Lydia Lunch / Putan Club
Sabotage, Lisboa
17- Mar 2018
Poetisa, actriz, vocalista de uma das enormes bandas da no wave - os inimitáveis Teenage Jesus and the Jerks -, Lydia Lunch dispensa qualquer tipo de apresentações mais ao osso. Basta vê-la, de preto, sentada numa cadeira habilmente disposta em palco, a conversar com o público que em noite fria de Março encheu o Sabotage para a ver, em carne e osso, e ouvir as suas palavras, também elas feitas dos mesmos materiais. Isto, depois de 40 minutos de poesia em que Lydia Lunch se fez acompanhar por Weasel Walter, baterista exímio, gerador de electrónica abstracta, que conferiu o noise necessário à apreciação plena dos textos da norte-americana hoje sediada em Barcelona.

I'm feeling murderous again, começa por entoar, deixando uma achega típica de rockstar lá pelo meio - ou, visto tratar-se de Lunch, talvez uma anti-achega: os portugueses enquanto niggers da Europa. Um rótulo talvez algo exagerado, parece. Mas a verdade é que somos merda; e isso é perceptível quando, num espectáculo de spoken word, em que o silêncio deveria imperar mais do que em outro tipo de eventos, há quem insista em manter a conversa no bar a decibéis avassaladores, impedindo que o público de facto interessado em Lydia Lunch a possa apreciar com a devida atenção. Por outras palavras: será que ninguém é capaz de abater esta escumalha?

Foi um espectáculo curto, tal como o foi o dos Putan Club, que ao longo da sua existência têm gerado um verdadeiro culto entre os fãs de música de cariz mais gótico, e que no seu regresso a Lisboa mostraram uma força poderosa e invejável. É que há bandas que tocam; mas melhor é quando elas varrem. Foi o que fez a dupla, através de uma sonoridade inclassificável onde drum n' bass, trajeitos árabes e descargas eléctricas de rock n' roll se cruzam com batidas aceleradas, não dando - nem querendo - tréguas. Divididos a meio pelo público, tocando em dois lados opostos, os Putan Club foram talvez os únicos que conseguiram fazer com que o público se calasse. Ou pelo menos que os melómanos não o ouvissem.
· 21 Mar 2018 · 00:52 ·
Paulo Cecílio
pauloandrececilio@gmail.com

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