Midori Takada
Culturgest, Lisboa
15- Nov 2018
De toda a gente partiu a mesma pergunta pertinente: O que é que achaste? Agora que se passam várias horas desde o final do concerto, essa é uma pergunta que continua sem resposta. Porque aquilo que se viu Midori Takada fazer no palco da Culturgest não foi o típico concerto, ou a apresentação que se esperava de alguém que viu ser-lhe dada uma nova vida através da reedição de Through The Looking Glass, álbum que poderia ter ficado esquecido para a história e que foi nos últimos anos recuperado e saudado como peça basilar do minimalismo.

Ao entrar na sala, o palco deixava antever isso mesmo: dez pratos, tarolas, um aquafone, uma marimba. E se é verdade que a estranheza não nos é - digamos - estranha, nada nos poderia ter preparado para o que dali veio. A nós e a tantos outros. Tudo começa com uma vibração ténue e arranhada, antes da performance / dança lenta que a japonesa foi espalhando pelo palco, antes do primeiro latejar do gongo, das correntes arrastadas pelo piso e das primeiras palavras, num inglês com sotaque, como um cântico ou uma ode xamanista. Um toque em cada prato, um timbre diferente. Spoken Word e percussão sobre o nada.

Durante uma hora, foi exactamente isto, pouco mais, a que se assistiu. Nem a luz levou o olhar para diante de Midori Takada, não houve uma sensação de frémito avant-garde, não houve aborrecimento também ele avant-garde. Houve, simplesmente, aquela pergunta: que estou eu a achar disto?, que nasce da incompreensão daquilo que se observa. No final, houve quem se levantasse para a aplaudir; outros fizeram-no de forma mais tímida, ainda sentados. Nem Jandek dividiria tanto um público.
· 20 Nov 2018 · 23:28 ·
Paulo Cecílio
pauloandrececilio@gmail.com

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