Zola Jesus
Musicbox, Lisboa
3- Nov 2015
Longe vão os tempos em que Zola Jesus era a nova menina bonita da música industrial do século XXI, uma princesa de charme gótico e ruído, muito ruído, a fazer de coroa. The Spoils, o primeiro álbum, era sobretudo isto, antes de Zola se entregar de corpo e alma à pop - uma pop estranha e operática, de cariz electrónico, mas pop ainda assim. Perante um Musicbox praticamente cheio, foi esta a sua faceta que mais escutámos, num concerto pautado pelo equilíbrio.

Um equilíbrio que tem o seu centro no próprio corpo da artista, que corre de um lado ao outro do palco, que dança de forma estranha e imperial como se o mundo estivesse contido naqueles metros quadrados; e um equilíbrio cujos ramos se estendem ao som, com canções que não fugiram muito à regra durante hora e pouco de espectáculo. Logo a abrir, o drum n' bass de "Taiga" mostrou aquilo ao qual Zola vinha. E daí partiu para cima de uma das colunas, para o meio do público, para os braços das adolescentes e para uma versão extraordinária de "Nail", sem microfone à boca.

A voz é tudo. O sopro ajudou, conferindo nova carne às canções dos seus últimos discos. E ainda que daqui não possamos apontar defeitos, nem ao concerto em si, o facto é que Zola Jesus é muito mais interessante quando deambula por terrenos lo-fi - mas é compreensível que os muitos ali presentes tenham saído inteiramente satisfeitos. Num live com esta toada, faltou "Stridulum", a melhor canção da norte-americana dentro deste género muito próprio. Já vimos dela muito melhor, mas Zola será sempre Zola.
· 05 Nov 2015 · 18:42 ·
Paulo Cecílio
pauloandrececilio@gmail.com