Que faziam tantos jornalistas e “gente do meio” num concerto de uma banda que tem apenas uma maqueta e cujo álbum de estreia só deve ver a luz do dia em Abril de 2006? Há uma certa expectativa generalizada em relação aos lisboetas Linda Martini. O CD promocional de quatro temas do quinteto é um verdadeiro óvni na paisagem musical portuguesa, ao cruzar a intensidade pós-rock (comparações a alguns momentos dos Isis não são descabidas) com letras em português. É também um dos mais interessantes objectos musicais portugueses deste ano (ouçam-no em www.myspace.com/lindamartini).
© Ana Sofia Marques |
Logo com “A Severa”, que abriu o concerto, acercaram-se da força de uns Mono e desenharam as coordenadas da actuação. “Este Mar”, que faz parte do CD promocional abriu com um riff circular que vai mudando (três guitarras permitem mudanças subtis) e crescendo - Hélio Morais é um óptimo baterista, nitidamente da escola hardcore de onde provém (não por acaso milita nos recomendáveis If Lucy Fell). Depois do crescendo, a inevitável calmaria remeteu para os Explosions In the Sky, que também foram a referência de “Estuque”.
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“Lição de Voo nº 1” foi o primeiro grande momento do concerto. Abriu em tom de balada algo inofensiva, mas ganhou força à medida que Hélio imprimiu velocidade e André Henriques passou a gritar em vez de declamar. A segunda parte do tema revelou o melhor dos Linda Martini: Pedro Geraldes ataca os efeitos, as outras duas guitarras apontam aos céus e pensamos que temos finalmente uma banda portuguesa que faz pós-rock na linha de uns Mogwai ou Explosions in the Sky e que está atenta às movimentações marginais, ao hardcore e ao metal (Isis, Pelican, Cult of Luna).
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“Amor combate”, que tem tido algum airplay, foi recebida com entusiasmo
- muitos já sabiam a letra de cor -, até porque mostra o lado mais acessível
do grupo, a tentar fundir a estrutura de canção com as dinâmicas pós-rock.
Terminaram com “Dá-me a tua melhor faca”, que nunca tinham apresentado ao
vivo.
As expectativas provocadas pela maqueta foram correspondidas: os Linda Martini
são mais um exemplo, desta vez nacional, que o hardcore é uma escola fértil
para voos criativos futuros. Já encontraram um espaço, que inclui fãs de múltiplas
origens, desde o indie ao hardcore. Agora, é vê-lo crescer.
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