Medeiros/Lucas
Galeria Zé dos Bois, Lisboa
27- Abr 2016
Confidenciaram-nos que os MEDEIROS/LUCAS não gostam de ser vistos como um projecto folk, e que nem sequer pretendem ficar para sempre associados aos Açores. É verdade que a segunda é difícil; os poemas cantados pela voz de Carlos Medeiros cheiram à maresia imaginada do arquipélago, a palavra ergue-se como, e é levada por, um majestoso céu azul rumo às Américas transformadoras da vida. Mas a primeira, a folk, é puro engano nosso. MEDEIROS/LUCAS não é folk. Pode ser blues açoriano. Mas, na verdade, é o mais puro rock n' roll.

Olhamos para o concerto de apresentação de Terra Do Corpo, na Galeria Zé dos Bois, e confirmamo-lo. Se Carlos Medeiros fosse apenas mais um cancionista, não se riria daquela forma em palco ao mesmo tempo que da guitarra brota um riff deliciosamente pesado; e se Pedro Lucas quisesse fazer folk, não se propunha a fazer desabar, da melhor forma possível, aquele chão da Galeria pela força da electricidade. Esta poesia é mais rock n' roll que muitas das merdas em voga actualmente, e isso deve ser bem explícito. Não estamos a olhar para mais um cantautor da capital: estamos a ver história a acontecer, estamos a ver um pedaço de Portugal em mudança.

Exagero? Basta sentir o pedaço final de "Asas", em que o verso final dá origem a um corpo eléctrico que Walt Whitman invejaria; basta "Azougo", que nas palavras do próprio Pedro Lucas é um acordar meio psicadélico, e sim, há psicadelismo do bom na música de MEDEIROS/LUCAS; basta o jazz swingado de "Sede", faixa que abre o novo disco e que é acompanhada com estalares de dedos e dança em frente ao palco. Mas como se isso não bastasse, também há, e houve, puro heavy metal no solo de "Transparência", e o vozeirão de Selma Uamusse a encantar banda e audiência em "Corpo Vazio", antes de regressarem para encore - desta feita escutando-se "Fado do Marujo" e "Navio", ambas do álbum anterior, Mar Aberto. No final, quem baixou as cabeças foram todos eles, mas quem fez a vénia fomos todos nós. Os MEDEIROS/LUCAS não são um barco musical: são um iate.
· 02 Mai 2016 · 22:23 ·
Paulo Cecílio
pauloandrececilio@gmail.com
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