Mogwai
Hard Club, Gaia
06 Fev 2004
© João Pedro Barros
Foi ontem que a banda escocesa tocou no Hard Club, a melhor sala de espectáculos em Portugal - e com a melhor vista para o exterior do País (do Mundo?). Cenário perfeito para as melodias planantes dos Mogwai, das canções etéreas (e levemente chatas) que preenchem quase todo o álbum Happy Songs for Happy People e das descargas de distorção que nos libertam de uma hipnose dolente para uma outra, mais colectiva e eufórica.

O problema dos Mogwai - tanto em disco, como ao vivo - é que parecem não ter direcção. Ora, se isto para mim é um problema, para outros será um trunfo. Na lógica desta opinião, a sombra do concerto de Explosions in the Sky do ano passado no Mercedes não pode deixar de me assaltar. Onde os EITS são concretos e fortes, os Mogwai planam; onde os EITS descobrem frases melódicas ricas, os Mogwai preferem as ambiências e pequenas melodias que são, nos piores momentos, inconsequentes.
De Happy Songs for Happy People - o título mais irónico de 2003 -, os Mogwai tocaram "Hunted by a Freak" - canção acessível com o vocoder entre o doce e o irritante e as guitarras belíssimas, em choro - , "Killing all the Flies" - a canção mais Sigur Rós dos Mogwai? - e "Ratts of the Capital", tema maior do disco, com um riff perfeito e brutal (ataque de dois baixos e duas guitarras diz-vos alguma coisa?), verdadeiro monstro sonoro em marcha. "Christmas Steps" foi o tema mais forte do concerto: uma longa introdução sustentada durante quatro minutos até desembocar num riff rock perfeito e em explosões por camadas, sempre a subir, até níveis absurdos (elogio) de ruído branco e, de novo, o riff e a parcimoniosa conclusão - música em círculo, a perfeição.

É essa a beleza deste género de música e, simultânea e paradoxalmente, o seu calcanhar de Aquiles. Chamemos-lhe pós-rock, tendo consciência que todos os rótulos são desmontáveis. O pós-rock ao querer fugir do rock - seguimos a leitura literal do termo - acaba por cair numa outra forma de previsibilidade. Os Mogwai, mesmo sendo pioneiros, não escapam a esta armadilha. Em Rock Action e Happy Songs for Happy People, fugiram para melodias mais etéreas e evitaram a obrigatoriedade das muralhas de som em escalada. Conseguiram-no, mas perderam a beleza de discos como Come on Die Young e músicas como "Summer" e "Christmas Steps". O concerto reflectiu este beco sem saída e, por isso, não foi fabuloso. Apenas muito bom.
· 06 Fev 2004 · 08:00 ·
Pedro Rios
pedrosantosrios@gmail.com
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