Ricardo Toscano Quarteto
Culturgest, Lisboa
28- Nov 2015
Jovem saxofonista com lastro de virtuoso, Ricardo Toscano tem conquistado rapidamente a cena jazz nacional, colaborando com diversos projectos (Sexteto de Jazz de Lisboa, Nélson Cascais e João Hasselberg, entre outros). Ao leme do seu quarteto o saxofonista apresentou-se agora na Culturgest, integrado no ciclo “Jazz +351”, comissariado por Pedro Costa. Originalmente estava apenas agendado um concerto para dia 28 de Novembro mas, tendo esgotado cedo, foi acrescentada uma nova data, a 27 de Novembro - que também esgotou. O quarteto aproveitou para tocar ainda uma noite adicional, na noite anterior, no Maxime Sur Mer.

O grupo de Toscano completa-se com três músicos da mais jovem geração do jazz português: João Pedro Coelho no piano, Romeu Tristão no contrabaixo e João Pereira na bateria. Apesar de Toscano tocar saxofone alto, a forma da estrutura musical do grupo assenta no quarteto clássico de John Coltrane (1962-65). Ainda sem repertório original, o quarteto interpreta temas clássicos, sobretudo à volta de Coltrane.

Perante um pequeno auditório esgotado, o quarteto arrancou o concerto de dia 28 numa toada mansa, explanando tranquilamente as características que definem o seu som: o saxofone expansivo de Toscano, o piano atento de Coelho, o contrabaixo preciso de Tristão e a bateria enérgica de Pereira. Só ao segundo tema, “The Sorcerer”, original de Herbie Hancock, é que o quarteto aqueceu e Toscano exibiu o primeiro solo digno de registo, com aquela intensidade que lhe conhecemos.

Não faltaram as baladas e a banda fez-se a temas lentos como “Soul Eyes” (a pedido de alguém que estava presente entre o público) e “I want to talk about you”. Este último incluiu um belo solo do contrabaixo de Romeu Tristão, que aqui mostrou a sua vasta musicalidade, além da impecável marcação rítmica. Menos imaginativo esteve o piano que, apesar de resolver com eficácia a função harmónica, acabou por ser o elemento menos interessante a solar.

Se a qualidade instrumental de Toscano já não era surpresa, na Culturgest cumpriu com distinção, não apenas pela qualidade dos solos, mas pelo equilíbrio com que pontuou a actuação - não se expondo em demasiado, abrindo espaço aos outros. Maior surpresa terá sido o baterista João Pereira, que apesar da juventude mostrou uma qualidade muito acima da média, sendo um verdadeiro propulsor da música do quarteto.

Para o final ficou guardada a interpretação de “Transition”, de Coltrane. Atacado pelo grupo com toda a força, com Toscano a dar tudo, foi nesse último tema expresso todo o seu brilhantismo. O grupo regressaria ao palco para o encore, fechando assim uma noite consagrada. O presente e o futuro do jazz nacional passam, necessariamente, por aqui.
· 03 Dez 2015 · 00:07 ·
Nuno Catarino
nunocatarino@gmail.com

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