Samara Lubelski + P.G. Six
Teatro Passos Manuel, Porto
17 Nov 2005

Em tempos, os Tower Recordings, colectivo de formação em constante metamorfose baseado em Nova Iorque, chegou a contar nas suas fileiras (em tempos de lançamento do elucidativo Folk Scene) com nomes como Matt Valentine, P.G. Six, Helen Rush, Erika Elder, Tim Barnes, S. Freyer Esq., Steve Gubler, Robert Henry Jones III, Samara Lubelski, Dean Roberts, Andre Vida e Barry Weisblat. A noite de 17 de Novembro de 2005 no Passos Manuel (que não convenceu muito mais do que uma dúzia de pessoas, o número de presentes no concerto) pretendia mostrar o trabalho a solo de dois desses elementos: Pat Gubler (que musicalmente assina com o epíteto P.G. Six) e Samara Lubelski, a veterana nova-iorquina que também trabalhou com nomes como Hall Of Fame (o seu “próprio” trio), Metabolismus, The Sonora Pine e Jackie O Motherfucker. Mas além de tocar, Samara Lubelski é também produtora e engenheira de som, e nessas categorias esteve já envolvida com bandas como os Animal Collective, Black Dice, Double Leopards, White Magic ou os Magik Markers – tudo boa gente. E talvez tenham sido mesmo todas estas referências que fizeram com que Samara Lubelski fosse – algo surpreendentemente – cabeça de cartaz da noite.

P.G. Six © Ana Sofia Marques

But first things first. Na sua carreira a solo, Pat Gubler, um dos pioneiros do apelidado free-folk, escavou sempre caminho dividido entre a música americana e europeia (é até confesso admirador da música celta - irlandesa, escocesa, bretã). E não foi com surpresa alguma que, de guitarra na mão, continuasse o seu caminho nessa agradável dicotomia (momentos houve até em que Pat Gubler fez lembrar Nick Drake). Dos discos para o concerto, o som torna-se mais limpo e a experimentação desvanece-se: as canções vêm ao de cima e a técnica / perfeição de Pat Gubler na guitarra impressiona. Num dos melhores momentos da sua actuação, a belíssima “Old man on the mountain” (The Well of Memory, Perhaps Transparent / Amish, 2004), P.G Six conta uma história onde o whisky, um velho e as montanhas são personagens principais. De resto, o imaginário das suas canções em registo a solo faz-se muitas vezes de amor e de elementos campestres, ambiências abraçadas pela natureza. Quando decidiu apresentar a couple of songs da colheita Tower Recordings, o tom mudou necessariamente: o amor permaneceu mas num cenário algo diferente onde se falava já de auto-estradas e camiões, numa encenação ligeiramente mais urbana. Independentemente da forma, do conteúdo ou do meio, ficou a vontade de voltar a ver P.G. Six mas com direito a um período mais alargado de actuação.

Samara Lubelski © Ana Sofia Marques

Já com Samara Lubelski, que marcava presença no Porto para apresentar o seu novo disco intitulado Spectacular Of Passages (que conta com a participação de membros de bandas como os Metabolismus, The No Neck Blues Band, Lady Bug Transistor & The Clean), as coisas decorreram de uma forma diferente. A guitarra acústica deu o lugar à electricidade (embora em registo suave e brando) e deu entrada em cena uma voz sussurrante (por vezes a fazer lembrar Lisa Germano, por vezes a fazer lembrar Nico, outras vezes ainda a fazer lembrar Isobel Campbell) que se manteve assim até ao final. As suas canções são delicadas e bem construídas, o único problema é que à terceira canção já parece que se ouviu tudo aquilo que havia para ouvir, que a fórmula se esgotou por completo ao final de 10 minutos – algo estranho para quem tem já tantos anos disto. Pode ser que o problema resida simplesmente no facto de Samara Lubelski não conseguir reproduzir ao vivo aquilo que criou em disco (por falta de acompanhamento de outros elementos, entre outros motivos), mas a verdade é que a actuação de Samara Lubelski roçou o sofrível, e só ganhou algum fulgor quando P.G. Six subiu a palco para a acompanhar na(s) flauta(s) em três canções. Feitas as contas, P.G Six, mais do que simplesmente agradar, proporcionou alguns momentos verdadeiramente aprazíveis; a actuação de Samara Lubelski, por outro lado, acabou por soar a desilusão, numa noite que prometeu mais do que o que cumpriu.

· 17 Nov 2005 · 08:00 ·
André Gomes
andregomes@bodyspace.net
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