EDP Vilar de Mouros 2017
Vilar de Mouros, Viana do Castelo
24-26 Ago 2017
Há, algures em Covas, que é algures no Minho, um restaurante com nome de pessoa que é casa para o melhor e maior costoletão que alguma vez irão comer fora do Texas. Ou até mesmo do Ribatexas. Não vale a pena pronunciar o nome, primeiro para o turismo não estragar aquilo, segundo porque é muito mais divertido chegar lá em modo geocaching. E com isto um gajo até perde a pena de não ter comido um sarrabulho durante estes quatro dias de estadia.

Não se sabe se Bob Geldof comeu sarrabulho ou se preferiu enviar umas doses para a Etiópia. Provavelmente, trocou-as pelo mega fato de leopardo que envergava, e que gritou envergar, precisamente nestes termos. Vilar de Mouros, nós somos Boomtown Rats!, e está feita a apresentação. Em palco, Geldof caminha de um lado para o outro como uma verdadeira estrela rock e não como o político que acabou por ser (há bastantes semelhanças entre ambos, dirão alguns), vai debitando um rock clássico e apunkalhado e não se esquece, sequer, de "I Don't Like Mondays".

This is not Vilar de Mouros, this is Boomtown!, reafirma, por entre loas a John Lee Hooker e ao rock enquanto salvação, por entre críticas a Donald Trump de pronto recebidas com assobios do público. O mesmo público que não se inibiu de saltitar num final efusivo, com um tema homónimo que não ficaria mesmo, mesmo, mesmo nada mal na Madchester do final dos anos 80. Porra, os Boomtown Rats sabiam fazer disto? Quem diria? E quem diria que existiam tantos fãs dos Psychedelic Furs em 2017, quando todas as suas canções soam à mesma?

A surpresa de uma noite mais repleta que a anterior coube aos Morcheeba, se bem que, pelo que se percebeu, os Morcheeba já não são bem os Morcheeba - e sim Skye Edwards e Ross Godfrey, um dos irmãos que formou a banda. A cantora esteve imparável, ainda que tímida, ou talvez mais o contrário de forma a caber que nem uma luva na sonoridade dos britânicos: há trip-hop, mas também há a vertigem das guitarras; há reggae em ritmo e em groove, mas também há um wah-wah a destruir uns quantos neurónios...

Não faltaram, como é evidente, os grandes êxitos: "World Looking In", angélica e vestida de veludo, "Otherwise", que apesar da letra não dói mesmo nada, e "Rome Wasn't Built In A Day", mesmo a fechar, com estrelas e mais estrelas a adornar o palco, réplica do mar de luzes que entretanto se ergueu sobre a audiência. A mesma que foi consagrada quando um dos seus sobre a palco a pedido de Skye para um passito de dança, naquele que há-de ter sido um dos melhores momentos da sua vida.

Antes disso, houve sobretudo um belíssimo concerto, que deita por terra a ironia da seguinte pergunta: ainda fazia sentido? Claro que sim. "Let's Dance", repescada a David Bowie, também fez sentido. Assim como a interpolação de "The Beautiful People", de Marilyn Manson, antes de uma indispensável foto de grupo com o público como pano de fundo. Assim como a nossa vontade de levar Miss Edwards para casa e tratá-la como a princesa que é. É pop, caralho, tudo faz sentido.

O que não faz sentido é saber que os gigantescos 2 Many DJs, conhecidos em certos círculos como The Fucking Dewaele Brothers, acham piada à "Everything Now" dos Arcade Fire, ainda que depois respondam com Blur e MGMT e Technotronic e Human League e, mais importante do que isso, com o monstro pop anárquico que dá pelo nome de KLF, cujo regresso não passou ao lado da dupla belga. Já eram menos os que se dignavam a dar aquela despedida à edição deste ano do festival - e o som junto ao palco esteve absurdamente alto - mas os 2 Many DJs ainda conseguiram fazer passar a sensação de rave. Festa que é boa acaba sempre, porém. Mas para o ano cá estaremos de novo.
· 29 Ago 2017 · 22:33 ·
Paulo Cecílio
pauloandrececilio@gmail.com

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