The Grey Blues Bend
Maus Hábitos, Porto
06 Mar 2004
A Bor Land e o espaço Maus Hábitos no Porto estão juntos numa iniciativa que visa o lançamento de uma compilação e uma série de seis concertos. Esta ideia foi apelidada de “CD1MH” e engloba meia dúzia de projectos: os Fat Freddy, Simpletone, The Grey Blues Bend, The Unplayable Sofa Guitar, Rose Blanket e os Tenaz.

Depois dos Fat Freddy e os Simpletone terem passado pelo Maus Hábitos, era dia de receber os The Grey Blues Bend. São de Lisboa e foram concorrentes no Termómetro Unplugged 2003. Compostos por Bernardo Palmeirim (voz e guitarra), Norberto Lobo (voz e guitarra), Filipe Rocha (baixo e voz), Ricardo Santos (bateria) e Pedro Magalhães (programação) apresentaram aquilo que eles próprios descrevem como sendo “uma fusão contemporânea de várias fontes, desde a música clássica à electrónica, passando por marcas do psychedelic 60's e do pop/rock”.

Na primeira canção, eram projectadas numa parede imagens de um mar de tom azul, enquanto Pedro Magalhães, quase tapado pela parafernália de máquinas, "ateava" a base electrónica a partir da qual o resto da banda criaria a melodia. E, ironicamente, é de tons cerúleos que se faz a música dos The Grey Blues Bend. A "segunda" guitarra, em delay, com um som profundo e amplo, completava os espaços vazios. O baixo, contínuo, completa a estrutura onde a bateria se junta na criação de ritmos simples e desatados. As canções dos lisboetas são simples, visto não serem sobreproduzidas, e compostas sem demasiados ornatos, suficientemente despidas para serem acolhidas. Em “My dirty shadow”, ouve-se aquilo que parece ser uma sitar movida por Ravi Shankar e as vozes em coro que criam uma melodia suave. Por vezes, juntam-se três vozes na manifestação da mensagem das canções da banda. As guitarras de Bernardo Palmeirim e Norberto Lobo fazem lembrar por vezes a estrutura das canções "desenhadas" por Jonny Greenwood e, quando em "modo solo", lembram o som libertado por Robert Fripp. “All of your size”, um tema novo, mostrou ser ecléctico. O baixo em jam encontra-se com a bateria cheia de pormenores, quase jazzística numa canção bastante diferente do resto do repertório da banda. “II” é um tema que, segundo o vocalista da banda, é dedicado ao 11 de Setembro e revelou ser a melhor canção da noite. Fantasista, serve-se de um espaço electrónico doce que faz, por breves instantes, lembrar Björk para formular uma melodia deliciosa. “Troubador” e “I Spy” surgem, quase em modo psicadélico, pouco tempo antes do vocalista apresentar o resto da banda. Para a última canção, projectava-se na parede que estava à esquerda do palco aquilo que parecia ser uma espada sob um fundo roxo. Talvez por isso, os The Grey Blues Bend se tenham despedido com uma canção doce e com a sensação que a iniciativa conjunta da Bor Land com o Maus Hábitos ofereceu mais uma noite agradável num dos melhores espaços que o Porto tem para oferecer.
· 06 Mar 2004 · 08:00 ·
André Gomes
andregomes@bodyspace.net

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