via) descrito no Guía del Ocio, a bíblia de quem quer fazer alguma coisa em Madrid, como um multi-espaço. É ao mesmo tempo local para concertos, cabaret, teatro e sessões de DJ. No andar de cima, duas salas diferentes: uma, na entrada, plena de estilo e bom gosto com soul e funk a rodos, a outra, lá ao fundo com pouca luz e com vista para um jardim interno. No andar de baixo as coisas transformam-se bastante: uma espécie de cave escura e fumarenta com um palco de dimensões reduzidas - um palco que recebeu Merz, o pseudónimo de Conrad Lambert, músico que lançou Loveheart em 2005 pela Grönland. Vindo de Barcelona, apresentou-se sozinho e com aspecto de tudo menos de quem ia fazer música – por momentos parecia tratar-se de um mecânico de luvas nos bolsos de trás ou de um roadie. Mas era o próprio, aquele que arrancou logo com “Butterfly”, canção adocicada de electrónicas e teclados.

© Angela Costa

E porque as canções de Loveheart são na sua maioria ricas nos arranjos, Conrad Lambert teve de recorrer às máquinas para lhe fornecerem a base onde posteriormente introduzia a guitarra acústica e eléctrica, os teclados e a voz. Os caminhos que Merz percorre tanto em Loveheart como nos concertos não obedecem a um estilo apenas, mas sim alguns mais ou menos definíveis: ora é a folk electrónica de “Butterfly”, ora é o songwriting puro de guitarra acústica na mão de “My Name is Sad And at Sea” (com os sinos em eco lá ao fundo), ora é a mistura desses e ainda outros elementos; por vezes Conrad Lambert seguiu por uma pop electrónica dançável que não deixou muitas saudades por ser algo despropositada e destituída de interesse. Saiu algumas vezes de Loveheart para apresentar outras canções mas foi mesmo quando pegou no seu ultimo disco que ganhou mais pontos: além de “Butterfly”, “Postcard From a Dark Star” (que só chegou ao final depois de uma segunda tentativa), “Dangerous Love Scheme” numa versão mais despida do que no original, “Warm Cigarette Room”, narrativa electrónica e sombria, ou a fácil-de-ouvido “Mentor”.

Ao contrário daquilo que poderia parecer, Conrad Lambert é um tipo bem-humorado. Foram constantes as trocas de palavras entre a plateia e o músico que confessou que em Barcelona lhe tinham dito que o público de Madrid era bem barulhento mas rematou logo de seguida com um “I guess you are from out of town”. Perto do final do concerto, pedia-se – e com razão – entre esse mesmo público um tema que se intitula “Verily”, estranho mas apetecível momento. Mas talvez porque o próprio Conrad Lambert tinha prometido no início do concerto que não iria enveredar muito por canções dadas a melancolias, nada se escutou de “Verily”. Não foi, na globalidade, um concerto digno de nota muito alta – a falta de “Verily”, por isso, fez-se sentir ainda de forma mais notória. Foi, numa palavra, uma actuação agradável. Faltar-lhe-á a capacidade de se transcender, de transportar as suas canções para o patamar superior. Depois de dois encores arrancados com muitas palmas, Conrad Lambert sacou do seu guia espanhol para se despedir com um “vale” que arrancou muitos sorrisos do público.

· 07 Abr 2006 · 08:00 ·
André Gomes
andregomes@bodyspace.net
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