Kid City - Campamento Ñec Ñec / Margarita
Clube Mercado, Lisboa
24 Fev 2006
Os putos de hoje em dia não conseguem prestar atenção a nada. 10 ou 20 minutos é o máximo. É como os brinquedos que se recebiam no natal. Quando tempo é que duravam? Uma hora? Duas? No máximo, até ao dia seguinte ou até à noite (depende de quando se recebiam, se na noite da consoada se na manhã de natal). Estragavam-se logo. Hoje em dia, com a proliferação de lojas de chineses, ainda é pior. Duram 10 ou 20 minutos. Cada vez é mais difÃcil arranjar tempo para as coisas, e, mesmo que haja tempo, um puto aborrece-se, porque a vida é mesmo assim. Logo, faz sentido que, na “cidade dos putosâ€, onde “todos os putos são reisâ€, os concertos durem pouco. Isto pode ser altamente benéfico, especialmente quando as bandas, não sendo aborrecidas, são capazes de aborrecer, já que a fórmula é sempre a mesma e não varia (não de banda para banda, mas sim dentro das bandas).
A noite começou realmente com Campamento Ñec Ñec, um trio de bateria e duas guitarras, que parece uma mistura de Animal Collective e Deerhoof, sem as melodias de ambos e sem a doçura dos segundos, mas com a infantilidade adulta de ambos. Há palminhas e poucos momentos realmente memoráveis. Simpáticos, tocam durante muito pouco tempo e conseguem evitar mostrar que a fórmula não deve ser repetida até à exaustão. Onomatopeias em vez de letras, bateria caótica, riffs de guitarra esquecÃveis, palminhas aqui e ali, temas muito curtos, como os dos Grabba Grabba Tape, que foram à segunda Kid City (noites que agora encontraram residência fixa e mensal no Clube Mercado, depois de terem passado pela ZDB, pelo Lisboa Bar e pela Faculdade de Ciências Sociais e Humanas da Universidade Nova de Lisboa) e que faltaram a esta. Segundo tanto a organização como os responsáveis do espaço, o baterista dos mesmos (que andava para lá aos saltos) lesionou-se no dedo, pelo que os fatos de licra cor-de-rosa com pêlo branco, a bateria, o teclado e a voz com vocoder (os Oneida de “Ceaser’s Columnâ€, com a repetição de melodias, se este tema não fosse canção, não tivesse guitarras, fosse significativamente mais curto, tivesse partes electro dos anos 80 e fosse feito por espanhóis mascarados são um bom ponto de referência) não se fizeram ver ali. Depois dos Campamento Ñec Ñec, os Margarita. Mais próximos do formato canção - o som do Mercado (que é aceitável 80% das vezes) não permitia ouvir as letras -, os Margarita tocaram durante um pouco mais, com riffs porreiros e alguns elementos memoráveis, como refrães onomatopeicos infinitamente melhores do que os dos que tocaram antes deles ou riffs porreiros. Vêm, claramente, da escola do hardcore, rápidos, eficientes e cheios de energia, servem para dançar e pouco mais.
Antes, Ricardo Manaia, DJ da casa, misturava The Doors (“Riders on the Stormâ€) com Grandmaster Flash & the Furious Five (“The Messageâ€), uma ideia que soa igualmente desadequada tanto na teoria como na prática. Durante e depois, Tiago Miranda, dos Loosers, tanto podia passar reggae como Dinosaur Jr. Mas metade do público, que, por causa da chuva ou por outra razão qualquer, já era escasso, longe da enchente da última edição (só com artistas nacionais), já se tinha ido embora. Tal como os Vicious Five, que partilham alguns membros com a Kid City, estas bandas madrilenas mostram vias possÃveis para quando se sai do hardcore. Nessa medida, as noites da Kid City não são noites dos putos. São noites dos pós-putos do pós-hardcore. Não se vendem (mantêm-se ainda muito underground), crescem, mas mantêm-se putos. É uma segunda infância, uma segunda adolescência, uma segunda criancice. São putos que não querem crescer, que têm a infelicidade de viver numa Lisboa crescida.
A noite começou realmente com Campamento Ñec Ñec, um trio de bateria e duas guitarras, que parece uma mistura de Animal Collective e Deerhoof, sem as melodias de ambos e sem a doçura dos segundos, mas com a infantilidade adulta de ambos. Há palminhas e poucos momentos realmente memoráveis. Simpáticos, tocam durante muito pouco tempo e conseguem evitar mostrar que a fórmula não deve ser repetida até à exaustão. Onomatopeias em vez de letras, bateria caótica, riffs de guitarra esquecÃveis, palminhas aqui e ali, temas muito curtos, como os dos Grabba Grabba Tape, que foram à segunda Kid City (noites que agora encontraram residência fixa e mensal no Clube Mercado, depois de terem passado pela ZDB, pelo Lisboa Bar e pela Faculdade de Ciências Sociais e Humanas da Universidade Nova de Lisboa) e que faltaram a esta. Segundo tanto a organização como os responsáveis do espaço, o baterista dos mesmos (que andava para lá aos saltos) lesionou-se no dedo, pelo que os fatos de licra cor-de-rosa com pêlo branco, a bateria, o teclado e a voz com vocoder (os Oneida de “Ceaser’s Columnâ€, com a repetição de melodias, se este tema não fosse canção, não tivesse guitarras, fosse significativamente mais curto, tivesse partes electro dos anos 80 e fosse feito por espanhóis mascarados são um bom ponto de referência) não se fizeram ver ali. Depois dos Campamento Ñec Ñec, os Margarita. Mais próximos do formato canção - o som do Mercado (que é aceitável 80% das vezes) não permitia ouvir as letras -, os Margarita tocaram durante um pouco mais, com riffs porreiros e alguns elementos memoráveis, como refrães onomatopeicos infinitamente melhores do que os dos que tocaram antes deles ou riffs porreiros. Vêm, claramente, da escola do hardcore, rápidos, eficientes e cheios de energia, servem para dançar e pouco mais.
Antes, Ricardo Manaia, DJ da casa, misturava The Doors (“Riders on the Stormâ€) com Grandmaster Flash & the Furious Five (“The Messageâ€), uma ideia que soa igualmente desadequada tanto na teoria como na prática. Durante e depois, Tiago Miranda, dos Loosers, tanto podia passar reggae como Dinosaur Jr. Mas metade do público, que, por causa da chuva ou por outra razão qualquer, já era escasso, longe da enchente da última edição (só com artistas nacionais), já se tinha ido embora. Tal como os Vicious Five, que partilham alguns membros com a Kid City, estas bandas madrilenas mostram vias possÃveis para quando se sai do hardcore. Nessa medida, as noites da Kid City não são noites dos putos. São noites dos pós-putos do pós-hardcore. Não se vendem (mantêm-se ainda muito underground), crescem, mas mantêm-se putos. É uma segunda infância, uma segunda adolescência, uma segunda criancice. São putos que não querem crescer, que têm a infelicidade de viver numa Lisboa crescida.
· 24 Fev 2006 · 08:00 ·
Rodrigo Nogueirarodrigo.nogueira@bodyspace.net
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