Godspeed You! Black Emperor
Lisboa Ao Vivo
9- Nov 2019
Fila imensa. Imensa, como nunca vimos no Lisboa Ao Vivo, e como não temos visto em tantas outras salas por esse país fora. Dir-se-ia que toda a gente quis testemunhar o regresso dos Godspeed You! Black Emperor a Portugal, a banda que nos mostrou uma catrefada de novas possibilidades em relação ao rock e à música, em relação à política e ao cinema, em relação até à teologia, ao apocalipse. Ou não são eles a banda-sonora de um fim do mundo à espreita, de um colapso civilizacional à espera de acontecer?
Toda a gente. Novos e velhos amigos. Alguns tinham estado no já mítico concerto que os canadianos deram no Paradise Garage, no longínquo ano de 2002. Outros só puderam testemunhar a beleza destes tons, destes riffs, desta decadência de cordas no Amplifest, aquando do regresso dos Godspeed aos palcos, ou no Primavera, um pouco mais tarde. De lá para cá, mais dois discos, o último dos quais, Luciferian Towers, é precisamente aquele que trouxeram até Lisboa na primeira de duas datas que o colectivo deu por cá este ano.
Trouxeram-no, mas não se fixaram assim tanto nele. Logo ao início somos banhados por uma aura de esperança - ou por um drone de esperança -, violino e violoncelo e o ruído de fundo a fazer a cama para a mensagem simples e directa que surge ao fundo, no palco. Depois, foi vê-los a desenhar uma série de curtas-metragens, em tempo real: a música e a imagem devidamente entrelaçadas, sobre um mar de suspiros de transcendência.
Até um ateu terá dificuldades em não acreditar nos Godspeed You! Black Emperor, da mesma forma em que eles parecem não acreditar na humanidade (ou não existiria tamanha sensação de declínio na sua música). A bateria dupla surge-nos em modo militar, e vídeos de protestos, de cocktails molotov brigando com canhões de água, entram-nos pelas retinas. O mundo não é mais um lugar seguro, como dizem e bem os Mão Morta. O instrumental é pesado e tenso. Viola.
Depois de dois temas novos ("Glacier" e "Cliff") ainda por gravar, e depois de "Anthem For No State" (e todos os estados são como as cartas de amor - ridículos), eis que os Godspeed provam-nos que acreditam, sim, em todos nós, interpretando, em jeito de encore, o fabuloso Slow Riot For New Zerø Kanada na íntegra: a dança fria de "Moya" junto ao poema esquizofrénico e plagiador de "BBF3". Valeu sobretudo por isto mas, como sempre com este tipo de bandas, provavelmente só entenderemos a sorte que tivemos mais à frente no tempo.
Toda a gente. Novos e velhos amigos. Alguns tinham estado no já mítico concerto que os canadianos deram no Paradise Garage, no longínquo ano de 2002. Outros só puderam testemunhar a beleza destes tons, destes riffs, desta decadência de cordas no Amplifest, aquando do regresso dos Godspeed aos palcos, ou no Primavera, um pouco mais tarde. De lá para cá, mais dois discos, o último dos quais, Luciferian Towers, é precisamente aquele que trouxeram até Lisboa na primeira de duas datas que o colectivo deu por cá este ano.
Trouxeram-no, mas não se fixaram assim tanto nele. Logo ao início somos banhados por uma aura de esperança - ou por um drone de esperança -, violino e violoncelo e o ruído de fundo a fazer a cama para a mensagem simples e directa que surge ao fundo, no palco. Depois, foi vê-los a desenhar uma série de curtas-metragens, em tempo real: a música e a imagem devidamente entrelaçadas, sobre um mar de suspiros de transcendência.
Até um ateu terá dificuldades em não acreditar nos Godspeed You! Black Emperor, da mesma forma em que eles parecem não acreditar na humanidade (ou não existiria tamanha sensação de declínio na sua música). A bateria dupla surge-nos em modo militar, e vídeos de protestos, de cocktails molotov brigando com canhões de água, entram-nos pelas retinas. O mundo não é mais um lugar seguro, como dizem e bem os Mão Morta. O instrumental é pesado e tenso. Viola.
Depois de dois temas novos ("Glacier" e "Cliff") ainda por gravar, e depois de "Anthem For No State" (e todos os estados são como as cartas de amor - ridículos), eis que os Godspeed provam-nos que acreditam, sim, em todos nós, interpretando, em jeito de encore, o fabuloso Slow Riot For New Zerø Kanada na íntegra: a dança fria de "Moya" junto ao poema esquizofrénico e plagiador de "BBF3". Valeu sobretudo por isto mas, como sempre com este tipo de bandas, provavelmente só entenderemos a sorte que tivemos mais à frente no tempo.
· 11 Nov 2019 · 23:18 ·
Paulo Cecíliopauloandrececilio@gmail.com