Conjunto Corona
Hard Club, Porto
08- Dez 2018
Haverá alguma coisa que faça mais sentido do que ver, de perto, tudo aquilo que compõe o Conjunto Corona na Invicta que os viu nascer e que tanto os inspira? Terá sido esse o motivo principal que levou um público considerável até à Sala 2 do Hard Club, espaço localizado longe dos subúrbios portuenses que lhes correm nas rimas e nas personagens que encarnam, mas bem pertinho da Ribeira e da baixa onde elas também acontecem - basta calcorrear essas ruas durante alguns minutos, numa noite fria de quase-inverno, em busca de uma companhia para um fino...

Naquele que foi apenas o segundo concerto de apresentação de Santa Rita Lifestyle, álbum que teve e tem a tarefa complicada de suplantar o fantástico Cimo De Vila Velvet Cantina, o Conjunto Corona trouxe as armas todas. Por armas, leia-se: meia e chinelo, o incomparável Homem Do Robe, as geniais raspadinhas que criaram - uma das ideias mais originais de todo o sempre dentro da música de todo o globo - para vender o novo disco e, claro, o hidromel que, lamentavelmente, não teve direito a copos onde ser vertido.

Pouco importou essa falha, assim como pouco importou o algum desânimo sentido por quem já os viu noutros palcos e cidades; a turma do Porto, mesmo que tenha correspondido à chamada por um "Pontapé Nas Costas", pareceu quase sempre algo amorfa aos olhos de um outsider com um grande e azul-branco amor pela cidade - mesmo que, em palco, o Conjunto tenha agradecido do fundo do coração a presença daquelas dezenas de gentis e gentios, que foram entoando como podiam cada uma das palavras escutadas.

Um set hip-hop bastante bem recebido deu o mote para o concerto que se seguiria, com o Conjunto Corona a desfraldar os temas de Santa Rita Lifestyle com a nuance de quem já sabe o que a casa gasta, temas esses que metem não só referências aos gloriosos Mão Morta e Samuel Úria como versos como faz um bico a Deus - que ainda não se sabe se é satânico ou o mais cristão possível - e que contaram com a participação de PZ («o CEO», conforme explicou dB) ou Fred&Barra.

Por entre os gritos já icónicos de Gondomar! Gondomar!, o «cinturão de campeão» do Homem Do Robe, a «intimidade e badalhoquice» de "Dali Somali" (que a meio se transforma num malhão house incrível) e os já clássicos "Pontapé Nas Costas", "Chino No Olho" ou "Mafiando Bairro Adentro", esta última com uma homenagem especial às Caxinas, o Conjunto Corona deu tudo para que esta singela apresentação fosse mais que um mero concerto: foi uma carta aberta de amor à cidade que tanto lhes deu. E que só podia mesmo ter terminado como terminou: com dB na Rua das Carmelitas em avançado estado de alma a convidar-nos para um panike às duas da madrugada. Há dúvidas de que são os maiores?
· 12 Dez 2018 · 23:25 ·
Paulo CecĂ­lio
pauloandrececilio@gmail.com
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