June Tabor
Casa das Artes, Famalicão
02 Dez 2005
Nasceu em Warwick e estudou na Oxford University, onde encontrou uma vasta e diversa comunidade folk. Começou a cantar música tradicional na sua adolescência, mas a primeira vez que se lhe ouviu música num disco a solo foi em Airs and Graces (editado em 1976). Agora comemoram-se os 30 anos da sua carreira, com uma apetitosa caixa quádrupla intitulada Always, um novo disco (At the Wood's Heart, Topic) e uma digressão que incluiu dois concertos inseridos no Sons em Trânsito 2005 que na sua quarta edição se alarga consideravelmente marcando agora Aveiro, Bragança, Famalicão e Vila Real com os cheiros, sabores e sentidos da música mundo. De 23 de Novembro a 4 de Dezembro. Para além dos concertos há cinema, sessões de contos, feiras e ateliês, ou seja, tudo bons motivos para não se andar longe das referidas cidades durante as referidas datas.

Foi então uma June Tabor aniversariante (não de nascença, mas de carreira) que Famalicão recebeu numa sala – a meio vapor – onde a faixa etária se sentia notoriamente alta. Foi uma sala que recebeu June Tabor e a sua banda: Huw Warren no piano, Mark Emerson na viola de arco e no violino, Andy Cutting no acordeão diatónico e Tim Harries no contrabaixo. E foi logo nos dois primeiros temas que se percebeu que June Tabor iria estabelecer o doce balanço entre canções de um recolhimento admirável e canções de pendor mais solto ou quase festivo – graça que conseguiu manter com sucesso até ao final do concerto. Ao mesmo tempo percebia-se – ou confirmava-se – que as suas canções são todas sobre amor. A mesma June Tabor havia de confirmar isso quando já algumas canções haviam sido apresentadas, afirmando que, de uma forma ou de outra, todas as suas canções se debruçam no amor. Canções que vivem obviamente da sua voz que conta histórias como quem as conhece profundamente.

E porque a banda em palco é competentíssima – especialmente Huw Warren no piano, que não raras vezes comunicava musicalmente com a voz de June Tabor – aventuraram-se por vezes em momentos instrumentais de interesse considerável – alguns dos quais sem a presença de June Tabor, que chegou mesmo a sair do palco em algumas ocasiões. O concerto acabou por ser dividido em três partes (mais o encore), sendo que a última dessas partes se centrou no amor, mas aliado à guerra. Contou-se histórias de homens que foram para a guerra e não mais voltaram, de sentimentos ambíguos provocados pela convivência pouco saudável entre o amor e a morte. Depois, é notório o contentamento de June Tabor quando vai ao baú e dá vida a temas escritos noutros séculos, criados em tempos e realidades distintas das de hoje. Aí transparece e sublinha-se uma certa inocência e tradição que June Tabor abraça na perfeição. E por alguns momentos, dançar pareceu até ser uma opção possível.

June Tabor lançou ainda o desafio para que os presentes passassem por Aveiro (a segunda de duas datas da cantora britânica em Portugal) para a voltarem a ouvir pois – afirmou – o alinhamento seria consideravelmente diferente. Em quase duas horas de concerto, a viagem foi imensa. June Tabor traçou a cronologia da folk em várias tonalidades, uniu os séculos e as paisagens. A sabedoria que transporta na sua voz é – diz o ditado – tanto maior quanto maior é o tempo passado. E que bem que o tempo assenta em June Tabor. Não é à toa que é considerada um dos nomes maiores da folk britânica.
· 02 Dez 2005 · 08:00 ·
André Gomes
andregomes@bodyspace.net
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