Bernardo Sassetti Trio2
Culturgest, Lisboa
04 Out 2005
O grande auditório da Culturgest encheu-se para assistir à apresentação de Ascent, o novo disco de Bernardo Sassetti. E Sassetti surgiu na companhia do seu reformulado Trio2: aos já habituais Carlos Barretto (contrabaixo) e Alexandre Frazão (bateria) juntaram-se Jean-François Lezé (vibrafone) e Adja Zupancic (violoncelo). Foram estes músicos que, trabalhando em equipa, contribuíram para a construção de um dos mais belos concertos a que o ano de 2005 assistiu.

O espectáculo começou com uma projecção de fotografias “desfocadas”, salientando o apelo visual da música de Sassetti - a sua ligação ao cinema já vem de longe mas agora é que se faz uma união música-imagem explícita. Acabada a projecção, começa a música. O piano de Sassetti continua a ser um depósito sensível onde cada nota arrasta sentimento. E as novas músicas parecem reforçar as suas capacidades de composição.

O concerto evolui, milimetricamente planeado, pela ordem do novo disco. Afastado da democracia e diálogos do jazz comum, este é um grupo que funciona em redor de Bernardo Sassetti. Apesar de alguma margem de manobra para os outros músicos, é o piano que dirige e impõe as regras, os outros seguem-no. A dupla vibrafone e violoncelo serve-se como introdução aos temas, fornecendo uma envolvência especial à poesia do piano. A dupla contrabaixo e bateria acompanha o crescimento das músicas e é em trio que se atinge o auge - Barretto e Frazão dão asas para Sassetti brilhar a grande altura. O piano é, naturalmente, o ponto de união entre todos e quando todos se reúnem a fusão resulta natural e a música sobe às nuvens.

As imagens características mantêm-se: Bill Evans é o pai e “lirismo” é uma palavra que se repete muitas vezes. Mas agora há novos elementos, mais diversidade, espaço para a improvisação colectiva (um dos momentos mais entusiasmantes). Bernardo Sassetti tem vindo a crescer (Nocturno e Indigo já são dois marcos) e, a julgar por esta amostra ao vivo, o novo disco promete ser mais um degrau alcançado nesta evolução.

Quando lá para o fim do concerto as fotografias voltam a aparecer a anunciar o final, Sassetti está sozinho e deixa-nos presos em leves notas suspensas, repetidas, como quem não se quer ir embora. Mais vai. Ainda regressa para o encore, com um arranjo de “Olha Maria”, belíssima canção de Chico Buarque - e Sassetti soma sensibilidade à graça do original. À saída, duas certezas: a confirmação de um talento enorme e mais um grande passo em frente.
· 04 Out 2005 · 08:00 ·
Nuno Catarino
nunocatarino@gmail.com
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