Free Nonet
Hot Clube de Portugal, Lisboa
18 Jan 2006
O Hot Clube é o local sagrado onde religiosamente se reúne e convive a comunidade do jazz português - de um certo jazz, melhor dizendo, já que o HCP tem preferência por artistas e sonoridades mais clássicas e regulares e por norma desdenha quem se aventure em liberdades maiores. Apostado numa programação canónica, são raras as vezes que vemos a cave da Praça da Alegria arriscar projectos free. Foi por isso que nesta passada quarta-feira assistimos com muito prazer à apresentação do auto-denominado “Free Nonet”.
Inicialmente agendado como sexteto, no dia do concerto o grupo estendeu-se num invulgar noneto – uma formação grande, demasiado grande para o minúsculo palco. Ainda assim couberam lá todos, nove músicos portugueses (ou residentes por estas bandas). Alinhados numa dinâmica de free jazz exemplar, os sopros tomaram a dianteira e conduziram a noite. O tenor do brasileiro Alípio Carvalho Neto transbordou energia, o trompete (Ricardo Pinto) procurou espaços para brilhar individualmente (embora descurando o grupo) e o trombone de Eduardo Lala esteve soberbo, tanto a interagir com os colegas como a solar sobre o colectivo. Peter Bastiaan dedicou pouca atenção ao saxofone alto, preferindo ocupar-se da percussão, mas teve inspiração para o momento spoken word da noite (Alípio imitou-o, mas sem o mesmo fulgor).
Ernesto Rodrigues surgiu afastado da habitual estética de livre improvisação lowercase e, apesar da agitação tirânica dos sopros, conseguiu impor a voz do seu violino - tarefa difícil mas conseguida com arte. Na guitarra apareceu Luís Lopes, substituto do inicialmente previsto Manuel Mota. Optando por um fraseado guitarra-jazz de pendor tradicionalista, tratou de seguir a direcção do grupo e cumpriu (mas, em todo o caso, seria preferível uma abordagem menos ortodoxa, mais liberta). Rodrigo Pinheiro, um jovem que há poucos meses integrou o projecto “Cobra” de John Zorn, encarregou-se do piano e manteve o bom nível, particularmente intenso nos diálogos com as cordas – o duo com o contrabaixo (Hernâni Faustino) foi do melhor da noite. Na bateria, Rui Gonçalves foi responsável por alguns dos momentos mais fortes e por algumas mudanças de direcção.
O templo foi invadido e os nove conquistadores não se acanharam a impor o seu estardalhaço free. Entre subidas, acalmias, turbulências, paragens, provocações, respostas, sugestões, convergências, dispersões, união e individualidade, foi uma noite de grande música: intensa, cheia, reconfortante. A festa ousou prolongar-se por horas impróprias para gente honesta e trabalhadora, mas ninguém se ralou. Afinal de contas, são sempre de aproveitar as oportunidades em que o Hot se transforma, pleno de liberdade, num verdadeiro Clube.
Inicialmente agendado como sexteto, no dia do concerto o grupo estendeu-se num invulgar noneto – uma formação grande, demasiado grande para o minúsculo palco. Ainda assim couberam lá todos, nove músicos portugueses (ou residentes por estas bandas). Alinhados numa dinâmica de free jazz exemplar, os sopros tomaram a dianteira e conduziram a noite. O tenor do brasileiro Alípio Carvalho Neto transbordou energia, o trompete (Ricardo Pinto) procurou espaços para brilhar individualmente (embora descurando o grupo) e o trombone de Eduardo Lala esteve soberbo, tanto a interagir com os colegas como a solar sobre o colectivo. Peter Bastiaan dedicou pouca atenção ao saxofone alto, preferindo ocupar-se da percussão, mas teve inspiração para o momento spoken word da noite (Alípio imitou-o, mas sem o mesmo fulgor).
Ernesto Rodrigues surgiu afastado da habitual estética de livre improvisação lowercase e, apesar da agitação tirânica dos sopros, conseguiu impor a voz do seu violino - tarefa difícil mas conseguida com arte. Na guitarra apareceu Luís Lopes, substituto do inicialmente previsto Manuel Mota. Optando por um fraseado guitarra-jazz de pendor tradicionalista, tratou de seguir a direcção do grupo e cumpriu (mas, em todo o caso, seria preferível uma abordagem menos ortodoxa, mais liberta). Rodrigo Pinheiro, um jovem que há poucos meses integrou o projecto “Cobra” de John Zorn, encarregou-se do piano e manteve o bom nível, particularmente intenso nos diálogos com as cordas – o duo com o contrabaixo (Hernâni Faustino) foi do melhor da noite. Na bateria, Rui Gonçalves foi responsável por alguns dos momentos mais fortes e por algumas mudanças de direcção.
O templo foi invadido e os nove conquistadores não se acanharam a impor o seu estardalhaço free. Entre subidas, acalmias, turbulências, paragens, provocações, respostas, sugestões, convergências, dispersões, união e individualidade, foi uma noite de grande música: intensa, cheia, reconfortante. A festa ousou prolongar-se por horas impróprias para gente honesta e trabalhadora, mas ninguém se ralou. Afinal de contas, são sempre de aproveitar as oportunidades em que o Hot se transforma, pleno de liberdade, num verdadeiro Clube.
· 18 Jan 2006 · 08:00 ·
Nuno Catarinonunocatarino@gmail.com
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