Sinsal Son Estrella Galicia
San Simón, Galiza
23- Jul 2017
Passam-se os anos e o Sinsal Son Estrella Galicia torna-se cada vez mais uma espécie de oásis dos festivais de Verão. Uma pequena ilha (dá quase para ver a outra ponta de cada um dos lados), um cartaz surpresa que é sempre refrescante e variados, comida incrível, zero filas, zero problemas técnicos. Parece um sonho, certo? Mas é a realidade.

Estas coisas das vidas profissionais às vezes são assim: não permitem experienciar um evento destes na sua totalidade mas a verdade é que um dia, um dia apenas, é já bem suficiente para absorver a magia deste festival. O cardápio daquela tarde foi tão diversa como costuma ser: num espaço tão curto ofereceram-se as propostas mais diversas.

O dia começou com as canções luminosas do escocês C Duncan com a água no horizonte. Bem acompanhado pela sua banda completa, passeou-se pelas canções dos dois discos de estúdio que editou – Architect e The Midnight Sun – e deixou no ar a sensação de dever cumprido.

Num dos dois palcos mais pequenos do festival (este ano foram quatro ao todo), a norte-americana Holly Macve, com voz de anjo, abriu o livro da sua country sem grandes artifícios nem artimanhas. As suas canções, respeitadoras da tradição, foram uma banda-sonora simpática para o almoço. Porque, há que dizê-lo, comer neste festival é também um momento de destaque.

Depois de alguns minutos ao som dos galegos Cintaadhesiva, que têm uma proposta teatral e curiosa, uma enorme surpresa: já sabíamos que em disco as canções de Anna Meredith eram ritmadas e festivas mas ao vivo tudo aquilo ganha uma expressão que ultrapassa aquilo que se sente em Varmints (2016). A formação em palco foi, ela própria, surpreendente: violoncelo, guitarra, bateria, tuba, clarinete e electrónica. E deu festa, claro está. Uma festa expansiva e excêntrica.

Por falar em festa, os Janka Nabay & The Bubu Gang deram, muito fácil e sem qualquer dúvida, o melhor concerto do festival. Ahmed Janka Nabay é da Serra Leoa e juntou-se a músicos de bandas como os Gang Gang Dance ou Skeletons para construir o seu sonho da “bubu music”. E que sonho. Os ritmos frenéticos, os teclados insanos, as vozes tribais, o baixo hipnótico. Tudo ali funcionou: a música, o local e os “locais”. A festa instalou-se muito rapidamente e ainda deve morar certamente nos corações da grande maioria das pessoas que por lá esteve.

A festa continuava ali ao lado, passando a ponte, com os colombianos Romperayo, que espreitamos por momentos (estava sexy) mas decidimos andar mais um pouco e ver Amorante, que é como quem diz o basco Iban Urizar, num concerto intimista, por vezes perturbado com o volume do concerto que acontecia ao mesmo tempo. Com sentido de humor e mestria, Amorante mostrou as suas canções, entre a folk e o étnico-auto-tune (ouçam o último EP e já percebem), e sacou muitos sorrisos aos que escolheram passar aquele pedaço de tempo na sua companhia.

O dia fechou ao som dos of Montreal e de toda a extravagância e singularidade da proposta de Kevin Barnes. Durante cerca de uma hora, os norte-americanos deram aquilo que sabem dar: um cocktail de canções pop clássicas, mais ou menos electrónicas, mais ou menos excêntricas, mas sempre directas e vivas. Depois Kevin Barnes faz o resto: vestido de mulher, com uma impressionante cabeleira loira, foi animador de serviço para quem queria mais um momento de libertação antes de regressar ao barco e às vidas normais. Agora só para o ano. É uma questão de ir gerindo as boas memórias com moderação.
· 10 Ago 2017 · 17:30 ·
André Gomes
andregomes@bodyspace.net

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