OUT.FEST 2015
Barreiro
8-11 Out 2015
Dia Dois

O Out.Fest ergue-se orgulhosamente no Barreiro, produto da cidade e bandeira da mesma, um sol nascente no meio das fábricas e chaminés que adornam o céu de cinzento; para a segunda noite, que tinha à dianteira os históricos AMM, o Museu da Indústria encheu-se de curiosos e conhecedores que absorveram, no mais profundo silêncio (salvo uma ou outra tosse chata) todos os momentos da inquietante performance de Eddie Prévost e John Tilbury, um piano murmurante aliado à condição de serra eléctrica que emanava de um gongo que, ora por ora, era raspado com um arco. Cinquenta minutos, cinquenta anos de história a desabar sobre a cidade, marcados por momentos de verdadeiro assombro - especialmente quando o som se eleva, quando a percussão é martelada, quando os dedos do pianista navegam pelo instrumento à procura do momento certo. Gigante, pois claro.

No meio, um quarteto formado por David Maranha, Helena Espvall, Ricardo Jacinto e Norberto Lobo fez os possíveis para cortar a relação do público para com o passado e apresentar, ao vivo e a cores, aquilo que constituirá o futuro, trazendo até ao Barreiro uma espécie de folk psicadélica não muito dissimilar do trabalho da sueca nos Espers, uns Spacemen 4 a transbordar pelo Museu inteiro até desembocarem, lentamente, num agradável ruído espacial fruto da comunhão. Ao início, confessámos algumas dúvidas em relação ao que daqui poderia ter saído; no final, ficámos agradavelmente surpresos.

Findou o segundo dia com uma aparição do finlandês Vladislav Delay, que veio até Portugal com Visa [2014] na bagagem, calças de fato-de-treino nas pernas e uma belíssima wifebeater a adornar-lhe o tronco, devolvendo quantidades maciças de ambiente noise pontuado com ritmo como se este fora um concerto de EBM (Electronic Bro Music); a música era sempre melhor quando uma enorme vaga de caos se abatia sobre as cabeças dos presentes, enveredando por caminhos que lembravam um certo trance em regime industrial, quais Tangerine Dream circa Phaedra apanhados por um redemoinho, e era sempre pior quando apresentada em solavanco, fazendo-nos crer por vários momentos que iria findar por ali, antes de voltar à carga numa série de breakdowns que, em última instância, mais não fizeram que foder-nos a paciência. Mas nota positiva, ainda assim. Paulo Cecílio
· 22 Out 2015 · 01:51 ·
António M. Silva e Paulo Cecílio

Parceiros