Cage The Elephant
Coliseu do Porto
6- Fev 2017
“You can drive all night; looking for answers in the pouring rain; you wanna find peace of mind; looking for the answer…” Chuva, chuva e mais chuva. Um carro (quase) em excesso de velocidade e uma expectativa relativamente baixa. Chegada em cima da hora, não a tempo do concerto dos Twin Peaks, mas no timing perfeito para ouvir o bruahhh imenso que se apoderou do Coliseu do Porto aquando da entrada em cena dos Cage The Elephant e da sua “Cry Baby”. A resposta à pergunta perdida nos densos pingos de chuva estava ali, naquele público, naquela banda, naquele banho de música com uma hora de duração.

Se o nome do último álbum dos Cage, já com quase dois anos de existência, poderá ser um mote, nós, depois daquilo a que assistimos só podemos dizer “you are pretty”. Força, intensidade, empatia e alegria em barda. Esbanjamento rock-blues-garage liderado por um frenético, “jaggeriano”, descalço e quase desnudo Matt Shultz (ladeado pelo guitarrista e irmão Brad que cantou todas as músicas como se o vocalista se tratasse e sem micro acabando mais rouco do que um qualquer “Macaco Líder”) que não se cansou de cantar loas ao muito e fervoroso público presente neste Coliseu, arena em que o “elefante enjaulado” se libertou metamorfoseado em leão esfaimado. E que fome! Apesar de terem estado presentes em Paredes de Coura no último Verão, os Cage The Elephant aterraram no Porto cheios de vontade novicia de provar que o lugar em cima de um palco se conquista concerto a concerto, música a música. Música de jarda para uma grande jarda.

Percorrendo toda a sua discografia, apesar do maior enfoque nas “bandeiras” Melophobia (2014) e Tell Me I’m Pretty (2015), a banda do Tennessee radicada em Londres desde 2008 esteve perto da perfeição. À quase épica e carregada “Trouble”, entoada em uníssono por quem lá estava e por quem não estava (os telemóveis dão jeito no que toca a “problemas”,) passando pela abrasiva (para gargantas e almas) “Ain’t No Rested For The Wicked” ou a versão de “Mary Jane's Last Dance”, tema original de Tom Petty and the Heartbreakers, os Cage ainda tiveram tempo e fôlego para acabarem, sem vontade nenhuma e um Matt descalço, com o explosivo tríptico “Shake Me Down” com os bofes de fora e guitarras a expelir riffs como o contribuinte expele “contribuições”, “Cigarette Daydreams” e “Teeth”.

Enorme concerto e uma ainda maior plateia. Se cabe à banda dar o melhor de si e das suas composições em cima do palco, não é menos verdade que ao público se reserva uma quota-parte do espectáculo e os milhares que encheram o Coliseu do Porto foram inexcedíveis, de fio a pavio. Em jeito de confirmação desta premissa, Matt Shultz precipitou-se para o seu meio e aplaudiu estes bravxs do Coliseu. Custou-lhes saírem de cena, mas ainda mais custou ao povo deixar de os ouvir enquanto ansiava um encore que, como Godot, ainda não apareceu.

Não são densos e a sua música poderá ser orelhuda, mas é mais do que certo que a honestidade e intensidade daquela hora foram mais do que suficientes para confirmar que os Cage são “elefante” que os convivas de uma qualquer sala deste mundo não poderão ignorar. Quem esteve esteve, quem não esteve que estivesse.

p.s.: alguém pode explicar a piada de se ver um concerto inteiro pelo ecrã de um telemóvel quando se está na sala em que o mesmo decorre?
· 14 Fev 2017 · 23:57 ·
Fernando Gonçalves
f.guimaraesgoncalves@gmail.com

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