OUT.FEST 2017
Barreiro
5-7 Out 2017
DIA 2 |
6 Outubro
O Out.Fest não serve apenas para conhecer música nova ou reencontrar aquela que já nos abriu a boca de espanto no passado; serve, também, para conhecer a própria cidade do Barreiro, dividindo-se por várias salas, todas elas díspares entre si. No terceiro dia do festival, a "fava" saiu ao Auditório Municipal Augusto Cabrita, que dentro de alguns dias acolherá, como prova do ecletismo barreirense, concertos de Rita Redshoes e João Pedro Pais (que, grosso modo, também criam "música experimental" à sua maneira; experimentalmente má). Foi, também, o local onde se pôde beber a menos de 1€ e onde se encontrou a tosta mista mais gigante de toda a Margem Sul (este facto poderá ter sido estrondosamente exagerado).
E foi o local onde se apresentaram os Casa Futuro, trio formado por Pedro Sousa (saxofone), Gabriel Ferrandini (bateria) e Johan Berthling (contrabaixo), para uma sessão que, à semelhança do espectáculo de véspera de Sei Miguel, andou pelos meandros do jazz, ainda que na sua vertente mais exploratória e improvisada. Apesar da música, que é o que realmente importa, se ter mostrado em grande parte interessantíssima, especialmente nos momentos mais caóticos e abstractos (i.e., quando todos os intervenientes se juntavam para partir pedra), não deixou de pairar no ar a ideia de que cada músico, e cada movimento por si efectuado, parecia inserir-se num contexto de competição para ver quem chegaria primeiro ao fim, ou para confirmar qual deles o melhor improvisador.
Uma batalha que certamente perderiam para Dylan Thomas e para os seus Pere Ubu, mesmo que este não improvise, mas sim faça rock n' roll. Ou, pelo menos, tenha procurado fazer rock n' roll, agora sob a designação Moon Unit. Sem baterista mas com um percussão electrónica e diversas vezes fora de tempo, com guitarra eléctrica mas sem monitor que lhe valesse, e com clarinete e trompete a dar novas roupagens a temas como "Bus Station" (de Carnival Of Souls, 2014), Thomas ganharia porque não há como lidar com o seu ódio gigantesco por tudo o que o rodeia ou rodeou esta noite, tenha isso sido a própria banda, o som da sala ou o público em si. O que não significa que aquelas canções, a roçar o osso, tão iconoclastas como dantes, não tenham sido bem-vindas. Mas já vimos melhor dele e não há muito tempo. Que saudades, Zé dos Bois.
Se é para fazer comparações entre artistas e concertos anteriores, não há como não referir o sono provacado pela apresentação de Lolina no Musicbox, há algum tempo, por ocasião de mais uma edição do Jameson Urban Routes. Tudo o que ali foi enganador, aqui roçou o fenómeno; com resquícios da hipnagogia Hype Williams e a escuridão a vomitar sobre a sala, Lolina deu um concerto coeso onde o beat - viesse ele de onde viesse, incluindo do troar de uns saltos altos em rua molhada - foi rei e senhor, polvilhado com r&b narcótico, melodias house resgatadas aos anos 90 e até mesmo ao preciosismo da música de cabaré. Houve gente que foi abandonando a meio, mas alguns resistentes divertiram-se a dançar nas laterais. Não o poderia ser de outra forma.
O Out.Fest não serve apenas para conhecer música nova ou reencontrar aquela que já nos abriu a boca de espanto no passado; serve, também, para conhecer a própria cidade do Barreiro, dividindo-se por várias salas, todas elas díspares entre si. No terceiro dia do festival, a "fava" saiu ao Auditório Municipal Augusto Cabrita, que dentro de alguns dias acolherá, como prova do ecletismo barreirense, concertos de Rita Redshoes e João Pedro Pais (que, grosso modo, também criam "música experimental" à sua maneira; experimentalmente má). Foi, também, o local onde se pôde beber a menos de 1€ e onde se encontrou a tosta mista mais gigante de toda a Margem Sul (este facto poderá ter sido estrondosamente exagerado).
E foi o local onde se apresentaram os Casa Futuro, trio formado por Pedro Sousa (saxofone), Gabriel Ferrandini (bateria) e Johan Berthling (contrabaixo), para uma sessão que, à semelhança do espectáculo de véspera de Sei Miguel, andou pelos meandros do jazz, ainda que na sua vertente mais exploratória e improvisada. Apesar da música, que é o que realmente importa, se ter mostrado em grande parte interessantíssima, especialmente nos momentos mais caóticos e abstractos (i.e., quando todos os intervenientes se juntavam para partir pedra), não deixou de pairar no ar a ideia de que cada músico, e cada movimento por si efectuado, parecia inserir-se num contexto de competição para ver quem chegaria primeiro ao fim, ou para confirmar qual deles o melhor improvisador.
Uma batalha que certamente perderiam para Dylan Thomas e para os seus Pere Ubu, mesmo que este não improvise, mas sim faça rock n' roll. Ou, pelo menos, tenha procurado fazer rock n' roll, agora sob a designação Moon Unit. Sem baterista mas com um percussão electrónica e diversas vezes fora de tempo, com guitarra eléctrica mas sem monitor que lhe valesse, e com clarinete e trompete a dar novas roupagens a temas como "Bus Station" (de Carnival Of Souls, 2014), Thomas ganharia porque não há como lidar com o seu ódio gigantesco por tudo o que o rodeia ou rodeou esta noite, tenha isso sido a própria banda, o som da sala ou o público em si. O que não significa que aquelas canções, a roçar o osso, tão iconoclastas como dantes, não tenham sido bem-vindas. Mas já vimos melhor dele e não há muito tempo. Que saudades, Zé dos Bois.
Se é para fazer comparações entre artistas e concertos anteriores, não há como não referir o sono provacado pela apresentação de Lolina no Musicbox, há algum tempo, por ocasião de mais uma edição do Jameson Urban Routes. Tudo o que ali foi enganador, aqui roçou o fenómeno; com resquícios da hipnagogia Hype Williams e a escuridão a vomitar sobre a sala, Lolina deu um concerto coeso onde o beat - viesse ele de onde viesse, incluindo do troar de uns saltos altos em rua molhada - foi rei e senhor, polvilhado com r&b narcótico, melodias house resgatadas aos anos 90 e até mesmo ao preciosismo da música de cabaré. Houve gente que foi abandonando a meio, mas alguns resistentes divertiram-se a dançar nas laterais. Não o poderia ser de outra forma.
· 12 Out 2017 · 22:33 ·
Paulo CecÃliopauloandrececilio@gmail.com
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