Brunch Electronik #1
Lisboa
23- Jul 2017
O conceito de brunch é talvez o ridículo-mor da sociedade moderna de consumo. É uma refeição que não faz sentido. É uma ideia que não traz quaisquer benefícios ou virtudes à vida de um homem. Não, senhores, senhoras, o brunch é só mais uma forma de se gastar dinheiro em tascos fancy porque alguém decidiu que entre o pequeno-almoço e o almoço tínhamos de ingerir comida dê lá por onde desse. Sem que ninguém saiba explicar como é que é possível definir um horário para o brunch, quando toda a gente sabe que até ao meio-dia a refeição tem sempre o nome de "pequeno-almoço". Sem excepções.

Mas estamos a perder-nos. O brunch, aquele que não seja um brunch lato, pode ser divertido. Tal é o caso do Brunch Electronik, um festival que não o é bem e que tem tomado conta de Lisboa nos últimos tempos, permitindo aos aficionados da electrónica a oportunidade de apanhar, ao vivo e a cores, alguns dos nomes cimeiros da música que hoje se faz dentro desse género. Em todas as suas vertentes. Gui Boratto era o cabeça de cartaz do primeiro dia, ele que encheu a pista para arquitectar momentos de hedonismo quando já ninguém se lembra do óptimo Chromophobia, álbum de estreia editado em 2007.

O maior problema com este género de eventos - pelo menos para quem passa a vida a escrever sobre "o rock" - é relatar de forma oficiosa aquilo que se passou em cima do palco, especialmente quando não há visuais a acompanhar a batida. Até porque não há uma setlist a acompanhar o texto (para quê?). Até porque muitas das vezes se está demasiado ocupado a dançar. Ou a descansar as pernas depois de fazer Alcântara-Alvito a pé porque o autocarro ia demorar muito e somos pessoas apressadas. E assim, e assim...

Com algum atraso, o festival começou com Wla Garcia (o qual não vislumbrámos a tempo) e passou depois para a onda deep de Scharre, à medida que a indignação aumentava dado o preço da cerveja: 3,5 absurdos euros. O que, bem, acaba por provar um pouco aquilo que se disse no primeiro parágrafo sobre o brunch ser mais uma forma de se gastar dinheiro. Mas, e isto é um grande mas, o festival também merece aplausos neste campo: é provavelmente dos poucos (se não mesmo o único) em Portugal que permite aos convivas andarem a passear-se com e a beber de enormes jarros de álcool, porque a javardice é saudável e a bebedeira ainda mais.

Naquela zona no Alvito, com um cenário natural rodeando a música e bancos de areia fazendo do espaço uma espécie de praia natural, foi ainda possível observar de perto a fauna que por lá habita. Fritos do boom, alemães armados com flautas que reclamam - aos berros - com o gelo na cidra, gente que sente demasiado o pedal, idiotas que não querem sair dali sem tirar bué de fotos, parolos que reclamam por não haver caipiroska e um pateta com uma t-shirt de Tara Perdida. Mas não se fiem nisto: também havia muita gente fixe que não queria mais do que dançar a tarde/noite inteira, mesmo que tenham aplaudido aquilo que nos pareceu um set meio simplista e para agradar recorrendo ao mínimo denominador comum de Gunjah. Mas que se foda - os chuveiros que espirram do palco e o 4/4 interminável são quem manda aqui. Próxima paragem: Dubfire, no dia 30.
· 25 Jul 2017 · 23:18 ·
Paulo Cecílio
pauloandrececilio@gmail.com

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