Monkey Plot
Desterro, Lisboa
06- Out 2015
O escriba caminha em passo acelerado pelo Martim Moniz, batendo o relógio em cima da hora do concerto, quando uma voz feminina o chama do outro lado da rua: Cecílio, Cecílio, olá! A miopia não lhe permite discernir sobre quem se tratará - e bem tentou sabê-lo recorrendo a essa agência de espionagem intitulada Facebook - mas fica desde já expresso o pedido de desculpas. O escriba caminha, então, rumo ao Desterro, espaço que tem conquistado, nos últimos meses, um lugar no coração de quem ainda se preocupa em sair à noite e testemunhar um concerto fora dos moldes e da ditadura do pop/rock. Nesta terça, a sala estava entregue aos Monkey Plot, trio norueguês de escola jazz e competência folk - sempre em jeito improvisado -, que editou um belíssimo disco este ano, Angående Omstendigheter Som Ikke Lar Seg Nedtegne (o escriba não o sabe pronunciar, mas tal foi-lhe ensinado em entrevista feita à banda, que aparecerá futuramente nesta nobre webzine).
Anunciado quase à última da hora, não era de esperar que o Desterro (uma bela sala, frisemos: uma bela sala) se enchesse, ainda para mais quando terça não é um dia habitualmente convidativo a copázios. Mas também não esperaríamos ser tão poucos: sete escassas pessoas, todos homens, todos brancos e, muito provavelmente, todos nerds desta coisa chamada música, marcaram presença no concerto dos noruegueses. Se isto é na sua génese triste - todos gostamos que as bandas de que gostamos tenham expressão, que haja mais pessoas a escutá-las e a apreciá-las connosco -, por outro lado retirou toda a pressão que o concerto poderia ter, transformando-o no tipo de espectáculos que têm tudo para ficar para sempre nas memórias de quem lá esteve: um palco claustrofóbico, um omnipresente mofo, seis pessoas sentadas e outra de pé, excluindo os próprios Monkey Plot que, apesar da preocupação lógica que deverão ter tido por encontrarem tão parco público, não o demonstraram ao longo de quarenta minutos, mais coisa ou menos coisa, de uma música rica e belíssima.
O silêncio que fazia ajudava: mergulhamos nesta guitarra, neste contrabaixo, nesta bateria que solta um ritmo pica-pau, nesta ideia de folk que não o é bem, é algo completamente diferente, impossível de categorizar sem cedermos à tentação se escrever, simplesmente, improv - que é, aliás, o rótulo que os Monkey Plot preferem. Uma música com uma qualidade incrivelmente infantil, pela sua simplicidade, pela alegria que transmite, macacadas à vez: dirigimos o foco de atenção para cada qual, e percebemos a importância que o "espaço" tem nesta música, como se cada um tocasse para si e os outros se limitassem a ajudá-los. Quando metem velocidade, e isso só aconteceu por uma vez, são melhores que o melhor rock; um género que, quando muda as nossas vidas, é porque é oriundo do osso e não da conta bancária. Éramos só sete e saímos de lá de coração mais cheio que o mundo.
Anunciado quase à última da hora, não era de esperar que o Desterro (uma bela sala, frisemos: uma bela sala) se enchesse, ainda para mais quando terça não é um dia habitualmente convidativo a copázios. Mas também não esperaríamos ser tão poucos: sete escassas pessoas, todos homens, todos brancos e, muito provavelmente, todos nerds desta coisa chamada música, marcaram presença no concerto dos noruegueses. Se isto é na sua génese triste - todos gostamos que as bandas de que gostamos tenham expressão, que haja mais pessoas a escutá-las e a apreciá-las connosco -, por outro lado retirou toda a pressão que o concerto poderia ter, transformando-o no tipo de espectáculos que têm tudo para ficar para sempre nas memórias de quem lá esteve: um palco claustrofóbico, um omnipresente mofo, seis pessoas sentadas e outra de pé, excluindo os próprios Monkey Plot que, apesar da preocupação lógica que deverão ter tido por encontrarem tão parco público, não o demonstraram ao longo de quarenta minutos, mais coisa ou menos coisa, de uma música rica e belíssima.
O silêncio que fazia ajudava: mergulhamos nesta guitarra, neste contrabaixo, nesta bateria que solta um ritmo pica-pau, nesta ideia de folk que não o é bem, é algo completamente diferente, impossível de categorizar sem cedermos à tentação se escrever, simplesmente, improv - que é, aliás, o rótulo que os Monkey Plot preferem. Uma música com uma qualidade incrivelmente infantil, pela sua simplicidade, pela alegria que transmite, macacadas à vez: dirigimos o foco de atenção para cada qual, e percebemos a importância que o "espaço" tem nesta música, como se cada um tocasse para si e os outros se limitassem a ajudá-los. Quando metem velocidade, e isso só aconteceu por uma vez, são melhores que o melhor rock; um género que, quando muda as nossas vidas, é porque é oriundo do osso e não da conta bancária. Éramos só sete e saímos de lá de coração mais cheio que o mundo.
· 07 Out 2015 · 14:54 ·
Paulo CecĂliopauloandrececilio@gmail.com
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