Iff, Travassos, Elsa Vanderweyer, Eduardo Raum + l.s.k.
Lisboa Bar, Lisboa
20 Dez 2005
Numa entrevista a ser publicada em breve aqui no bodyspace, o violinista Ernesto Rodrigues referiu que se assiste neste momento ao nascimento da “quarta geração de músicos experimentais em Portugal”. Faz todo o sentido: depois da experiência fundadora de Carlos Zíngaro ou Telectu, da actividade do próprio Ernesto ou Carlos Bechegas, da continuidade de Sei Miguel ou Manuel Mota, está a entrar agora em acção uma nova geração de músicos que promete muito para o futuro das músicas menos regulares. São todos muito novos (dezoito anos é a idade legal), mas já se interessam e trabalham com empenho e, mais importante, com resultados satisfatórios.

O colectivo We Shall Say Only the Leaves é um grupo de jovens músicos que editou por intermédio da netlabel Test Tube a apetitosa gravação Exploding Whales, que combina delicadamente texturas electrónicas com vestígios post-rock. Descontextualizados dois elementos, We Shall Say… tranforma-se em Iff, um duo que na passada terça feira se juntou numa aventura com outros três músicos: Travassos, Elsa Vanderweyer e Eduardo Raum. Jorge Trindade, AKA Travassos, integra a Variable Geometry Orchestra controlando magnetic tapes. Vanderweyer, vibrafonista, já é habituée do circuito improv, integrando o IMI Kollekief ou diversos grupos ad hoc. Raum está ligado aos Bypass e integrou há pouco tempo o Sexteto de Cordas liderado por Ernesto Rodrigues, onde mostrou o papel essencial da sua harpa. Esta reunião prometia assim um raro confronto hi-tec VS intrumentação clássica - de um lado: laptops, gira-discos e tape; do outro: harpa e vibrafone.

A cave do Lisboa bar, invulgarmente bem composta, albergou uma sessão de improvisação onde as texturas electrónicas dominaram. As matrizes e desvios de direcção eram essencialmente fruto da manipulação digital, à qual se seguia a resposta do vibrafone, por vezes na simples marcação de ritmos, outras vezes procurando soluções melódicas ou seguindo por investidas desconcertantes – versátil conforme as circunstâncias, assinalável Elsa. Raum conduziu a harpa pelos caminhos próximos do vibrafone, notando-se um maior pendor para experimentação irregular. O tratamento ao nível do gira-discos provocava os sons mais estridentes, enquanto que o trabalho de magnetic tape gerava ecos e ressonâncias, conseguindo uma envolvência especial. Se bem que por vezes a dispersão acontecesse (e era inevitável, ainda para mais num primeira reunião, como foi o caso), a unidade conseguida em alguns momentos equilibrou.

As imagens projectadas, da responsabilidade de l.s.k., contribuíram para homogenizar, ligando o cenário, os músicos e a música, para além de criar associações à partida improváveis (as imagens infantis ao mesmo tempo que Elsa sussurrava uma melodia mais dolente remetia para os Múm, por exemplo). Não chegou a ser perfeito, aconteceram obviamente falhas, mas caso esta união continue, e seja trabalhada com mais constância, ameaça tornar-se num dos mais interessantes projectos a ter em atenção na “cena”.
· 20 Dez 2005 · 08:00 ·
Nuno Catarino
nunocatarino@gmail.com

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