John Cale
Centro Cultural de Belém, Lisboa
05 Out 2005
John Cale, o galês, o mais erudito músico do rock, regressou a Lisboa e trouxe consigo uma banda de guitarras ligada à electricidade. Desiludidos terão ficado alguns fãs hardcore que talvez esperassem uma viagem aos momentos mais dourados da sua carreira. Cale não cedeu, apresentou a sua nova máquina de música ao vivo e aproveitou para promover o novo disco blackAcetate.

Cale entrou a abrir, sacudindo as teias de aranha e afugentando fantasmas, aplicando a sua forte sonoridade 2005. E à partida o seu novo som estranha-se: muitas guitarras electrificadas, quase resvalando perigosamente para as proximidades do hard rock mais manhoso. No entanto as novas músicas “Turn the Lights On” e “Perfect” resultaram muito bem neste contexto, conseguindo mesmo ser dos melhores momentos da noite.

A revisitação de clássicos era obrigatória, Cale desfilou alguns. Houve a música dedicada ao seu pintor favorito, “Magritte”, e algumas mais: “Helen of Troy”, “Guts”, “Gideon's Bible” (interpretação etérea), “Cable Hogue”, “Ship of Fools”, “Leaving It Up to You”. Mas faltaram muitas outras. Ignorar por completo o disco “Paris 1919” (o exemplo mais perfeito da pop perfeita) deveria ser proibido. Valeu o encore, que deixou um gosto bom na boca: “Gravel Drive” (nova música que repesca a genialidade de outros temas mais velhos) e “Pablo Picasso” (tema original de Jonathan Richman que John Cale tornou seu). Apesar de alguns temas, o concerto acabou por não ser perfeito: de algumas interpretações esperava-se mais, pediam-se outras músicas.

O grande auditório do Centro Cultural de Belém estava pouco composto, a plateia mostrava muitos lugares vazios. O ex-fundador dos The Velvet Underground, criador dos geniais Church of Anthrax, Fear, Paris 1919 ou Music for a New Society merecia mais gente. E talvez com um público mais entusiasta e com acompanhamento diferente (um piano?) a perfeição fosse possível.
· 05 Out 2005 · 08:00 ·
Nuno Catarino
nunocatarino@gmail.com

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